Amor pelo futebol vai além do esporte
Colecionadores compartilham histórias por trás de suas camisas de time
Por Júlia Möller e yasmim fernandes borges
O Brasil é conhecido por reunir muitos amantes do futebol, mas há também quem carrega, além do amor pelo esporte, a admiração pelas camisas do clube. Quando o assunto é colecionar, vale camisetas do time do coração, de adversários e, até mesmo, de clubes de fora do país.
O hobby de colecionar camisetas de clubes de futebol também pode se transformar em negócio rentável, como é o caso do Brechó do Futebol. Criada em 2010, a loja localizada na rua Coronel Fernando Machado, em Porto Alegre, é um museu para os amantes do esporte. Lá é possível encontrar camisas de variados times, desde os modelos atuais até os mais antigos.
Ney Martins Neto, gerente da loja, disse que no período pré-Copa do Mundo, a camiseta mais procurada vem sendo a da Seleção Brasileira de 1994. Produzida integralmente na cor amarela, o manto carrega pequenos detalhes em verde escuro na gola e mangas, três símbolos na cor dourada ao centro representando a conquista do tri campeonato, junto às estrelas estampadas no peito. À época, a camisa era assinada pela marca Umbro.
Para o vendedor, as mais bonitas são as primeiras camisetas produzidas pela Nike. “Vai muito da idade de cada um, mas para mim são as [produzidas] em 97 e 98”. Ambas misturam o tom de amarelo e listras verde escuro fazem a divisão da manga e da gola. A principal diferença está no formato do colarinho, que passa de um caimento mais formal de camisa para um recorte mais circular. Camisetas de outros times também fazem sucesso na loja. Ney relata que, além das vestes clássicas da Alemanha, Argentina e Itália, as vestimentas das seleções da Palestina e da Jamaica são muito procuradas pelo público que frequenta o local.
Empresário e contabilista, Flávio Richter, 47 anos, possui um acervo de 250 camisas de times. Sua paixão por colecionar começou em 2005. “Sou colorado e passei a me interessar após a boa campanha do clube no Campeonato Brasileiro daquele ano”. Para ele, as camisas mais especiais em sua coleção vestiram Pelé, em 1973, no Santos, e Mané Garrincha, em 1975, na seleção. Ele também tem especial carinho pela camisa usada pelo meio-campista Alex na final do Campeonato Mundial de Clubes, em 2006, contra o Barcelona. Flávio também é dono da loja Memórias do Esporte e sócio na loja Hall da Fama, que juntas somam cerca de 7.5 mil peças de camisas de time.
Cada camiseta de Flávio carrega uma história afetiva. A camisa do Garrincha, por exemplo, foi usada pelo jogador num amistoso da Seleção Brasileira quando ele não era mais atleta profissional e chegou ao colecionador pelas mãos de um ex-presidente do Botafogo. Já a camiseta do meia Alex pertencia ao ex-jogador Dunga, que a doou para uma igreja e acabou sendo leiloada. “Anos depois descobri o vencedor do leilão e o procurei para comprar”. Como bom colorado, o colecionador busca uma camisa usada no Gre-Nal do Século, em 12 de fevereiro de 1989.
O conferente Tiago Carvalho, 42 anos, também coleciona camisas, mas a maior parte do seu acervo reúne vestimentas do Grêmio, seu time do coração. Ele conta que possui 24 modelos diferentes e que começou a colecionar em 2005, ano em que a equipe gaúcha jogou a Série B do Campeonato Brasileiro. Ele relembra que, quando trabalhava como motorista de táxi, ganhou uma réplica da camisa do tricolor de 1995 de um cliente norte-americano. “Meu cliente tinha uma reunião onde estava o Duda Kroeff, então presidente do Grêmio. Daí ele comentou que o seu motorista era gremista fanático”, recorda.
Ney, Flávio e Tiago são exemplos de colecionadores em meio a um emaranhado de pessoas apaixonadas por futebol. Por trás de toda camisa de time existe uma história, um jogo inesquecível ou a lembrança de um momento em que se viveu com ela. Portanto, não é apenas uma peça de roupa, mas um símbolo que carrega o peso de uma nação apaixonada pelo esporte.