Bambu permite a produção de bicicletas sustentáveis e personalizadas

A Art Bike Bamboo, comandada pelo artesão Klaus Volkmann, oferece oficinas que ensinam a construir o próprio meio de transporte

Carolina Santos
Redação Beta
5 min readApr 12, 2022

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As bicicletas de bambu passam por um longo processo até tomarem forma. Foto mostra uma bicicleta no modelo speed. (Foto: Klaus Volkmann/Arquivo Pessoal)

Que o bambu é extremamente versátil, forte, leve e com um acabamento lindo, a Beta Redação já te mostrou na matéria: “Bambu, o aço verde das construções”. Agora, que esse material também pode ser utilizado para construir bicicletas, isso sim é novidade.

As bicicletas feitas de bambu vêm se popularizando e chamam a atenção nas ruas. A diferença estética, nada sútil, é o que mais se destaca. Artesão há 16 anos, Klaus Volkmann é professor na Art Bike Bamboo, oficina onde ensina a prática de “esculpir” bicicletas de bambu. “Fui desbravando. Não tinha ninguém no Brasil fazendo bicicleta de bambu naquela época”, afirma.

Klaus explica diversos modelos podem ser construídos a partir do manuseio do bambu: bicicleta reclinada, bicicleta elétrica, patinete, bicicletas do tipo speed, mountain bike, chopper e híbrida. Enfim, a imaginação é o limite. Além disso, o meio de transporte é feito sob medida, prezando pelo conforto do ciclista.

Participantes do curso da Art Bike Bambu, de 2020, com os quadros montados durante a oficina. (Foto: Marcelo Curia/Arquivo Pessoal)

O processo de construção das bicicletas inicia com a colheita do bambu. Conforme Klaus, "é importante colher na lua minguante, quando tem menos atração da gravidade da lua e do sol sobre a terra e as plantas em geral estão com mais atividade nas raízes”. Segundo o artesão, outros fatores influenciam a colheita do bambu. “Se chover muito, aí não não adianta, pois o bambu vai estar cheio de água e vai ser ruim de colher”, explica.

Para a fabricação das bicicletas é preciso escolher o bambu bem maduro, com até três anos de idade. Para descobrir isso, segundo Klaus, é necessário procurar por machucados cicatrizados na planta, o que demostra que ela já viveu o suficiente. “A gente busca por marcas de vida que indicam a idade do bambu. Outra maneira, também, é bater no bambu com a parte de trás de uma faca ou com algum objeto de metal para ver se produz um som bem seco. Isso indica que a madeira é bem densa”, argumenta o artesão.

Depois da colheita vem o tratamento, quando o bambu fica por um tempo no vapor. Depois de alguns meses, passa para o “tratamento de fogo”. Após esses procedimentos, já se pode produzir uma bicicleta. “O bambu tem que estar bem estabilizado. Não adianta fazer a bicicleta com o bambu meio verde, que vai apodrecer dentro da resina”, ensina Klaus.

O processo manual vai se desenhando em etapas. Furos são feitos para encaixar todas as partes do quadro, banhado em resina e lixado várias vezes. O “gabarito” é a estrutura que reúne as peças de metal e os bambus, servindo como referência para garantir o ângulo correto de encaixe de todas as peças. Ele é feito a partir do design de cada bicicleta e o valor é de 1.050 reais.

"Gabarito" assegura a correta posição das peças que estruturam as bicicletas de bambu e madeira. (Foto: Klaus Volkmann/Arquivo Pessoal)

Guilherme Prates é um amante de esportes. Ele pratica boxe olímpico e está sempre treinando, se exercitando, pedalando e correndo. Atualmente, trabalha como artesão de bicicletas, mas também explora as múltiplas possibilidades do bambu para a produção de artesanatos, criando filtros dos sonhos e fontes de água. Com o tempo, pretende também utilizar o bambu para fabricar móveis. Guilherme foi aluno de Klaus, em janeiro de 2020.

Ele criou sua speed a partir dos aprendizados adquiridos durante o curso. “Foi uma imersão muito proveitosa, que gerou trocas de conhecimentos, trabalho em equipe e vivência”, lembra Guilherme. Em janeiro de 2021, começou a construir o quadro da sua bicicleta com o bambu Cana da Índia, já que “este material é mais leve, tem pouco amido, bastante flexibilidade e resistência”, explica.

A speed de Guilherme foi construída com o bambu Cana da Índia, mais flexível e resistente. (Guilherme Prates/Arquivo Pessoal)

Para Guilherme, esse tipo de transporte oferece muitos benefícios, pois as bicicletas artesanais são totalmente ecológicas, produzidas sob medida e únicas no mundo, além de confortáveis, leves e resistentes. "Tenho minha bike há cerca de 1 ano e 2 meses. Mas existem bicicletas de bambu com mais de 10 anos e intactas. É trabalhoso, mas no final tudo vale a pena. Amo ser artesão e quero fazer arte a vida toda”, afirma.

Hugo Curso, 16 anos, também participou da oficina promovida por Klaus em 2020. Ele ganhou o curso de presente do pai e conta que “foi uma experiência muito legal, umas das melhores da minha vida”. Hugo construiu a bicicleta no modelo chopper e calcula que, somando o valor do curso, do gabarito e das peças (que não estão inclusas na oficina), o gasto total para a produção ficou em torno de 5 mil reais.

Hugo construiu sua bicicleta de bambu no modelo chopper. (Foto: Marcelo Curia/Arquivo Pessoal)

Antigamente, Klaus produzia bicicletas somente sob encomenda, mas, atualmente, ele apenas ensina os métodos de produção para que seus alunos sejam responsáveis por seus próprios projetos. "Acho muito mais legal assim, já que eles mesmos constróem a própria bicicleta e, quando saem com ela por aí, podem falar que fizeram e construíram o próprio meio de transporte”, revela.

Para participar do curso basta entrar em contato com o artesão Klaus, no Instagram ou site.

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