As estratégias e os desafios de quem abriu o próprio negócio durante a pandemia

Empreendedores assumem riscos e buscam alternativas em período de incertezas

Mateus Friedrich
Redação Beta
6 min readApr 29, 2021

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Gustavo Flach inaugurou a DMF Studio Live! no início de outubro de 2020. (Foto: Arquivo Pessoal / Gustavo Flach)

No dicionário, o verbo empreender tem como sinônimos tentar, arriscar, por em execução e realizar. Além disso, o empreendedor tem autonomia para utilizar as melhores estratégias e competências para criar algo diferente e com valor, assumindo riscos, principalmente, na questão financeira. Durante a pandemia da Covid-19, começar um novo negócio tornou-se ainda mais desafiador, independente da área ou da condição financeira do profissional.

Prestes a completar 25 anos de idade, Gustavo Flach, que reside em Montenegro, na região metropolitana de Porto Alegre, decidiu arriscar assim que surgiu uma oportunidade de negócio, em meados de julho de 2020, no primeiro pico da pandemia no Estado. Ele ajudava seu pai em uma loja de artigos esportivos e agora gerencia a DMF Studio Live!, loja focada em moda fitness e beachwear na rua Ramiro Barcelos, principal avenida de Montenegro.

Quando surgiu a oportunidade, o jovem empreendedor mergulhou de cabeça na ideia, mesmo em meio à pandemia, e começou a analisar todas os prós e contras de abrir uma loja nesse período. “No início foi bem desafiador. Fomos otimistas de que até a inauguração, no início de outubro, tudo já teria voltado ao normal. Abrimos a loja conscientes da situação em que estávamos, mas acreditando que logo acabaria”, salienta.

Como a situação da pandemia não melhorou no Estado — pelo contrário, piorou consideravelmente em 2021- Gustavo enfrentou dificuldades e teve inúmeros prejuízos nos primeiros meses. “É bem complicado. São muitos prejuízos, desde o consumidor que fica inseguro para sair de casa e automaticamente não compra, ou até mesmo prioriza os insumos básicos, até o problema financeiro, como pagamento de fornecedores, funcionários, aluguel, etc.”, declara.

“A conta nunca para de chegar, e um dia a menos no comércio faz toda diferença, agora imagina 21 dias como foi no mês de março deste ano”, complementa o empreendedor, que tem na equipe três vendedores.

Loja gerenciada pelo jovem empreendedor é focada em moda fitness e beachwear. (Foto: Arquivo Pessoal / Gustavo Flach)

Para minimizar os prejuízos causados pela crise econômica e não sofrer com o ‘abre e fecha’ do comércio (que segue os protocolos do modelo de Distanciamento Controlado), Gustavo buscou alternativas para manter a loja em funcionamento. “Buscamos oferecer várias opções aos clientes, como tele-entrega, tele-busca. Criamos uma opção onde o cliente nos passa uma ideia do que procura e enviamos à casa dele opções para que ele experimente e escolha com calma”, frisa.

Em relação à questão financeira, o jovem afirma que vem buscando reduzir os custos de todas as maneiras. No entanto, o último período em que a loja teve de permanecer fechada por três semanas pegou todos de surpresa. “Temos que estar preparados para um próximo período. Tentamos reduzir, desde contas básicas como água e luz, até renegociação de aluguel durante meses críticos. Nos dias em que precisamos permanecer fechados, o faturamento caiu em 50%, mesmo com todas as alternativas que damos aos nossos clientes”, enfatiza.

Gustavo acredita que o principal desafio do empreendedor durante a pandemia é não perder o otimismo, manter uma boa gestão e oferecer diferenciais para os consumidores. “Penso que quem sobreviver a isso, consegue manter seu negócio por muito tempo. Afinal, nada é pior para o comércio do que estar de portas fechadas”, pontua.

Os diferenciais citados pelo empreendedor montenegrino se referem aos produtos. Como a loja gerenciada por Gustavo é focada em moda fitness e beachwear, sendo uma espécie de franquia da marca Live! (a melhor marca do setor no país), a aposta se dá por uma oportunidade que ele tem plena confiança. “Não víamos nenhuma loja na cidade focada para este público”, argumenta.

A DMF Studio Live! trabalha com peças desde infantil até plus size. Os principais produtos são leggings, blusas, regatas, shorts e tops, além de uma linha sportswear para mais ocasiões.

Casal cria marca própria e improvisa loja em academia

Muitos brasileiros perderam o emprego durante a pandemia, muitas empresas fecharam as portas devido às dificuldades financeiras e a saída, em muitos casos, foi a criatividade e a coragem. Em Montenegro, o casal formado por Bruna Escher e Bruno Roberto dos Santos decidiu criar uma marca própria de roupas esportivas no final de 2020.

Bruna Escher e Bruno Roberto dos Santos decidiram criar uma marca própria no final do ano passado. (Foto: Arquivo Pessoal / Bruna Escher)

Tudo começou quando ela estava de férias no emprego antigo e descobriu que seria demitida assim que retornasse. Então, conversando com o namorado, surgiu a ideia de ter um negócio próprio. Ele topou e logo o casal começou a pensar em nomes, no logotipo, nas peças; chegaram à conclusão que o nome ideal para a marca seria “2B (Bruna e Bruno) | Roupas Esportivas”, e o logotipo ficou do jeito que imaginavam.

Eles abriram a empresa no final de outubro de 2020, mas começaram as vendas somente na semana do Natal. “Decidimos inaugurar assim que as primeiras peças ficassem prontas. Não pensamos muito que a pandemia iria afetar nosso negócio, pois estávamos muito positivos com a ideia de ter uma marca”, ressalta Bruna.

Para dar o “start” no próprio empreendimento, o casal teve um investimento de aproximadamente R$ 10 mil. Quatro meses após o início das vendas, eles já recuperaram todo o valor investido. No entanto, o dinheiro arrecadado é utilizado para adquirir novos produtos. “Não recuperamos nada para nós, somente para investir novamente”, acrescenta a empreendedora.

Os novos empreendedores tiveram a parceria da Academia Corpore, onde Bruno atua como personal trainer há mais tempo. No local, eles improvisaram uma loja, onde realizam praticamente todas as vendas — também comercializam alguns produtos online. “Em março, quando foi necessário fechar a academia e todo o comércio, as nossas vendas também foram bastante afetadas”, lamentam.

A disponibilidade e o atendimento rápido são estratégias do casal para alavancar o negócio nesses primeiros meses. “Estamos trabalhando durante o dia inteiro. Às vezes, das 6h da manhã até as 22h presencialmente na academia. Ainda procuramos responder as pessoas em qualquer horário que nos enviam algo no Instagram ou no WhatsApp. Independente do horário, se eu estiver online, respondo”, frisa Bruna.

Ainda assim, a incerteza que envolve a situação da pandemia é uma questão que preocupa o casal. Para diminuir os riscos, eles estão desenvolvendo um site para não deixar as vendas restritas ao formato presencial. Bruno e Bruna ainda estão se adaptando ao novo ramo e buscando alternativas para tornar a marca uma referência nos próximos anos.

Casal vende as peças em uma loja improvisada dentro de uma academia. (Foto: GIF)

Além da loja improvisada na academia, eles também entregam as roupas na casa dos clientes de Montenegro. A parceria com a Corpore tem sido fundamental para o negócio. “O cliente que tem receio de sair, mas vai à academia, não enfrenta aquelas filas costumeiras no centro para comprar. Com a nossa loja, ele evita ter contato com outras pessoas. Outra vantagem de vender na academia é que, como trabalhamos com roupas esportivas, os clientes já estão ali, então fica bom para todos”, finaliza.

Mais de 900 empresas já foram abertas em Montenegro desde 2020

Montenegro possui aproximadamente 65 mil habitantes. Como aconteceu em todos os lugares do país, a pandemia também mexeu muito com o comércio da cidade. Ao mesmo tempo em que muitas empresas fecharam desde o começo do último ano, outras foram abertas, mesmo em um período tão complicado para a economia.

Os números divulgados pela Secretaria Municipal de Indústria, Comércio e Turismo (Smic) de Montenegro são surpreendentes. Em todo o ano de 2020, foram ativadas 642 empresas na cidade. Por outro lado, 239 empresas foram desativadas, gerando um saldo positivo de 403 no período.

Em 2021, num recorte do início de janeiro até o dia 23 de abril, o saldo também é positivo. Foram 268 empresas abertas e apenas 52 fechadas no município. Em uma comparação com o mesmo período (janeiro a abril) de 2020, mais empresas foram ativadas e menos foram desativadas em 2021. No ano passado, foram 175 empresas abertas e 59 fechadas nesse período. “A secretaria não tem os dados por segmento, então entra todas as empresas, em sua maioria do comércio”, afirma a Smic, em nota.

De janeiro de 2020 até o final de abril de 2021, um total de 910 empresas foram ativadas em Montenegro, enquanto 291 tiveram suas atividades encerradas. A Smic frisa que muitas dessas empresas abertas durante a pandemia são de microempreendedor individual (MEI). “Muitas pessoas que ficaram desempregadas no último ano decidiram abrir uma pequena empresa”, conclui.

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