Bambu, o aço verde das construções

O uso da herbácea reduz os impactos ambientais e propicia o desenvolvimento sustentável

Fernanda Romão
Redação Beta
5 min readOct 5, 2021

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O bambu é cada vez mais utilizado para conter a deterioração do meio ambiente. (Foto: Victor Camilo/Flickr)

Alta resistência, leveza, firmeza, flexibilidade, fácil manuseio. Essas são algumas das qualidades do bambu — uma planta da família das gramíneas. Também, conhecido por ser uma herbácea gigante e lenhosa, o uso do bambu se destaca como alternativa consciente para o desenvolvimento sustentável na construção civil. Ele possui velocidade de crescimento maior que qualquer espécie florestal. Além de ser um dos caminhos para reduzir a degradação da natureza e diminuir os impactos ambientais causados por ações poluentes dos seres humanos.

A utilização dessa planta surgiu na Ásia. Os engenheiros civis Marcus Vinícius e Thiago Henrique, em artigo acadêmico, revelam que a China possui a maior tradição no uso de bambu, tanto em construções como em objetos. Inclusive, o vegetal é retratado em diversas formas na arte chinesa. Na América do Sul, ele é aproveitado em construções na Colômbia, no Peru e no Equador. Mas atualmente o gênero da planta apresenta uma ampla variedade de espécies — são mais de mil espalhadas pelo mundo. Já no Brasil, a herbácea gigante, que chegou por meio dos colonizadores, alcança 200 variedades pelo solo brasileiro, entre nativas e exóticas.

Cada tipo possui colmo (caule) com altura, diâmetro, espessura das paredes e crescimentos diferentes um do outro. Por ser uma planta de clima tropical úmido, ela se adaptou às características climáticas brasileiras. As espécies de Bambu Gradua e de Bambu Gigante são as mais utilizadas na construção civil. No Sul do país, os mais comuns são o Bambu Cana da Índia e a Taquara, por serem mais resistentes ao frio.

Os bambus são divididos em alastrantes e entouceirantes. Os primeiros têm menos amidos e ficam espalhados entre si. Enquanto os entouceirantes são moitas que não permitem a passagem entre os caules. A lua minguante é a fase certa para a colheita, mas não basta que ele seja coletado no momento mais apropriado. Também é necessário o cuidado contra insetos, como a broca e o besouro-tigre — atraídos pelo amido que a planta possui como fonte de energia para a formação de novos brotos. Uma forma de retirar o amido do colmo é realizando a cura, um processo de queima com maçarico no sentido da fibra da planta. Após esse procedimento, o bambu está pronto para uso.

A velocidade do crescimento do broto do bambu mossô, em cinco dias. (Foto: Joana Kirst Adami/Arquivo Pessoal)

Aço verde da construção civil

Os colmos (caules)do bambu crescem do solo com diâmetro e quantidade de nós definidos. No decorrer de um ano, a planta atinge sua altura ideal. Após esse período, a resistência dos caules amplia gradativamente. A firmeza máxima é atingida com três anos. A partir de então, a alta resistência aos esforços de tração, compressão, flexão e torção propiciam a utilização do material na construção civil. Por isso, é nesse momento que ele é considerado o aço verde das edificações, reformas, restaurações e melhorias no setor.

Estrutura de casa construída em Santa Maria do Herval com o bambu gigante. (Foto: Joana Kirst Adami/Arquivo Pessoal)

Apesar de todos os benefícios para o meio ambiente, o bambu ainda encontra resistência quanto ao seu uso em construções. Estudos publicados na Revista Principia, apontam a ausência de normas técnicas para a utilização do produto sustentável e a carência de mão de obra treinada no manuseio da planta que fazem com que o bambu não alcance todo o potencial como material renovável. Pontes, pavilhões e geodésicas são exemplos de construções que já fizeram uso do vegetal, tanto na forma roliça, como em ripas ou laminados para revestimentos.

Pavilhão estalactite em bambu na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2018. (Foto: Trevor Patt/Flickr)

Joana Kirst Adami é bambuzeira. Formada em Educação Física, seu trabalho reúne vivência corporal e arte. A aproximação com o bambu ocorreu em 2011, em uma feira latino-americana que acontecia em Porto Alegre. A pirâmide de mais de 2 metros feita da planta e construída para realizar movimentos corporais chamou a atenção da personal trainer. “Foi neste momento que o bambu não saiu mais da minha vida” afirma Joana. Naquele dia, ela descobriu o Sistema Integral Bambu. Uma prática criada em Brasília pelo professor Marcelo Rio Branco, atividade física que é 100% brasileira e que utiliza as pirâmides de bambu como uma extensão do corpo para fazer exercícios físicos.

Treino guiado em pirâmide de bambu do Sistema Integral Bambu, no espaço Meme Cultural. (Foto: Joana Kirst Adami/Arquivo Pessoal)

“Hoje moro em Santa Maria do Herval, num sítio coletivo com cinco amigues, fiz vários cursos, fui para Brasília aprender [Sistema Integral Bambu], sou uma pesquisadora autodidata e passei a ministrar oficinas, realizar construções e fabricar produtos com bambu”, conta a bambuzeira.

A educadora tem três espécies plantadas no sítio em que mora. Sendo, uma delas, o bambu mossô, que é conhecido como bambu gigante devido ao seu crescimento. É surpreendente a rapidez do desenvolvimento da planta que, em cinco dias, cresce em torno de 10 centímetros. A personal trainer é uma entusiasta da espécie rizomática: “rizoma é como um tapete, cria uma rede no solo, segura erosão, é maravilhoso!”, explica.

Joana utiliza o bambu em trabalhos manuais e em estruturas de construções, mesclando sua produção artesanal. “Tudo na vida pode ser feito com bambu: os talheres para comer o próprio bambu, roupa com a fibra, a estrutura da casa… ele é completo”, finaliza. Ela acredita na força do vegetal como instrumento de transformação do meio ambiente e do ser humano.

Joana na geodésica construída por ela para a Universidade Federal de Santa Maria. (Foto: Joana Kirst Adami/Arquivo Pessoal)

Para saber mais sobre o bambu

· Livro “Bambu de corpo e alma”, de Marco A. Pereira e Antonio L. Beraldo

· @joana_projetorizoma

· @integralbambubrasilia

· @artbikebamboo

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