Setor turístico poderá ser afetado entre dezembro e março (Foto: Alina Souza / Arquivo Palácio Piratini)

Governo gaúcho projeta aumento de ocupação no litoral até março, apesar da pandemia

Cerca de R$ 6 milhões serão repassados para o atendimento da saúde em municípios

Juliana Coin
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4 min readDec 7, 2020

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A arrecadação do Imposto Sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) está aquecida dado o alto número de compra de imóveis na região, mas o setor turístico está pessimista em relação ao veraneio. É dezembro, mês em que, em tempos não pandêmicos, muitos estariam fazendo planos de réveillon na praia. Mas com as festas e qualquer tipo de aglomeração vetadas pelo governo, o setor enfrenta uma dura possibilidade: a queda na geração de empregos e arrecadação de impostos. Na manhã de terça-feira, 1, o Governo do Estado voltou a anunciar medidas mais restritivas no modelo de distanciamento social aplicado. Com uma segunda onda de contaminações pelo novo coronavírus acontecendo, o modelo de cogestão foi suspenso, fazendo com que o Piratini tenha a decisão final nas determinações nos municípios.

Entretanto, o governo do RS prevê um aumento no fluxo de turismo interno, com gaúchos visitando o Litoral Norte e Serra, aumentando a possibilidade de contaminação e internação nestas áreas de visita. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado, através da Portaria da Secretaria da Saúde 728/2020, deve realizar a transferência de recursos financeiros no valor de R$ 5,9 milhões a municípios e entidades hospitalares impactados pelo aumento populacional entre novembro de 2020 e março de 2021. São 46 municípios dos litorais Norte e Sul, da Serra e da Fronteira que foram comtemplados. O repasse da primeira parcela já aconteceu, e teve o valor de R$ 1,8 milhão.

A expectativa é que os estabelecimentos destes municípios arrecadem e consigam manter sua vida financeira. “Nosso desafio na secretaria é preparar o segmento para a retomada segura”, reforça o secretário de Turismo, Rodrigo Lorenzoni.

Setor hoteleiro amarga prejuízo

José Justo, Diretor Planejamento Estratégico da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis Rio Grande do Sul (ABIHRS), explica que o setor hoteleiro já estava em queda progressiva desde 2017, e a pandemia tem piorado as expectativas. “O segundo trimestre não existiu para a hotelaria, que ficou praticamente fechada. O terceiro trimestre ocorreu grande reação e a ocupação dos hotéis chegou a 20% comparando com o mesmo período de 2019. As diárias médias caíram entre 30% e 40%, com uma guerra de preços sem precedentes”, afirma.

Justo dá detalhes: A equação que manteve abertos os hotéis com esse nível de ocupação, só se explica porque a folha de pagamento caiu a 1/10 e as empresas contraíram empréstimos. “Dezembro deve ser uma tragédia por causa da bandeira vermelha”, reforça com preocupação. “O primeiro trimestre de 2021 será tenebroso.”

As projeções do diretor não são positivas. Segundo ele, os hotéis de praia terão hóspedes do estado e não internacionais. Na serra, os gaúchos e alguns catarinenses manterão os índices de ocupação aceitáveis dentro do cenário pandêmico: “A esperança é que a segunda onda não aconteça e que o verão possa melhorar o fluxo de pessoas, mesmo sabendo que isso deve ocorrer mais fortemente dentro do estado”.

Danilo Kehl Martins, Presidente do Sindicato das Empresas de Turismo no RS (SINDETUR-RS) concorda que a pandemia vai interferir na entrada da parcela de turistas internacionais: “Eles desapareceram, principalmente Uruguaios e Argentinos, o que acarretou uma lacuna econômica muito importante”.

Entretanto, o secretário de turismo reforça que haverá uma substituição: “Muitos gaúchos também deixavam o estado. Nós acreditamos em um novo comportamento do turista e apostamos no aumento do turismo regional. Perde-se de um lado e ganha-se de outro”.

O Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul aponta que, em 2017, o estado recebeu 1.270.618 turistas internacionais, sendo que os meses que apresentaram maior fluxo de entrada foram janeiro (35,5%), fevereiro (24,2%), março (8%) e dezembro (7,4%). Os principais países de origem são Argentina e Uruguai, que, juntos, representaram 94,8% dos turistas internacionais que chegaram ao estado, sendo o principal acesso por via terrestre (9,5%).

Apesar do setor turístico (hotéis e restaurantes) ter sido diretamente impactado pela pandemia, Martins explica que o litoral norte gaúcho só não teve mais prejuízo na circulação de recursos porque os proprietários de imóveis foram mais vezes visitar suas casas e permaneceram lá por mais tempo. O Coordenador de Turismo, Agricultura e Meio-Ambiente da Famurs, Mário Nascimento concorda. “Um número enorme de pessoas percebeu que pode trabalhar de casa, não necessitando diariamente deslocar-se para o trabalho, inclusive com ganho de eficiência. Dessa forma, podem estar ou viver muito mais próximos do litoral do que imaginavam”.

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Juliana Coin

Tentando inserir um pouco de realidade num universo de fake news.