“Bola pra frente que atrás vem gente”, diz Iotti sobre sua saída da RBS

Com mais de 30 anos de carreira, o chargista Iotti deixou a principal rede de comunicação do Estado e, agora, foca em projetos autorais

Lucas Lanzoni
Redação Beta
4 min readMay 15, 2020

--

Iotti, o “jornalista que desenha”, continua publicando charges, porém não no jornal (Foto: Carlos Henrique Iotti/Arquivo Pessoal)

Carlos Henrique Iotti, ou apenas Iotti, é um dos cartunistas mais conhecidos do Rio Grande do Sul. Ao longo da carreira, atuou não só como chargista de jornais do Grupo RBS, mas como “repórter” da RBS TV de Caxias do Sul e da Capital. Como o ditado popular que diz que tudo na vida tem um fim, Iotti teve o seu desligamento anunciado pela emissora no último 24 de abril. Porém, novos projetos já estão sendo colocados em prática, tanto para Iotti quanto para o seu personagem mais famoso, o Radicci.

Iotti sabia, desde criança, o que queria fazer, devido a influências vividas na infância. “Isso começou quando eu era piá, bem novo, tinha uns 14, 15 anos, quando caíram na minha mão uns livros sobre cartunistas gaúchos. E aí olhei aquilo e disse: ‘Bá, é isso aí que eu quero fazer’”, conta. Profissionalmente, sua carreira iniciou em 1982, no jornal Pioneiro, em Caxias do Sul.

Ainda durante sua formação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Iotti buscou a primeira oportunidade no jornal de sua cidade natal. À época, o Pioneiro era um veículo bissemanal. “O começo foi bem difícil, eu continuava estudando Jornalismo e procurando lugares para trabalhar… assim, qualquer lugar. Muitas brigas por espaço, coisa que não mudou muito, né? A vida do cartunista é basicamente essa, e eu, nesses trinta e tantos anos de carreira, me vejo nessa situação de novo”, relata.

Crido em 1983, Radicci foi atração em feiras de livros (Ilustração: Carlos Henrique Iotti/Reprodução)

Em 1983, ainda no Pioneiro, Iotti criou aquele que seria o seu personagem mais famoso como chargista, uma criação que o levaria a vencer um prêmio HQ Mix no ano de 1997. Radicci se tornou o colono mais conhecido do Rio Grande do Sul. “Eu estava recém começando e o editor do jornal, à época, Paulo Cancian, me chamou e disse: cria um personagem aí, faz alguma coisa, pois tu tem uma página todo sábado a partir de agora. E aí criei o Radicci, que é uma espécie de síntese do “colonão” na época”, relembra.

Em relação ao HQ Mix, prêmio mais significativo do Brasil no meio dos quadrinhos, Iotti o recebeu por conta de seu trabalho independente, a revista Gibizon do Radicci. “O HQ Mix foi um negócio marcante mesmo, porque ele é um prêmio nacional. Aquilo que a gente fez foi um negócio muito meritório, uma revista que durou anos, eu não me lembro quantos também, mas acho que foi a publicação de quadrinhos independente mais longeva do Rio Grande do Sul. O Radicci nunca cruzou muito a fronteira do Sul pro Sudeste, pro Norte, pro nada. Ele é muito regional. Foi um reconhecimento muito importante”, afirma.

Após o Pioneiro passar a integrar o Grupo RBS, em 1993, Iotti fez no Jornal do Almoço de Caxias do Sul um quadro que se chamaria Radicci, o Repórter das Colônias. A ideia era visitar lugares em que normalmente a empresa não fazia cobertura e, claro, sempre com uma visão mais divertida. “Aquilo foi um sucesso na televisão. Primeiro, na RBS TV local. Depois passou pro Estado, aí com o nome Iotti Repórter. Essa experiência foi bem interessante. Apesar de ser jornalista, eu tinha licença para dizer alguma bobagem ou interagir mais com a matéria. Olha, eu sou ruim em data e não me lembro quanto tempo durou, mas acho que foram uns dois ou três anos, e foi um sucesso. Assim era, pelo menos, na minha percepção”, declara.

Iotti aliou dois hobbies no seu projeto: viagem e pescaria. (Foto: Carlos Henrique Iotti/Arquivo Pessoal)

Depois de 25 anos de Grupo RBS, Iotti acabou sendo desligado da empresa. Suas charges cômicas e, ao mesmo tempo, com críticas, não serão mais publicadas na Zero Hora e no Pioneiro. Porém, “o jornalista que desenha”, como ele mesmo se intitula, tem projetos em andamento e outros que virão com o tempo. Além de dar continuidade ao seu personagem, Radicci, outro plano de Iotti envolve algo que ele gosta muito de fazer: pescar. “Eu tenho um projeto particular que se chama On The Rod, que mistura viagem com pesca. É um programa que já existiu na Fish TV (de Novo Hamburgo). A primeira temporada foi muito bem recebida e, agora, está no canal do Youtube. Eu produzo com a minha mulher, Anna. Ela é a câmera e também uma personagem da série. Outro canal que está no Youtube é o Iotti TV, que junta todos personagens que eu criei, o Radicci e a sua família. Então é isso, bola pra frente que atrás vem gente”, finaliza.

Para quem quer acompanhar mais do trabalho de Iotti, O Bairrista acolheu o personagem Radicci. Tirinhas estão sendo publicadas na página do Facebook, e assim o público pode continuar dando risadas com o colono mais querido do sul do Brasil.

--

--