Breaking: conheça a modalidade olímpica que estreia nos jogos de Paris

Criado por negros e latinos nas ruas do Bronx, em Nova York, a dança chegará com a proposta de conquistar o público jovem

Henrique Tedesco
Redação Beta
4 min readSep 10, 2021

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Evento de breaking patrocinado pela Redbull (Foto: Arquivo Pessoal/Adriano de Oliveira Soares)

Em 2024, o breaking se tornará modalidade olímpica. A dança, que faz parte da cultura hip-hop, foi aprovada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) após cumprir critérios de popularidade, como número significativo de participantes ao redor do mundo. O movimento cultural originado em Nova York e praticado, inicialmente por negros e latino, é a nova aposta para atrair espectadores jovens.

A origem do breaking remete às ruas do Bronx, bairro desassistido pelo governo nova-iorquino. Em meio à violência entre gangues, as danças que misturam os remixes das músicas e a personalidade de cada B-boy ou B-girl transformaram os conflitos armados em competições artísticas. Ao lado dessa manifestação de arte está o DJ, rap e grafite. Os quatro compõem a cultura hip-hop.

Breakdance ou Breaking?

Segundo o professor de streetdance e B-boy, Adriano de Oliveira Soares, ou Driko, como é conhecido, o termo “Breakdance” foi usado massivamente pela mídia para resumir a dança. No entanto, a modalidade é conhecida como breaking entre os seus praticantes. “A dança está sendo reconhecido e legitimada por esse nome midiático”, mas é importante pensar que o nome verdadeiro é breaking”, declara.

Driko recebeu com entusiasmo a notícia que a dança vai virar modalidade olímpica em Paris 2024, mas ressaltou que será preciso realizar adaptações sem tirar o apelo cultural que o movimento possui. “Precisamos pensar como os praticantes da dança vão ser acolhidos agora que [o breaking] vai ser entendido como um esporte. Os B-boys, B-girls e praticantes que aprenderam na rua a dança devem ser reconhecidos como profissionais, porque é da rua que essa cultura surgiu”, enfatizou o professor, torcendo para que a visibilidade midiática oferecida pelos jogos olímpicos traga mais aptidão e respeito ao movimento.

B-boy e B-girl

Os termos B-boys e B-girls referem-se a adeptos da cultura hip-hop. O professor Driko afirma que não é preciso vivenciar a cultura hip-hop para dançar break, pois a pessoa pode se interessar, especificamente, pela dança. “Eles podem gostar dos movimentos, dificuldade e adrenalina sem estar contribuindo diretamente para a cultura”, explica.

Fundador da associação Alvo Cultural — voltada ao oferecimento de oficinas e atividades — Jean Andrade comenta que a cena do breaking em Porto Alegre está ganhando um novo “respiro”. “Vejo que há cidades com essa cultura mais forte, como Bento Gonçalves, no entanto, Porto Alegre está ganhando novos praticantes e criando um novo cenário para o breaking”, ressalta.

Nessa mesma linha, Driko reafirma as contribuições do esporte para a saúde mental e física. “Condicionamento físico, praticidade, autoestima e motricidade são alguns dos pontos positivos que a dança pode trazer para a vida do seu praticante”, conta Driko, que pratica o breaking desde 2005.

Foto pra o projeto Klauss Vianna (Foto: Divulgação/Adriano de Oliveira Soares)

Olímpiadas como conhecemos hoje

Ao contrário do que se imagina, as Olimpíadas modernas trazem pouco do que era realizado no tempo da Grécia Antiga, por volta de 700 a.C. “Antes, era um evento religioso para os deuses, hoje é comercial”, afirma Édison Luis Gastaldo, pós-doutor em Antropologia Social pelo Museu da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Antigamente, os jogos serviam como forma de prolongar a paz entre os povos em guerra. A constituição das Olimpíadas no evento que conhecemos hoje ganhou muitas adaptações, como os jogos de 1936, em Berlim: “A corrida das tochas, por exemplo, foi idealizada pelo time de propaganda de Hitler, coordenado por Goebbels”, afirma Gastaldo.

“A participação das mulheres nos jogos aconteceu há poucas décadas atrás,pois o principal responsável pela construção dos jogos modernos não era a favor da sua participação”, conta Édison Gastaldo. Ele se refere ao “pai” dos Jogos Olímpicos modernos, Pierre de Coubertin. Em 1836, com a reformulação e retomada do evento com as características que conhecemos hoje, ele declarou que uma competição com participação das mulheres seria “impraticável, desinteressante, inestética e imprópria”.

Um dos destaques para Paris em 2024 é que, pela primeira vez, haverá o mesmo número de atletas homens e mulheres competindo. Além do breaking, o surfe e o skate continuarão na programação das Olimpíadas. O beisebol, o softbol e o karatê estarão fora.

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