Futebol americano sofre com a falta de recursos e patrocinadores
Apesar das dificuldades, esporte vem ganhando proeminência no Rio Grande do Sul
Com Marcelo Janssen
Com o crescimento constante em todo o Brasil, o futebol americano vem ganhando adeptos no país. Caracterizado por ser um esporte de contato físico e disciplina tática, novas equipes estão sendo criadas a partir de influências dos times americanos. O esporte é dividido nas categorias full pad, com equipamento de proteção padrão, no pad, sem proteção, e flag, com menos contato físico.
O amor pelo futebol americano uniu o casal Alemar Ramos e Daniela Lourenço, fundadores do Igrejinha Bears, conhecido como os ursos do Vale do Paranhana. Ale, como é conhecido, comenta que o nome Bears teve origem na representatividade deste animal, que tem como habitat natural as montanhas.
Ex-jogador, Ramos criou a equipe no final do ano passado após se mudar para Igrejinha, o que tornou difícil continuar treinando em Porto Alegre. Durante a carreira ele jogou pelas equipes do Porto Alegre Bulls e pelo extinto Restinga Redskulls. Desde o início do projeto, Ale conta que o clube almeja atletas de todas as categorias. “Eu já deixei claro que quero um time de flag feminino e um time de base. Mas a dificuldade de montarmos estas equipes é a estrutura, pois o pessoal da equipe principal precisa aprender muito ainda, então temos de dar atenção maior para os nossos atletas principais no momento”, explica.
Na seletiva realizada em fevereiro, aproximadamente 38 atletas foram integrados ao time. Destes, cinco são ex-atletas de equipes profissionais. No mês de julho deve acontecer uma nova seletiva que formará o time de flag feminino. A ideia é ir aos poucos formando outras categorias para o Bears. Ramos, que também atua como presidente do clube, planeja ainda formar um time sub-16, além de trabalhar um projeto social para crianças de até sete anos.
O Bears deve continuar treinando antes de realizar seus primeiros amistosos, mas já foi convidado para jogar contra o Tapejara, o Pelotas e até mesmo o Ijuí Drones. “Nosso grande objetivo para 2020 é a disputa da Copa RS, visando o profissionalismo e levar o nome da cidade ao FA Brasileiro. Mas, antes, também é preciso conseguir mais equipamentos. O clube vem organizando eventos beneficentes para poder adquiri-los e poder também se inscrever na federação”, comenta.
Segundo Ramos, a comunidade acolheu o time, mesmo que ainda estranhe o esporte. Além disso, a Secretaria de Esportes do Município tem incentivado a realização dos treinos na cidade, cedendo e realizando a manutenção do campo utilizado pela equipe.
O Futebol Americano no Brasil
No Brasil, o futebol americano chegou em meados dos anos 2000, quando surgiram as primeiras equipes cariocas. A seleção nacional jogou a sua primeira partida apenas em 2007, enquanto que o primeiro jogo na categoria full pads foi disputado apenas em 2008.
De acordo com a Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA), aproximadamente 7 mil atletas atuam em 130 equipes, que disputam campeonatos no país nas categorias full pads e flag. No primeiro estilo, existe uma liga nacional chamada Brasil Bowl, dividida nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul, com 32 equipes e uma divisão de acesso.
Já o Futebol Americano no Rio Grande do Sul ganhou força somente em 2008, quando foi organizado o primeiro campeonato da categoria, vencido pelo Porto Alegre Pumpkinks. O maior campeão do estado é o tradicional Santa Maria Soldiers, que detém cinco títulos.
Santa Maria Soldies e o FA Juventude de Caxias do Sul são conhecidos como os times mais tradicionais do estado. Recentemente decidiram dois dos últimos três campeonatos, nos quais a equipe de Santa Maria levou a melhor. Enquanto o time do Juventude FA é inspirado no tradicional clube de futebol da Serra, os Soldiers, atual tricampeão consecutivo estadual, tem este nome justamente porque suas origens vêm do exército brasileiro.
O que era pra ser uma brincadeira, acabou se tornando uma paixão. Para o assistente de marketing Alexandre Fritsch, ser convocado para uma seletiva do Porto Alegre Gorillas não representava uma grande conquista. “Eu entrei só pela zoeira e não entendia nada sobre o esporte”, revela. O futebol americano não é um esporte fácil, pois requer uma série de estudos e prática para que um jogador possa o dominar. “É bem complicado e até hoje eu vou aprendendo com o esporte”, confessa.
Há dois anos jogando pelo Gorillas, Fritsch atua na defesa pressionando o erro da linha ofensiva e impedindo a corrida dos adversários. Um empecilho em seu futuro no futebol americano era um antigo problema na coluna, que o impedia de praticar certos esportes. Porém, a atividade o ajudou a superar as dores. “Com o treino físico, que é sempre reforçado, eu deixei de sentir o incômodo nas costas e fiquei muito mais leve para o jogo”, relembra.
O Porto Alegre Gorillas está enquadrado na categoria full pad, o que significa que a equipe de Fritsch utiliza os equipamentos necessários de segurança, como capacetes e shoulder, aparelho para proteção dos ombros. Ainda assim, a presença de artigos esportivos não resolve tudo. “A maior dificuldade é ter um local fixo para treino, pois atualmente realizamos os treinos no ESEF da Ufrgs, mas fica caro para a equipe”, relata Alexandre. Além disso, destaca, a falta de patrocinadores também prejudica a manutenção da equipe.
Apesar das dificuldades, programas de incentivo ao esporte mantêm os praticantes animados. É o caso do International Player Pathway Program, que oferece vaga a estrangeiros na NFL e que este ano possibilitou a um brasileiro, Durval Queiroz, jogar pelo Miami Dolphins, clube de elite norte-americano.
Durante três anos, o educador físico e pesquisador Lafaiete Luiz de Oliveira Júnior também esteve envolvido com o esporte. Ele dirigiu o Armada Lions, equipe que atua há mais de dez anos no cenário gaúcho, mas que também sofre com a falta de estrutura. “Não existe um espaço específico para treinos e jogos, realizados sempre em um espaço público ou alugado, o que encarece o esporte”, conta Oliveira.
Quanto ao esporte no Brasil, o educador físico já não vê com olhos de brilhantismo e protagonismo. “Como produto, o futebol americano irá crescer muito, mas como liga nacional, não enxergo um desenvolvimento a longo prazo”, lamenta. Segundo ele, o custo e falta de investimentos prejudicam o esporte. Outro ponto realçado é de que o público que assiste a NFL não é o mesmo público que consome o futebol americano local. “Enquanto a audiência da ESPN aumenta a cada final de Super Bowl, não acredito que as equipes vão passar do nível amador ou semi-profissional”, finaliza.
Segundo informações da Federação Gaúcha de Futebol Americano (FGFA), hoje existem 15 times licenciados na categoria full pads, oito na categoria flag feminino e três no masculino, além da seleção de base sub-19, Os Pampeanos. Também existe a Copa RS e a Copa RS Flag, disputadas por times em ascensão no estado. Na final de 2016, realizada no estádio Beira-Rio, houve um público histórico de aproximadamente 12 mil pessoas, conhecido até hoje como o maior público de futebol americano no Rio Grande do Sul.