Beta Redação prepara especial sobre o junho vermelho e laranja

Repórteres conversaram com especialistas sobre o dia mundial do doador de sangue e o mês de conscientização para leucemias e anemias

Rodrigo Westphalen
Redação Beta
5 min readJun 1, 2022

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Uma doação de sangue pode salvar até quatro vidas (Foto: LuAnn Hunt/Unsplash)

“Sangue é o líquido sagrado da vida. Se não tiver um voluntário para doar ao paciente no hospital, não há medicação que resolva”, resumiu Renata Vieira, secretária da Associação Sapucaiense de Apoio aos Doadores de Sangue (ASADS), ao falar da importância do ato que pode salvar até quatro vidas. Diante dos alertas com a baixa dos estoques de sangue que já começaram a ser dados por entidades de saúde de Porto Alegre, o apelo da doadora faz ainda mais sentido.

Por isso na noite de terça-feira, 24 de maio, estudantes do curso de jornalismo da Unisinos participaram de uma aula com profissionais da saúde e doadores de sangue voluntários para dar início ao especial junho vermelho e laranja da Beta Redação. Além da participação de Renata, o encontro remoto contou com as falas da fundadora da Hemocord, Karolyn Ogliari, que é professora do curso de medicina da Unisinos; da especialista em imuno-hematologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Patricia Seltenreich, e do presidente da ASADS, Osvaldo Faleiro. Na ocasião, os convidados pautaram os repórteres sobre serviços, pesquisas e ações importantes relacionados a um dos tecidos vivos mais importantes do corpo humano.

A aula sobre comunicação e saúde foi a primeira etapa do desenvolvimento das reportagens que integrarão a segunda cobertura temática do semestre, com publicação prevista para marcar o dia mundial do doador de sangue, em 14 de junho, e as campanhas de conscientização sobre doenças como leucemia e anemia. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) projeta que mais de 10 mil novos casos de leucemia sejam descobertos em 2022 em todo o país. Além disso, levantamento da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) revela que 1/3 das crianças brasileiras sofrem de anemia.

Sangue de cordão, banco de sangue e a rotina dos doadores

Karolyn Ogliari iniciou a conversa com os alunos e alunas apresentando dados e pesquisas relacionadas à transfusão de sangue de cordão umbilical e abordou o trabalho desenvolvido pela Hemocord, empresa de biotecnologia sediada no Tecnosinos — polo tecnológico da Unisinos em São Leopoldo — e voltada para terapia celular e medicina regenerativa. A instituição é o primeiro banco de sangue de cordão umbilical com laboratório de criopreservação de tecidos humanos no sul do país e o único no Rio Grande do Sul. A terapia com células-tronco é utilizada para tratamento de mais de 80 doenças e como alternativa à doação de medula óssea, apresentando benefícios também para diferentes transtornos neurológicos, como a paralisia cerebral. Karolyn é médica especialista em reprodução humana, fez pós-doutorado em Biologia Regenerativa e Células-tronco no Harvard Stem Cell Institute e atua também como supervisora do Programa de Residência Médica de Ginecologia e Obstetrícia da Unisinos.

O trabalho desenvolvido pelo Banco de Sangue do Hospital de Clínicas de Porto Alegre foi apresentado pela bióloga Patricia Seltenreich, com ênfase nos processos de gestão de voluntários e da comunicação do setor. O hospital trabalha com alta complexidade, atendendo também transplantes de órgãos sólidos, medula óssea, emergências e pacientes com anemia.

A profissional compartilhou a dificuldade que os Bancos de Sangue estão enfrentando desde o início da pandemia de Covid-19. Ainda que as campanhas tenham assegurado os estoques por um breve período, com o aumento dos casos de dengue, o Hospital de Clínicas voltou a ficar com as geladeiras esvaziadas, em situação crítica. Patricia explicou a urgência em aumentar o número de voluntários. “Quando a gente não tem um familiar internado, essa informação é vaga. Só damos importância quando é um conhecido que baixa no hospital precisando de transfusão”, comentou. “É uma luta, mas a gente não tem medo de guerra.” Patricia Seltenreich é bióloga, especializada em imuno-hematologia e mestre em Ciências Médicas pela UFRGS.

A perspectiva e as dificuldades encontradas pelos doadores voluntários foi compartilhada por Osvaldo Faleiro e Renata Vieira, da Associação Sapucaiense de Apoio aos Doadores de Sangue. A entidade, fundada em 2005, atua na coordenação de campanhas, ativação de doadores e na busca por facilitar e ampliar o acesso à doação de sangue. Responsável por centenas de campanhas bem sucedidas, o grupo conquistou a primeira sala de coleta de Sapucaia do Sul, no Hospital Municipal Getúlio Vargas, em uma parceria da entidade com a prefeitura e com assessoria técnica do Hemocentro do Estado (Hemorgs).

Secretária da associação, Renata informou que as buscas ativas da ASADS por doadores são feitas em todos os lugares. Após a demonstração de interesse do doador, a entidade informa e organiza por um grupo de WhatsApp sobre saídas realizadas até hospitais e bancos de sangue. “Não custa nada para o doador voluntário, basta nos encontrar no local do transporte”, informou Renata.

Ela explicou também como ocorre o processo de doação e quais as restrições que tornam uma pessoa inapta, como a ingestão de bebidas alcoólicas nos dois dias anteriores, gravidez, peso baixo, a realização de tatuagens ou presença de piercing na língua ou nos órgãos genitais nos últimos 12 meses, por exemplo. Mas apesar das diversas restrições, Osvaldo salientou que o principal impeditivo para as pessoas doarem acaba sendo outro: “a dificuldade maior é só o medo", afirmou. E antes de encerrar a conversa com os estudantes, bem-humorado, o voluntário brincou: “Gosto de dizer para as pessoas — você pode ser feio, ou pode ser bonito. Mas o que interessa é que o sangue é o mesmo".

Atualização em 09 de junho de 2022

Confira as matérias produzidas pela cobertura especial.

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