Aumenta o número de mulheres habilitadas no Brasil: entenda o impacto no trânsito

Dados do Denatran apontam que o público feminino chega a 35% do total de habilitações válidas no país

Jordana Fioravanti
Redação Beta
5 min readNov 24, 2021

--

O Detran/RS dá dicas para mulheres em processo de habilitação. (Foto: Renateko/Pixabay).

Cada vez mais as mulheres potencializam seus espaços nos mais variados meios, isso não é diferente quando o assunto se trata da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). No Brasil, o número de mulheres habilitadas subiu 2,5% de 2013 até 2020, o que representa um total de 35% das CNHs válidas em território nacional. Os dados são de estudo divulgado em março deste ano, pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego — Abramet, com base em dados do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN). Mas, qual o impacto de todo esse crescimento, afinal? Para sanar essa dúvida a reportagem buscou representantes da Abramet e do Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul (DetranRS).

Das 25,8 milhões de condutoras que dirigem no país, 6,8 milhões também tem habilitação para dirigir motocicletas. Apesar do número alto, essa estatística de crescimento não se repete quando se fala de segurança no trânsito: segundo dados do Ministério da Saúde a quantidade de sinistros/acidentes automotivos entre mulheres é inferior, uma vez que aponta que os casos fatais, em 82% das vezes, deixam como vítimas pessoas do gênero masculino.

O impacto

Áquilla Couto, 30 anos, da Abramet, explica o impacto desse aumento no diário fluxo das vias públicas. O médico especialista em medicina do tráfego, Diretor do comitê de Micromobilidades e do Médico Jovem, preceptor da residência médica e doutorando da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), conta que a Abramet entende e reconhece, através de números, que as mulheres se envolvem em menos comportamentos de risco. “Isso garante menor exposição ao sinistro de trânsito se comparado ao gênero masculino. Aceleradas e freadas, uso de dispositivos eletrônicos, do cinto de segurança e o correto posicionamento da criança no carro por meio de dispositivos de retenção (cadeirinhas) confere menos risco para sinistros”. Ele ainda pontua o menor número de pausas na direção que, por consequência, assegura uma trafegabilidade mais contínua.

O que é medicina de tráfego

Trata-se da ciência médica responsável pela manutenção do bem-estar tanto físico, quanto social ou psíquico de quem se locomove, independentemente do meio de transporte. "Também abrange a interação entre os deslocamentos com o ser humano, prezando pelo equilíbrio ecológico", explica Couto.

Tudo isso para estudar os acidentes ligados ao tráfego, visando a prevenção ou redução das consequências que podem ser causadas. A medicina de tráfego ainda contribui tecnicamente na construção do ordenamento legal no que diz respeito à condição de circulação viária e conduta dos que transitam.

Quarto estado com mais motoristas mulheres

Com 1,7 milhão de condutoras, o Rio Grande do Sul se coloca como o quarto estado do país com mais mulheres habilitadas. Fica atrás apenas de São Paulo (8,8 milhões), de Minas Gerais (2,5 milhões), do Paraná (1,9 milhão) e do Rio de Janeiro (1,8 milhão).

Público jovem não é o principal

Pelo levantamento da Abramet, as faixas etárias que se sobressaem são dos grupos: dos 31 até os 40 anos, que acumulam 7,5 milhões de carteiras; dos 41 até os 50 anos, com 5,5 milhões de carteiras; e dos 51 até os 70, que somados totalizam 5,6 milhões de motoristas.

Foto: Rodnae Productions/Pexels

Informações úteis para condutoras

Contatado pela Reportagem, a assessoria do Detran/RS deu algumas orientações sobre o processo da primeira habilitação:

Pode trocar de instrutor?

“Sim, a qualquer tempo durante o seu processo o candidato pode realizar troca de instrutor e/ou de CFC (Centro de Formação de Condutores) dentro de seu município. Todavia, cada CFC possui uma organização e previsão, que identifica como melhor estratégia, a qual deve ficar clara ao candidato quando abre seu serviço de habilitação.”

Como proceder caso a mulher se sinta constrangida ou assediada durante as aulas de habilitação? A denúncia deve ser feita no próprio CFC?

“Situações de assédio, devem ser tratadas como previsto legalmente, com denúncia às esferas policiais/criminais. Os Diretores dos CFCs também devem ser informados e a denúncia registrada junto ao Detran/RS para fins de análise do caso para tramites de processo administrativo. Ademais, o cidadão tem acesso a central de ouvidoria da Autarquia para qualquer tipo de reclamação e/ou denúncia no site do Detran/RS.”

Existe alguma particularidade nas instruções para mulheres gestantes?

“Especificamente em relação às gestantes, há a seguinte orientação aos CFCs: “A gestação não é motivo de limitação para as atividades rotineiras, contudo, é inegável que com o avanço da idade gestacional ocorram algumas limitações nos movimentos em virtude do volume e peso da barriga. Esta limitação poderá ocasionar prejuízo ao desenvolvimento de certas habilidades para dirigir que exigem ampla movimentação como manobras, balizamento, estacionamento e condução sob condições adversas. A existência de enjoos e tonturas, comuns ao período também podem ser elementos a serem considerados como facilitadores de acidentes. O Código de Trânsito Brasileiro não proíbe a condução pela gestante, porém, identifica como Infração: Art. 252. Dirigir o veículo: III — com incapacidade física ou mental temporária que comprometa a segurança do trânsito; IV — usando calçado que não se firme nos pés ou que comprometa a utilização dos pedais; Os fatores limitadores da movimentação da gestante podem ser identificados como geradores de incapacidade física temporária e os pés inchados levam ao uso de calçados mais abertos.

Alguns cuidados que o instrutor deverá ter com a condutora gestante:

— Caso a aluna gestante sinta tontura, dor, enjoo ou qualquer outro desconforto, o ideal é estacionar o veículo em lugar seguro e esperar a sensação passar ou encerrar a aula neste dia.

— Verifique a altura ideal do cinto. A Abramet possui um manual específico sobre o assunto.

— Pés inchados também podem diminuir a sensibilidade ao pisar nos pedais e comprometer o uso de calçados fechados (Art. 252, IV do CTB).

— As primeiras aulas práticas proporcionam a interação inicial entre a aluna e o veículo, neste momento, é comum que ocorram freadas bruscas ou solavancos que podem causar desconforto e até mesmo risco à gestação. Nesse caso é importante que o médico que acompanha a gestante em seu pré-natal a oriente sobre.”

A discussão de Gênero no Detran

Ainda conforme a assessoria todo o processo de primeira habilitação, atualização ou reciclagem de condutores segue a estrutura curricular prevista na Resolução Contran nº 789/2020, na qual não há distinção de orientações específicas em relação ao gênero dos candidatos. Atualmente, a noção de gênero “encontra-se sob grande debate, e alarga-se para um visão não-binária, problematizando-se as dicotomias homem/mulher, masculino/feminino”.

--

--