Aplicativos fitness preocupam profissionais de educação física

Com a promessa de perda de peso e definição muscular, apps de treinos padronizados se tornaram populares nos últimos anos

Laura Pavessi
Redação Beta
4 min readApr 22, 2019

--

Aplicativos fitness conquistam adeptos pela praticidade e por serem gratuitos, mas profissionais alertam para os riscos do uso. (Foto: Pexels em Pixabay)

Para viver um estilo de vida mais saudável, estar inscrito em uma academia nunca foi uma exigência. Se nos anos 80 as fitas de vídeo cassete com aulas de ginástica fizeram sucesso, hoje é possível carregar a rotina de treinos na palma da mão. Os milhares de aplicativos fitness disponíveis para download nos smartphones oferecem o roteiro completo de uma rotina de exercícios disponíveis quando e onde o usuário quiser, sendo que muitos deles podem ser utilizados gratuitamente. Com a crise financeira e a onda crescente de desemprego é possível entender por que algumas pessoas estão trocando as academias por apps fitness..

Segundo estudo conduzido pela empresa alemã Freeletics (que possui um dos aplicativos com essa função), para seguir um estilo de vida saudável cerca de 40% dos brasileiros irão dar preferência a aplicativos de exercícios físicos, ao invés de frequentar academias. O estudo, que recebeu o nome de Mapa Nacional do Impacto da Tecnologia no Esporte e Sedentarismo, entrevistou cerca de duas mil pessoas no Brasil que se identificavam como sedentárias.

A timidez também é um dos motivos pelos quais os apps parecem uma boa opção para quem decide começar a se exercitar, já que permitem que o exercício seja praticado em casa. É o que relata Marcus Vinicius de Lima, que utilizou dois aplicativos durante seis meses, ao longo de 2017. Ele acredita que para quem não está na sua melhor forma física a academia parece um ambiente hostil. “Comecei a usar os apps por indicação de um amigo. Acho que eles funcionam muito bem se a pessoa for regrada e tiver foco. Claro que não se consegue o mesmo resultado de uma academia, pelo menos no mesmo tempo, mas recomendaria o uso mesmo assim”, destaca.

Por outro lado, profissionais relatam os riscos da adoção de treinos sem qualquer supervisão ou avaliação prévia. Segundo o professor do curso de Educação Física da Unisinos, Kleber Brum, para alguns grupos a avaliação é ainda mais importante, a exemplo dos idosos. "Eles não devem iniciar um programa de exercícios sem antes realizar um eletrocardiograma de esforço. Além disso, o diagnóstico serve ainda para determinar o nível de desempenho atual e, com essas informações, o profissional de educação física consegue planejar o treino de forma a respeitar os limites individuais”, explica. Segundo Brum, o profissional é indispensável neste processo, seja para avaliar, planejar ou acompanhar os resultados da atividade física.

Kleber explica que mesmo esportes populares como corridas devem ser orientadas por um profissional, para que a prática seja segura e promova melhorias significativas na aptidão cardiorrespiratória. “Um exemplo são os aplicativos de corrida, que podem informar sobre o comportamento da frequência cardíaca, ritmo, distância percorrida e oscilações de altitude durante o percurso do treino. Ou seja, eles ajudam a quantificar alguns parâmetros importantes para o planejamento e acompanhamento do exercício. Ainda assim, eles não substituem a interação presencial entre corredor e profissional ao menos uma vez por semana”, ressalta.

O professor destaca, no entanto, que a relação entre os aplicativos e a adoção de uma vida mais saudável é uma tendência a ser estudada. O núcleo de Educação Física da Universidade desenvolve, junto ao PPG de Computação Aplicada, um estudo que testa o Appweb, desenvolvido por um doutorando para medir o impacto dos aplicativos nos hábitos alimentares, no nível de atividade física e na composição corporal dos estudantes.

É a combinação de todos esses fatores que influencia no resultado da prática de exercícios, como explica a profissional de Educação Física, Daiane Orlando, que atua na academia Arena, em Novo Hamburgo. Ela afirma que as promessas de emagrecimento ou ganho de massa muscular feitas pelos apps não podem se estender a todas as pessoas, desconsiderando suas particularidades, sem a inclusão de uma reeducação alimentar. “Existem aplicativos que pregam um resultado específico em 'x' dias de prática, mas não levam em consideração o organismo da pessoa, seus hábitos e horários”, adverte. Para pessoas sedentárias, os riscos na utilização dos aplicativos são maiores. “Logo nos primeiros dias podem apresentar sintomas como dores, rigidez muscular e sudorese, e o acompanhamento para variar os estímulos e corrigir a técnica é que evitará lesões, estiramentos e torções”, explica.

Além disso, com exercícios padronizados, não existe como atender a especificidades, como a de pessoas com lesões nas articulações ou coluna, com osteoporose, artrite, tendinite, e também grupos de risco, como obesos, hipertensos ou diabéticos que necessitam cuidados especiais durante a prática de atividades de esforço. “Resumindo, os apps são um incentivo à pratica de exercícios, mas a prescrição ainda pertence somente ao profissional qualificado, assim como a prescrição alimentar pertence apenas à nutricionista: são leis que devem ser respeitadas, não somente pelos anos de estudo, mas pela segurança à saúde do praticante”, garante Daiane.

--

--