Trabalho voluntário, realizado pela plataforma TransEmpregos, conta com 715 empresas cadastradas. (Foto: nito100/IStock)

Apesar da pandemia, plataforma TransEmpregos prospera

Com 707 vagas preenchidas por pessoas trans, em 2020, projeto desafia o desemprego

Carolina Santos
Redação Beta
Published in
3 min readOct 12, 2021

--

O projeto de empregabilidade de pessoas trans, TransEmpregos, surgiu em 2013 e de lá para cá já são mais de 24 mil usuários cadastrados. A advogada Márcia Rocha, a embaixadora da RME — maior rede de empreendedorismo feminino no Brasil Maite Schneider, a cartunista Laerte Coutinho e a advogada Ana Carolina Borges, foram as responsáveis pela criação da plataforma.

A Beta Redação, por meio do aplicativo WhatsApp, entrevistou Márcia, que explicou o funcionamento do banco de empregos para pessoas trans. A advogada foi a primeira transgênero a ter o direito de usar o nome social na carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Ela lembra da época que iniciaram o projeto: “nós percebíamos que muitas pessoas trans, quando se assumiam, perdiam o emprego e não podiam mais trabalhar”.

Há poucas estatísticas sobre a incidência de trabalhadores entre os grupos LGBTQI+. A não aceitação social, aprofundada pela negligência do Estado em relação a esse grupo social, são algumas das razões. Entre os dados disponíveis, estão os da pesquisa do coletivo Vote LGBT, denominada “Diagnóstico LGBT+ na pandemia”, aponta que “a taxa de desemprego padronizada entre os LGBT+ é de 21,6%. Sendo 3 em cada 10 dos desempregados já estão sem trabalho há 1 ano ou mais”. Em comparação com a taxa geral de desemprego do Brasil, a estatísticas para queers, outra denominação para este público, é bem maior. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego no Brasil está em 14,6% e atinge cerca de 14 milhões de pessoas.

Outro dado revelado pelo estudo do Vote LGBT aponta que “4 em cada 10 das pessoas (40%) LGBT+ e mais da metade das pessoas trans (53,35%) não conseguem sobreviver sem renda por mais de 1 mês caso percam sua fonte financeira hoje”. Ainda, é colocado no relatório que para 14% das pessoas trans alcançadas na pesquisa a maior preocupação na pandemia foi a falta de renda.

A advogada e fundadora o TransEmpregos comentou ainda que uma das motivações para criação da plataforma é que existiam empresas que tinham a vontade de contratar pessoas trans, mas não sabiam onde encontrá-las. Hoje, já são715 empresas cadastradas. E o número de pessoas trans contratadas só cresce. Em 2020 foram 707, um aumento gigantesco se comparado ao ano de 2015, em que somente um transgênero foi contratado.

A pandemia não afetou negativamente a contratação de pessoas do grupo LGBT+

A análise é da fundadora do projeto e tem a ver com o trabalho virtual.“A pandemia possibilitou que pessoas trans lá do Maranhão trabalhem em São Paulo virtualmente”, comenta Márcia.

Quando a questão é recorte de gênero o número de homens trans (47,20%) contratado é muito maior do que de mulheres trans (29%). Márcia explica duas razões para esse fenômeno: homens “quando tomam hormônio masculino ficam muito passáveis, ninguém percebe que é trans”, elucida. Já as mulheres “tem cara de trans, a pessoa olha e sabe que é trans e isso atrapalha um pouco, isso é uma questão quando há preconceito”, complementa a fundadora. O outro motivo é a diferenças de idade em que se assumem, “Os homens trans geralmente têm 18 a 20 anos quando se assumem. Então, eles já têm segundo grau completo, muitas vezes já estão na faculdade”, relata.

A plataforma não se limita a parcela trans, a rede apoia também todo o grupo LGBT+. Além das vagas oferecidas no site, cursos são feitos com as empresas parceiras, sempre almejando o aumento da diversidade nos ambientes de trabalho.

--

--