Bocha se torna competição oficial no Vale do Caí

Esporte comum no interior do Sul do país mobiliza as comunidades de Brochier e Maratá

Julio Hanauer
Redação Beta
4 min readAug 26, 2019

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Pouco presente no noticiário esportivo, a bocha é um dos esportes mais praticados nas cidades interioranas do Rio Grande do Sul. Durante os finais de semana, amigos se reúnem dentro e fora das canchas de calcário para jogarem e comentarem cada arremesso de bola. Neste mês de agosto, Brochier e Maratá, cidades localizadas no Vale do Caí, lançaram o Campeonato Intermunicipal de Bocha.

Olhares atentos da torcida e das equipes a cada bocha lançada. (Foto: Júlio Hanauer/Beta Redação)

O roteiro do campeonato, inédito em Maratá, é formado por sete times masculinos que disputam três partidas de 24 pontos. De acordo com Ezequiel Kerber, um dos responsáveis pelo time da Sociedade Gaúcho da Macega, seis competidores são inscritos em cada equipe, incluindo reservas e juiz. “As regras são parecidas com as do campeonato que ocorreu em Brochier no ano passado. Na reunião entre todos os times combinamos como seria o campeonato”, aponta.

O dialeto alemão figura como o principal idioma nos diálogos pré-jogo e também durante a competição. Na cancha, as faixas etárias se misturam, mas predominam os jogadores mais experientes, acima dos 45 anos. Contudo, a nova geração de bochadores ganha espaço. Aos 22 anos, Marcos Sacks é o integrante mais novo do time Batinga Sul B, de Brochier. Serralheiro por profissão, o jovem encontra os amigos aos sábados e domingos em uma cancha de bocha que fica a 500 metros de sua casa, no interior da cidade.

No sábado, 24, Marcos foi juiz do time Batinga Sul B, dividindo a cancha com outros quatro colegas de equipe. (Foto: Júlio Hanauer/Beta Redação)

Junto com o pai nos treinos, Marcos iniciou a prática do esporte quando tinha 14 anos. “Na época era brincadeira, mas fui incentivado pelo meu pai, Olegário Sacks, e continuei jogando. Agora, estou aqui no campeonato”, conta o rapaz. Além de ser bochador, o jovem de Brochier joga futebol, no entanto, o esporte aprendido na “arena” de calcário é o seu preferido. “Não sei explicar o motivo, mas se me convidarem para um jogo de bocha e para um de futebol, eu vou preferir bochar”, destaca.

Mesmo com as normas preestabelecidas, surgem dúvidas no início do jogo. Para resolver os imprevistos, o comum acordo prevalece. Cada time possui um juiz, responsável por marcar no calcário a posição das bolas das equipes. A marcação é necessária para verificar a distância percorrida pelas bolas em caso de toque, ou para recolocá-las no local anterior à “queima” do arremesso — quando a bola aérea bate no chão antes de encostar na bola do adversário. Também é considerada bola queimada nos casos em que a bola de uma equipe desloca o ponto do adversário em mais de 40 centímetros.

Oito competidores disputam cada partida, quatro por time. Separados por duplas, dois bochadores de cada equipe ficam em lados opostos na quadra, com quatro bolas disponíveis para jogo. Vence quem tiver mais bolas perto do bolim — bola menor arremessada previamente — sem ter queimado a jogada e sem interferência de outra bola adversária.

Não há idade para parar de bochar

Homens mais velhos são os maiores apreciadores da bocha. Ilmo Arthur Griebeler, agricultor aposentado, não participa do campeonato intermunicipal, porém, é o bochófilo mais antigo da comunidade de Macega, interior de Maratá. Aos 85 anos, faz questão de jogar algumas partidas nos finais de semana. “Jogo desde os 17 anos, quando comecei junto com meu pai. Levei muito os meus filhos para bochar e três deles continuam até hoje”, conta.

Ilmo Griebeler mostra medalhas conquistadas em campeonatos. (Foto: Júlio Hanauer/Beta Redação)

O bochófilo não esconde seu orgulho ao mostrar as medalhas dos muitos campeonatos vencidos por ele. Aos risos, Ilmo declara que ama o esporte porque ganhou diversas vezes. Para vencer tantas partidas, o aposentado revela que há ritual: “fazer o sinal da cruz e olhar para cima, para Deus”.

Há outros detalhes revelados pelo aposentado para ser um bom competidor de bocha. “Jogo com oito jogadores: quatro de cada time. Dentro da cancha, gosto de estar de sapato, porque o pé fica mais firme na hora de se abaixar para largar a bola”, afirma Ilmo. Se for preciso tirar uma bola adversária do jogo com um arremesso alto, o mais antigo dos jogadores conta com a ajuda dos parceiros, pois a idade não permite mais fazer o lançamento.

Ao longo destes quase 70 anos no esporte, passando por todas as canchas na região de Maratá, o bochófilo diz que quando chega na Sociedade Gaúcho de Macega se sente tenso, mas ao final das partidas, o corpo já está leve.

Sobre o Campeonato Intermunicipal de Bocha

Cinco times disputam o Campeonato Intermunicipal de Bocha pela cidade de Brochier: Batinga Norte, Quiosque do Anão, Batinga Sul A, Batinga Sul B e Camillo. Já Maratá está representada pelas equipes Macega e Uricana. Duas das cinco rodadas classificatórias já ocorreram.

Conforme o secretário de Turismo e Desporto de Maratá, Alexandro Haupenthal, a competição segue até o final do mês de novembro. “Os seis melhores se classificam na primeira etapa, sendo que os dois mais bem colocados seguem para a semifinal e os demais para as quartas de final”, esclarece. Na etapa vigente, jogam seis times e um folga.

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Julio Hanauer
Redação Beta

Estudante de Jornalismo na Unisinos. Assessor de Imprensa da Prefeitura de Maratá-RS.