Alimentos orgânicos: onde encontrar os verdadeiros?
O consumo consciente na alimentação diária pode ser a escolha certa para garantir qualidade de vida e melhorar a sustentabilidade do planeta
De onde vem os alimentos que consumimos no dia a dia? Essa é uma pergunta que poucas pessoas fazem. Entretanto, é um importante questionamento quando o assunto é saúde e sustentabilidade. Optar pelo consumo de alimentos orgânicos é uma boa decisão, pois além de serem mais nutritivos e saborosos, incentiva a renda de pequenos produtores.
Apesar de cerca de 15% da população urbana consumir alimentos orgânicos, segundo dados do Conselho Brasileiro de Produção Orgânica e Sustentável (Organis), encontrá-los ainda não é tarefa fácil. E foi pensando em possibilitar à população de São Leopoldo a oportunidade de consumir orgânicos, que foi lançada, em 2016, a Ecofeira Unisinos.
Com os produtos expostos no corredor central da Unisinos em São Leopoldo, o projeto conta toda semana com a participação do agricultor Francisco Klein, 64 anos. Em sua banca, ele oferece frutas, verduras, temperos e hortaliças frescas que são cultivadas no sítio de três hectares da família, localizado no bairro Campestre, em São Leopoldo. “Eu vendo meus produtos há dez anos, mas a gente começou a plantar para o consumo próprio. Na época vendíamos queijo, aí o pessoal começou a pedir frutas e verduras e começando a vender”, relembra Francisco.
Outra agricultora que expõe seus produtos é Camila Kauer, que vende pães, cucas, biscoitos e bolos. Para ela, a Ecofeira estabelece um conhecimento sobre o que estamos consumindo. “A gente tem uma relação de confiança com os clientes, eles compram porque sabem que é um produto fresco, que foi preparado para ser vendido aqui e não é como um produto do mercado que está ali há dias ou semanas na prateleira e tu nem sabe como foi produzido.”
Atualmente a Ecofeira Unisinos tem a participação de três agricultores, além de projetos da universidade. O espaço estreita relações entre agricultura, produtor, meio-ambiente e consumidor, como explica Gelson Luiz Fiorentin, membro da equipe organizadora da Ecofeira. “Esse é um espaço que desperta o interesse dos frequentadores e proporciona um ambiente de informação e formação, incentivando assim o consumo consciente.” O projeto é resultado da união entre entre a Unisinos, produtores agroecológicos da região e entidades parceiras, como a EMATER.
Consumo vai além da alimentação saudável
As feiras agroecológicas ou orgânicas têm se popularizado na região sul como uma das alternativas para quem busca uma alimentação mais saudável. A particularidade delas está no fato de que os produtos comercializados são produzidos sem o uso de agrotóxicos e são os próprios agricultores que vendem a produção. Ou seja, são alimentos mais nutritivos e que movimentam a renda familiar.
Além disso, projetos como a Ecofeira Unisinos acabam sendo espaços não só de consumo, mas também de troca de experiências através das oficinas e atividades culturais que acontecem de forma paralela à comercialização.
Os produtores se preocupam com os alimentos que chegam ao prato do consumidor, e esse cuidado vai desde a produção até a venda. A cadeia produtiva, que vai do plantio ao consumo, é feita de forma a evitar danos ao meio ambiente, gerando alimentos mais saudáveis e de maneira sustentável. Cristiane Rodrigues, relações públicas da Agência de Comunicação da Unisinos, frequenta a Ecofeira Unisinos desde o início e afirma que o consumo de alimentos orgânicos mudou sua rotina alimentar. “Minha família não tem mais aquela atração pelos corredores de industrializados do mercado, a gente prefere ir na feira e ver quais as variedades têm no dia.” Umas das vantagens do consumo de orgânicos, como destaca a professora do curso de Nutrição da Unisinos, Signorá Konrad, é o fato de que não se encontra os mesmos produtos sempre, já que existem frutas e verduras de cada estação.
Qualidade dos produtos assegurada por selo e cadastro
Alimentos cultivados de forma orgânica são mais saborosos e possuem aroma mais intenso. Isso acontece porque não há o uso de agrotóxicos ou produtos químicos durante a produção. Segundo Signorá Konrad, deve-se preferir alimentos locais ou regionais, da época e minimamente processados na sua grande maioria.
A qualidade do produto orgânico nas feiras é assegurada pelo documento de Declaração de Cadastro, que demostra se o produtor está cadastrado junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Já os produtos comercializados em mercados, sejam nacionais ou importados, devem ser assegurados pelo selo SisOrg de certificação, que é fornecido por um Organismo da Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC) credenciado junto ao MAPA. Ter a certificação permite que o produtor comercialize seus produtos para supermercados, lojas, restaurantes e hotéis. O selo é uma garantia que o consumidor vai adquirir alimentos saudáveis e livres de contaminações.
O que ainda dificulta o consumo
Apesar de os números estarem em constante aumento com relação ao consumo de orgânicos, o mercado no Brasil ainda enfrenta resistência por parte de alguns consumidores, principalmente pelo fato de que os produtos não têm um preço acessível. Para a consumidora Cristiane Rodrigues, a compra de alguns alimentos se torna inviável. “A gente tenta levar sempre os orgânicos quando vai ao super, mas nas ocasiões em que sai muito mais caro, acabamos levando o alimento industrializado. Entretanto, ainda tentamos optar pelos que são os mais saudáveis.”
Os alimentos convencionais, que procedem da agricultura industrial, exigem o uso crescente de adubos químicos e agrotóxicos durante a produção, como comenta Signorá. “Além dessa questão, são utilizadas máquinas e equipamentos pesados que contaminam e comprometem o solo, os produtos e consequentemente a saúde dos consumidores”, destaca a pesquisadora. Essas substâncias também acabam gerando resíduos nos alimentos que podem provocar diversas doenças como reações alérgicas e problemas respiratórios.
A escolha pela introdução dos orgânicos no cardápio contribui para uma saúde melhor, além da preservação do meio ambiente, como explica a professora . “Consumir alimentos orgânicos é um ato político de dizer sim a vida e a continuidade da mesma, não só humana, mas de todas as espécies que compõem a biodiversidade”.
Ainda segundo a pesquisa do Organis, muitos consumidores alegam a falta de lugares próximos como um dos principais motivos que limitam o aumento desse consumo.
O Mapa de Feiras Orgânicas
Se você não sabe onde fica a feira orgânica mais perto de você, o Mapa de Feiras Orgânicas pode lhe ajudar. A ferramenta de busca foi lançada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), e tem o objetivo de mostrar onde os produtos orgânicos são vendidos em todo o Brasil, além de facilitar a vida do consumidor.
Além das feiras, a ferramenta disponibiliza receitas saudáveis e sustentáveis com alimentos regionais e é atualizada de forma colaborativa, no qual produtores e consumidores podem cadastrar novas feiras e atualizar informações sobre os locais já existentes.
O Mapa de Feiras Orgânicas pode ser acessado pela web ou via aplicativo gratuito disponível na Google Play ou na APP Store. O aplicativo identifica os pontos de venda próximo ao local em que o usuário está no momento e permite traçar rotas até a feira escolhida, além de mostrar os dias e horários de funcionamento.
Serviço:
Ecofeira Unisinos
Onde: Corredor central da Unisinos
Quando: Quartas-feiras, das 10h às 18h.
