Breaking Dance, Olimpíadas e protagonismo feminino

Dança de rua, popularizada como manifestação cultural, agora também é esporte olímpico

Joti Skieresinski
Redação Beta
4 min readApr 29, 2021

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Por Josi Skieresinski e Guilherme Machado

B-girl Lu BSB.Girls fazendo a parada de mão, posição característica da dança. (Foto: Lu BSB.Girls/Arquivo Pessoal)

Com data e local de estreia confirmados, em Paris 2024, o Breaking Dance passa a ser também um esporte olímpico. A inclusão faz parte da estratégia do Comitê Olímpico Internacional (COI) que busca a renovação do público-alvo dos Jogos e o incentivo à prática de exercícios aos mais jovens.

Atualmente no Brasil, por ter se tornado esporte olímpico, houve a necessidade de se criar o Departamento de Breaking, em janeiro de 2021, juntamente ao Conselho Nacional de Dança Desportiva (CNDD). O departamento é responsável pela organização das competições oficiais e pelos atletas profissionais.

Do Departamento são distribuídas as informações sobre as adaptações pelas quais a dança passa, como as referentes a nomenclaturas e arbitragem, por exemplo. O objetivo é que haja um padrão de entendimento entre os competidores visando a disputa olímpica de 2024, já que cada região cria e modifica a dança conforme a cultura local.

Para a vice-diretora técnica do Departamento de Breaking, Lucimar dos Santos, de 42 anos, “a cultura do break atingiu uma evolução tão grande que se tornou um esporte de elite, pois agora é olímpico”.

Conhecida no meio como Lu BSB.Girls, ela iniciou na categoria em 1996 e defende que a comunicação entre a comunidade deve ser a mais democrática possível, pois ainda não existem federações que organizam a dança em todos os estados brasileiros.

Segundo Lu BSB.Girls, o regulamento para os jogos de 2024 ainda está em produção por parte do COI. Mas um spoiler positivo que já se sabe, é a preocupação por parte da organização do evento de tornar a competição mais igualitária entre os gêneros, pois sempre foi um ambiente masculinizado.

B-girl Karina Rolim faz movimento de rotação. (Foto: Karina Rolim/Arquivo Pessoal)

Para a b-girl (nomenclatura dada às dançarinas de break) Karina Rolim da Silva, de 37 anos, também há um equívoco por parte de algumas pessoas em chamarem o breakdance de bboying. Ela explica que a segunda nomenclatura vem do fato dos dançarinos homens serem chamados de b-boy.

“Durante anos foi evidenciada apenas a figura do homem no break, mas há muitas mulheres e pessoas de diversos gêneros no meio, e chamar o movimento de bboying invisibiliza as mulheres”, ressalta.

De acordo com a b-girl Mayara Silva Colins, conhecida como Mini Japa, muitas vezes as competições são desiguais e algumas inclusive não disponibilizavam a categoria feminina. “Enquanto um b-boy ganha mil reais em um concurso, uma b-girl ganhava um boné, uma camisa ou por exemplo cinquenta reais. Como se a gente não treinasse tanto quanto um b-boy, como se não gastássemos com tênis, roupas, transporte e tempo”, desabafa a dançarina.

Ainda conforme a vice-diretora, o COI estabeleceu que as equipes de dança de cada país devem ser obrigatoriamente iguais em relação ao gênero de seus competidores. “Se houver dois b-boys representando o Brasil, obrigatoriamente devem ter duas b-girls, essa equidade é muito importante”, destaca Lu BSB.Girls.

Dançarina de break, desde 1996, foi uma das primeiras mulheres a participar de competições. (Foto: Lu BSB.Girls/ Arquivo Pessoal)

A cultura por trás da dança

A dança foi popularizada na década de 70, nos Estados Unidos, como um dos quatro pilares da cultura Hip Hop, composta pelos MC’s, DJ’s e pelo grafite. O break, também conhecido como um tipo de dança de rua, é caracterizado pelos movimentos acrobáticos, brutos e ondulatórios, com muita rotação do corpo e pés arrastados.

O break teve seu início a partir da grande depressão econômica no final dos anos 20, quando muitos dançarinos de sapateado ficaram desempregados e tiveram que ir em busca de alguma forma de sustento financeiro, indo para as ruas fazer apresentações.

Fortíssima manifestação popular no condado de Bronx, em Nova York, o break é uma das grandes representações da cultura negra norte-americana. Foi a forma de expressão e de refúgio contra a violência e o racismo da época.

Durante muito tempo esteve presente na cultura de rua como forma de competição, podendo ser disputado individualmente, em duplas e até em equipes, conhecidas como crews. No Brasil, o break ficou mais conhecido a partir dos anos 80, juntamente ao rap.

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Joti Skieresinski
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