Beta Redação mergulha no esporte náutico em conversa com atleta olímpica e jornalista

Thanise Melo
Redação Beta
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5 min readMay 21, 2022

Gabriela Nicolino e Ane Meira contam sobre a prática da vela em águas gaúchas e os desafios das competições pelo mundo

Por Thanise Melo e Gabryela Magueta

Ane Meira relatou como iniciou sua trajetória na comunicação esportiva náutica. (Imagem: Reprodução/Teams)

Para falar sobre comunicação e vivências no meio dos esportes aquáticos, a Beta Esporte recebeu, na segunda-feira, 16 de maio, duas referências do meio profissional: a atleta olímpica da vela da Seleção Brasileira Gabriela Nicolino e a jornalista e fundadora da Drop Conteúdo, Ane Meira.

Não foi de paraquedas que a paixão pela água surgiu na vida de Gabriela. A família comprou um barco para passeio, o que acabou despertando o seu interesse pelo esporte sobre as águas. Nascida em Niterói, a atleta do Iate Clube do Rio de Janeiro e Campeã Mundial de Vela Militar pela Marinha do Brasil, começou a velejar aos 8 anos e contou com o apoio da família no início da carreira e, mais tarde, quando decidiu voltar ao esporte, após se formar em Publicidade e Propaganda e concluir o mestrado em Gestão.

“Fui tocando uma nova vida até que a minha irmã insistiu ‘vamos de novo’. Depois de um ano e meio fora da vela e de uma campanha olímpica, larguei tudo e entrei no embalo até conseguir entrar para a Marinha”, revela. O Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR), do qual Gabriela participa, conta com 540 esportistas segundo a Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.

Em Tóquio, 92 atletas do PAAR, competiram em 21 modalidades, sendo 44 da Marinha, 26 do Exército Brasileiro e 21 da Força Aérea. Os benefícios são similares ao regime CLT, o que contribui para a dedicação exclusiva ao esporte. A atleta da vela complementa: “Não é como se tivesse uma ultraestrutura, nós precisamos bancar muita coisa e as coisas boas foram dando certo, o caminho foi aparecendo e quando eu vi, já tinha escolhido minha carreira profissional", indica.

Desde 2018, Gabriela integra a EQUIPE BRA 10, junto do atleta gaúcho, nascido em São Leopoldo, Samuel Albrecht. A dupla foi finalista nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, disputados no ano passado devido à pandemia da Covid-19. Gabriela e Samuel são medalhistas do Pan-Americanos 2019 e, agora, darão sequência a mais um ciclo, dessa vez na busca do Pan-Americanos em Santiago, que ocorre no ano que vem e das Olimpíadas de Paris, em 2024.

A equipe da modalidade mista de vela, composta por Gabriela e Samuel, utiliza o barco chamado “Nacra 17”. (Imagem: Ane Meira /Drop Conteúdo)

A jornalista Ane Meira, formada pela Unisinos, teve passagem pela imprensa corporativa, no jornal GZH, e igualmente em assessoria de imprensa, no Clube Veleiros do Sul. A profissional, que esteve nos dois lados do front na produção de notícias, contou como foi seu processo de migração de um veículo de hard news para a assessoria de imprensa, feita pela sua própria agência, a Drop Conteúdo.

“Não conhecia nada de esportes náuticos e não tinha afinidade com jornalismo esportivo. Eu fazia toda a parte multimídia. Fui me adaptando para falar sobre a vela, aprendi muito e trabalhei por sete anos no Veleiros do Sul. Em 2018, estava construindo a minha família e abri a Drop Conteúdo”, afirma. E, ainda, complementa sobre a escolha da sua área atual: “A minha proposta inicial era trabalhar apenas com microempresas em Itapuã, na região de Viamão. Eu queria estar na minha profissão e acabei criando um caminho alternativo.”

Desde os jogos de 1980, a vela é a modalidade esportiva que mais rendeu medalhas de ouro para os brasileiros na história das Olimpíadas — foram oito condecorações. Ainda assim, o esporte é um nicho, o que torna o encontro de profissionais especializados no mercado mais difícil. Para Ane, a imprensa brasileira valoriza demais o futebol. “Mesmo sendo um esporte olímpico (a vela), o olhar para esta prática é muito raso. O esporte acaba sendo acompanhado só em períodos de Olimpíadas”, critica.

Na avaliação de Gabriela, a vela enfrenta a dificuldade de atrair novos públicos. Além disso, o imaginário popular ainda associa a prática da vela a uma atividade de lazer. “Uma das nossas maiores dificuldades é conseguir atrair o público, novos patrocinadores e traduzir toda a complexidade e intensidade do esporte — para torná-lo um entretenimento. Hoje, com as tecnologias, sentimos que estamos ganhando o interesse das pessoas em nos ver ‘voando’ por cima d’água”, afirma.

Alunos tiveram a oportunidade de ouvir Gabriela Nicolino, da Equipe Olímpica de Vela (Imagem: Reprodução/Teams)

Comunicação é fundamental para o esporte

O trabalho da atleta olímpica envolve mais a força, enquanto o do seu parceiro, Samuel, demanda mais estratégias sobre as águas. Para Gabriela, a tradução dessas atividades de coordenação e harmonia funciona como um carro em que um dirige e, o outro, acelera. Esse nível de sincronismo, em alta velocidade, exige um alinhamento comunicacional importante entre a dupla.

“Para não gerar ruído a gente desenvolve códigos específicos. O que é preciso ser dito tem o mínimo de palavras possíveis. É preciso falar muito alto para o outro ouvir por conta da ventania”, comenta a esportista. A competidora náutica conta também que a comunicação foi sendo aprimorada, incluindo a utilização de uma espécie de rádio à prova d’água. O aparelho vai acoplado no capacete da dupla para se conectarem com o técnico durante os treinos.

Como assessora de imprensa, o trabalho de Ane é contar a história da dupla, combinando o suporte do jornalismo com a criação de conteúdos. Segundo ela, muitas redações identificam a vela como um esporte amador, e é nesse momento que o seu trabalho se apresenta como um diferencial: ao ligar para os meios de comunicação, ela necessita questionar a escolha da classificação e explicar como o esporte funciona.

A head and body da Drop Conteúdo tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela PUCRS e conta que a criação da agência de conteúdo foi se mostrando uma necessidade. Já na área de atuação esportiva foi acontecendo aos poucos, até que os profissionais náuticos passaram a chamá-la para gerir suas redes sociais. “É muito difícil alguém que saiba falar, entender e conhecer o meio náutico. Eles me procuraram e eu acabei entrando nessa onda”, comentou.

Desde 2019, Ane Meira trabalha com Gabriela e Samuel. A comunicação dos três está ligada pelo acompanhamento feito através da agência de conteúdo, seja em solo durante as competições, observando o clima e o vento, ou escrevendo e fotografando. Ane Meira mostra que é possível ser uma jornalista multimídia, ter sua empresa e trabalhar conciliando uma atividade profissional de qualidade com um tempo reservado à família.

“Acredito que as estratégias e altas demandas não oferecem qualidade nos trabalhos. Sempre me apoio na ética jornalística e no aperfeiçoamento do meu conteúdo”, comenta Ane. A jornalista tem a intenção de trabalhar com microempresas e marcas que estão começando no mercado, dentro de Itapuã e no extremo sul de Porto Alegre. “Trago qualidade de vida em tudo que posso fazer, de onde eu moro até as pessoas que conhecem o meu trabalho,” finaliza Ane.

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