Gestação durante a pandemia: apoio, vínculo e transformações

Beta Redação volta a falar com o trio de amigas que relatam a importância de desacelerar a rotina diante da experiência de ser mãe

Cristina Bieger
Redação Beta
6 min readNov 3, 2020

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Após a chegada da Lorena, agora é a vez de conhecer Aurora e Harael (Fotos: Ediane (E), Daniela e Stephane (D)/Arquivo pessoal)

A gravidez, que dura em média 40 semanas, é um caminho longo para quem anseia conhecer o filho. O preparo, o carinho e o cuidado que envolvem esse período estabelecem uma ligação emocional entre mãe e bebê. É normal também que medos e incertezas continuem ocupando espaço na vida das gestantes, principalmente por ainda estarmos em meio a uma pandemia e com a proximidade do nascimento. A partir de então, uma nova vida se inicia.

Em setembro, a Beta Redação apresentou a história de três gestantes e amigas do Vale do Caí. Stephane Pereira Correa, de 25 anos, de Bom Princípio, Daniela Schwaickartt, de 25 anos, de São Sebastião do Caí, e Ediane Meier, de 24 anos, da cidade de Vale Real, ainda compartilham a experiência da gestação neste período tão único. Por isso, voltamos a contar mais sobre a história dessas famílias em plena transformação, atravessada por incertezas diante do novo coronavírus.

É preciso desacelerar

As exatas dez semanas de diferença entre cada gestação proporcionou que as amigas pudessem compartilhar experiências e conselhos. Ediane, a primeira a descobrir a gravidez e mãe de Lorena, de dois meses, conta como está a nova realidade. “Nossas vidas estão completamente diferentes, com noites mal dormidas e dias cansativos. Nada disso, jamais vai superar a felicidade que sentimos. A principal mudança foi a rotina, tivemos que nos adaptar aos horários dela,”, comenta.

Para Daniela, que está completando 38 semanas, a expectativa para o nascimento de Aurora é grande. “Estou bem tranquila, percebi que meu corpo pede mais calma para fazer as coisas, não tendo mais o mesmo ritmo que antes da gestação”, explica. Agora, na reta final, as consultas são semanais, com a obstetra e com o acompanhamento do papai, o que não era possível no início por conta da pandemia.

Com quase 28 semanas, Stephane também fala sobre a necessidade de mudar o ritmo. “Eu tenho trabalhado demais, então a barriga tem baixado. Estou sentindo algo parecido com as contrações, e a indicação da médica foi diminuir um pouco o ritmo, mas meus exames estão bem”, explica.

Stephane reforça que os pais devem pensar na necessidade de desacelerar antes de decidirem ter um filho. “Além de tomar a decisão, é preciso saber que por mais forte que você esteja, vai chegar a hora em que o seu bebê e o seu corpo vão querer descansar, querer atenção. Então, permita-se curtir esse momento”, aconselha.

A escolha e a preparação para o parto

A médica obstetra Sharon Reisdöfer indica que a melhor opção para mãe e bebê é o parto normal. "Porém, a mãe tem autonomia para decidir a via de parto, caso não tenha alguma indicação obstétrica”, aconselha a médica. Esta foi a escolha das três gestantes, em parceria com suas especialistas, apesar de não descartarem a cesariana caso necessário, visando sempre a saúde e segurança do bebê.

Lorena nasceu de parto normal dia 31 de agosto (Foto: Ediane Meier/Arquivo pessoal)

“Foi uma experiência única nas nossas vidas, um divisor de águas. Posso dizer que foi muito tranquilo e especial, da forma como esperávamos que acontecesse. Isso só foi possível com muito preparo — físico e emocional — e apoio de uma equipe maravilhosa”, explica Ediane, que conseguiu ter o parto normal. “A escolha foi sempre minha. Desde o início procurei uma médica que respeitasse e apoiasse o protagonismo da mulher no momento de ter um filho”, acrescenta.

Após a escolha pelo parto normal é necessário preparo, como comenta a obstetra Sharon. “A prática de exercícios está associada a uma melhoria dos desfechos da gestação, na medida em que evita o risco de ganho de peso excessivo; reduz a incidência de complicações como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia; diminui os desconfortos como dor na lombar e dor pélvica e previne ou diminui os riscos de incontinência urinária. As práticas mais indicadas são pilates, hidroginástica, dança, caminhadas e musculação. Fisioterapia pélvica e massagem perineal também podem ser opções”, aconselha a médica.

As ainda gestantes Stephane e Daniela comentam sobre os exercícios que vêm praticando. “Tenho o acompanhamento da doula — uma assistente de parto que acompanha a gestante do início até os primeiros meses após o nascimento, prezando pelo bem estar da mulher — , faço yoga e fisioterapia pélvica”, comenta Stephane, que aguarda a chegada de Harael para janeiro. Já Daniela Schwaickartt está fazendo fisioterapia pélvica e consultoria de amamentação. “Acredito que toda informação de um profissional responsável ajuda na preparação e para termos mais confiança. Na gravidez recebemos muitos palpites e dicas, então, ter profissionais perto da gente é muito bom para ter informações concretas”, conclui.

Ensaio das gestantes Daniela (E) e Stephane (D) na espera pelo nascimento da Aurora e Harael (Fotos: Daniela Schwaickartt e Stephane Pereira Correa/Arquivo pessoal)

Cuidados após o parto

Apesar de não haver recomendações diferentes para a gestante durante a pandemia, é importante manter alguns cuidados no pós-parto, principalmente com relação às visitas, o que é destacado por Ediane. “Minha recuperação foi muito tranquila, me senti bem logo nos dias seguintes ao parto. Não tivemos grandes dificuldades com a amamentação e, por conta da pandemia, pude me recuperar tranquilamente sem visitas que sabemos que atrapalham este momento tão delicado para a mamãe e bebê”, revela.

Ediane amamentando a filha Lorena, que já completou dois meses (Foto: Ediane Meier/Arquivo pessoal)

A médica obstetra Sharon também ressalta a importância de se manter os cuidados com higiene e distanciamento nos primeiros meses. “Crianças recém-nascidas são naturalmente mais vulneráveis a doenças e infecções virais, isso porque nessa faixa etária, o sistema imune ainda está em formação. O importante é redobrar os cuidados de higiene e evitar visitas de outras pessoas que não sejam moradores da mesma casa”, explica. Além disso, manter bons hábitos que auxiliam na imunidade, como alimentação saudável, sono e atividade física são importantes.

Trocas de informação e apoio continuam

A gestação, que foi uma construção conjunta entre os três casais, criou um vínculo maior entre as mamães, com ajuda mútua e transmissão de experiências entre elas. “Como eu fui a primeira a passar pela experiência do parto acabei descrevendo para elas todos os detalhes. Continua sendo muito especial esta troca com as meninas, pudemos viver cada momento que uma gestação nos traz, triplamente. Agora seguimos ansiosos pela vinda da Aurora e do Harael, o que certamente vai gerar muitas conversas sobre estas novas experiências”, destaca Ediane.

Para Daniela, esse compartilhamento gera confiança para as fases que ainda estão por vir. “Falamos sobre nossas experiências únicas e nos ajudamos a superar cada desafio de forma individual. Esse laço dá uma força enorme”, conclui.

As amigas em um dos momentos de conversa e troca de experiências (Foto: Stephane Pereira Correa/Arquivo pessoal)

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