Brique da Redenção conta com o Natal para recuperar a lucratividade das vendas

Lucas Lanzoni
Redação Beta
Published in
5 min readDec 2, 2021

A Feira chegou a ficar seis meses fechada em função da pandemia, e muitos expositores ainda não se sentem seguros para voltar

Publico aproveita o domingo para passear pelo Brique da Redenção (Foto: Lucas Lanzoni/Beta Redação).

O Brique da Redenção é um dos principais pontos turísticos de Porto Alegre há mais de 40 anos. Por causa da pandemia da Covid-19 este comércio ao ar livre ficou fechado de março a setembro do ano passado. A expositora Renita Stieler integra a Comissão Deliberativa do Brique da Redenção, e explica dos 68 comerciantes cadastrados na Secretaria Municipal da Indústria e Comércio (SMIC), 11 não voltaram ao trabalho. De acordo com ela, oito expositores preferiram não retornar, por ainda terem receio da pandemia e mais três que faleceram durante esse período. Sendo um deles por conta de complicações ao contrair a Covid-19.

“Após o retorno, ficou facultativo: só voltaria a expor quem quisesse. Não seria cobrado a assinatura na lista de chamada. E deveria ter obrigatoriamente 3 metros de distanciamento entre uma banca e a outra. Agora é cobrado apenas 1 metro de distanciamento”, conta.

Renita explica que é praticamente impossível saber ao certo quanto a feira em si fatura em um mês ou num único domingo, pois os expositores não comentam a sua lucratividade, o que torna o dado de difícil acesso. Entretanto, ela faz uma linha do tempo desde 2019 até hoje, onde é possível ter uma percepção do quanto a pandemia afetou os expositores.

“Em 2019 se faturava muito bem, depois paramos durante 6 meses, quase 7. Quando a gente retornou no finalzinho de setembro foram vendas muito grandes, o pessoal estava com tanta ânsia, com tanta sede de comprar, de poder ir para rua, de tudo, que as vendas foram acima da média, mas agora elas estão diminuindo”, explica.

Ela ainda aponta que com a chegada do Natal os expositores estão se organizando para utilizar a data festiva como uma forma de alavancar as vendas. “Os expositores vão colocar antiguidades temáticas do Natal. Estamos em tratativas para realizar um show comemorativo nesta data”, finaliza.

A venda pela internet foi a alternativa no ano passado

Odair Jeferson Martins, 49 anos, vende antiquários há mais de 20 anos no Brique. São comercializados produtos como luminárias com pé de bronze, pratos de diversos tipos, esculturas, copos de cristal e outras relíquias. Jeferson aproveitou o período de seis meses em que não pode vender no Parque da Redenção para faturar de outra forma. “Já que eu tive que ficar em casa durante um tempo por causa das medidas restritivas, eu utilizei a internet para fazer as vendas dos meus produtos”, comenta.

Ao seu ver a volta à normalidade manteve o ritmo de suas vendas como antes da pandemia, com muita procura e movimento do público no local. Porém para Odair foi de suma importância saber trabalhar com a questão do preço dos seus produtos, pois assim é possível que o cliente se sinta mais confortável para “pechinchar”.

Odair Jeferson e seu antiquário (Foto: Lucas Lanzoni/Beta Redação).

“Eu pelo menos dei uma baixada em algumas coisas para melhorar um pouco e incentivar os clientes a comprarem. Porque se a crise já está alta, você vai subir preço? Aí vai desestimular mais. Então algumas coisas eu até baixei para poder vender”, afirma. Odair baixou os preços de produtos como: pratos ingleses azuis que de R$ 100,00 cada, foi para R$ 70,00 reais e pintura a óleo que custava R$ 150,00 e passou para o valor de R$ 100,00 reais.

Odair não consegue passar um número exato do faturamento mensal no Brique, pois é muito relativo o quanto ele lucra em cada domingo. Porém, as vendas representam metade de sua renda mensal. “Olha, eu tenho duas rendas em casa, e o Brique complementa a metade da minha”, finaliza.

Fundador depende da renda do Brique para complementar aposentadoria

José Jorge Lima Farias é um dos fundadores do Brique da Redenção. Aos 89 anos de idade é participante ativo do local ao longo dos seus mais de 40 anos de história, ele conta que parou de expor seus produtos durante a pandemia e que só agora, aos poucos, vai voltando a rotina dominical que tanto gosta. “Eu não trabalhei durante a pandemia, minha Belina está guardada desde março de 2020 na minha garagem. Aqui eu botei algumas peças junto com meu filho, mas estou esperando que passe isso aí porque a minha mulher inclusive nem está trabalhando, pois ainda está com medo da pandemia”, comenta.

José Jorge junto de seus produtos expostos (Foto: Lucas Lanzoni/Beta Redação).

A volta à normalidade da feira ainda é uma incógnita para José, pois o mesmo não sabe ao certo se as coisas estão boas ou ruins para quem expõem os seus objetos. “Melhorar não vou dizer que melhorou, mas pelo menos tem mais gente circulando por aqui e comprando”, analisa o feirante. Ele conta que as coisas estão evoluindo aos poucos, mas ainda não sabe até que ponto os visitantes vão querer gastar seu dinheiro em produtos do Brique, “pois tem gente que precisa aumentar um pouco os preços para não sair no prejuízo”, explica.

Seu José e o filho Ernani compram os produtos que comercializam de diversos vendedores que aparecem no Brique para negociar. São peças como bonecos antigos, placas decorativas, carrinhos de brinquedo e itens colecionáveis, De acordo com ele, além das compras há também as trocas de produtos realizadas entre os expositores. “É gostoso trabalhar assim na convivência, sabe? É muito bom, mas nem só de amor vive o homem né. Mas é quem gosta né. Eu comecei nessa vida em 1947 vendendo selos e nunca mais parei”, afirma.

O Brique para seu José, que é metalúrgico aposentado, é parte importante no acréscimo de sua renda. “Eu ganho 3.200 reais de aposentadoria e hoje isso é muito pouco, pois tudo está cada vez mais caro. Então, eu opto por estar aqui trabalhando para complementar a minha renda com o que eu consigo lucrar”, finaliza.

Período pandêmico não parou o consumidor

Rudimar Orlando Calzza é representante comercial e frequentador assíduo do Brique da Redenção há três anos. Para ele, uma maneira de driblar as restrições impostas pela pandemia, no ano passado, foi se aproximar dos expositores : “Estreitei a amizade com alguns expositores e passei a frequentar as residências quase que semanalmente. Realizei inúmeras compras dessa forma”, comenta.

Na visão dele, os preços hoje estão mais convidativos, muito pelo fato de alguns expositores terem baixado os valores dos produtos para aumentarem as suas vendas. A queda nos preços acaba trazendo um problema para os apaixonados por objetos antigos.

“Na realidade, nós compradores de antiguidades e afins, em razão das ‘vantagens’, acabamos realizando compras além das necessidades, deixando alguns objetos nas gavetas durante muito tempo”, comenta.

--

--