Bye, bye, Brasil: quando morar fora do país se torna a melhor opção

A Beta Redação conversou com brasileiros que buscaram outros países para construir novas rotinas de vida

Milene Magnus
Redação Beta
6 min readJun 18, 2018

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Lisi Silva vive há 11 anos nos Estados Unidos. (Foto: lisi_halabi)

Conhecer novos países, experimentar novas culturas, construir memórias: esse é o desejo de muitos brasileiros. Mas, para além das aventuras, a ida para países desenvolvidos ou em ascensão se torna um objetivo para muitos desde cedo. E, quando a coragem fala mais alto, se desprendem do país para constituir uma vida em outro lugar. Há, ainda, quem veja na saída do Brasil uma das opções mais tentadoras para ficar longe dos problemas enfrentados aqui.

Aos 16 anos, Lisi Halabi namorava um garoto que já havia morado nos Estados Unidos quando criança. Para aproveitar o visto americano, que já estava para vencer, ele decidiu voltar para o país. Lisi o quis acompanhar. Convencer seus pais não foi tarefa fácil, mas depois da insistência, “minha mãe sentou comigo e disse que, junto com meu pai, decidiu que não seria egoísta comigo” conta. O desapego, ao contrário, foi simples: jovem, acreditava que se quisesse retornar o Brasil não haveria problema e na bagagem teria uma experiência única, fora do país.

O desejo de morar fora não cresceu com ela, pelo contrário, veio apenas para seguir uma paixão adolescente. Quatro meses depois do namorado ir embora, em outubro de 2006, Lisi, após adquirir visto, convencer a família, pagar pelo intercâmbio — que usou como desculpa para o visto — embarcou para uma nova vida nos Estados Unidos, em fevereiro de 2007. Onze anos depois, o número de brasileiros que também deixaram o país, principalmente em anos de crise no Brasil, cresceu abundantemente. Só em 2017, 21.721 brasileiros declararam suas saídas definitivas à Receita Federal.

Em meio a neve, Lisi coloca o hobby da fotografia em prática. (Foto: lisi_halabi)

Para Lisi, a adaptação foi longa e difícil. “Não por ser ruim, mas por ser tudo desconhecido. Sem trabalho, sem inglês, sem dinheiro, sem experiência nenhuma”, conta. Muitos de seus amigos desistiram e retornaram aos países de origem. “Tenho a plena certeza que resisti meus anos de dificuldade devido à minha idade na época. Na minha cabeça, eu ainda tinha a vida toda pela frente pra desistir e não era a hora ainda”.

Já morando em Nova Jersey, Lisi realizava alguns trabalhos de serviços gerais, encontrados em jornais em português que comprava no bairro onde morava. Em 2012, começou a trabalhar como babá de duas crianças do Brooklyn, bairro que fica a uma hora de onde mora. Frankie e Teo tomavam quase todo o tempo de Lisi durante as semanas. “Minha rotina foi a mesma por anos: acordava, tomava café e saia pra trabalhar. Pegava dois trens até o Brooklyn. Não tinha hora pra acabar de trabalhar, normalmente entre 19h30min e 21h, com exceção das ‘late nights’ onde pegava o rumo de casa por volta de 23h”, conta.

No cartão postal do Brooklyn, em Nova Iorque, Lisi e Assad. (Foto: lisi_halabi)

Mãe de Charlie, uma menina de dois meses que nasceu nos Estados Unidos, Lisi se considera tão estadunidense quanto a filha. Mesmo que as conversas em casa sejam em português, por ser casada com o também brasileiro Assad Halabi, os costumes e a cultura de Lisi estão mais perto de quem já nasceu nos Estados Unidos do que em solo brasileiro. “Eu não sinto que deixei um país pra ir morar em outro, tenho a impressão de ter nascido aqui, provavelmente por ter chegado tão nova.” Atualmente, Lisi está dedicada exclusivamente aos cuidados da filha. Em setembro, volta aos trabalhos de babá no Brooklyn.

Renata Isoppo vive na Austrália há pouco mais de um ano. (Foto: renataisoppo)

A coragem também foi o impulso de Renata Isoppo, 24 anos, para procurar novos ares em outro país. Diferente de Lisi, o hemisfério sul ainda é a morada de Renata. Depois de largar o último emprego, decidiu se mudar para a Austrália. Sempre aberta a novas experiências, a porto-alegrense viu no outro lado do mundo a chance de poder conhecer novas culturas e estilos de vida.

Segundo pesquisa do Datafolha, feita em maio deste ano, 62% dos brasileiros entre 16 e 24 deixariam o país se pudessem, 19 pontos acima da média dos adultos que também sairiam do Brasil. Estados Unidos e Portugal são os países mais citados, a Austrália, entretanto, aparece com apenas 1% das intenções de moradia dos entrevistados.

Morando em Maroubra, uma das praias da capital Sydney, mais conhecida por Bra, a praia tem um dos melhores pontos para o surfe e a vida amena que Renata procurou. “Nunca tinha pensado em morar fora, apenas viajar, viajar, viajar, mas acho que todos deveriam vir, você aprende e faz coisas que nem sabia que seria capaz”, conta.

Em Sydney, lugar onde escolheu para viver. (Foto: renataisoppo)

As dificuldades apareceram por conta da língua, mas que foi contornada facilmente, visto que, segundo ela, os australianos têm uma recepção muito amigável e prestativa, querendo, até mesmo, aprender português. Encontrar emprego na cidade também foi um empecilho. Após um mês sem conseguir trabalho, morando com um primo, Renata começou a fazer cleaner — a famosa faxina — em hotéis. Depois, limpeza em casas. Também trabalhou como garçonete em alguns restaurantes. O horário flexível é uma das coisas que a atraíram em relação ao país. “Faço alguns trabalhos pela manhã e à noite, então, normalmente tenho o dia livre.”

Há dois anos Mariana Szkwarek vive na Califórnia, nos Estados Unidos. (Foto: marianaszk)

Os dias livres também fazem parte da rotina de Mariana Szkwarek, 29 anos, que trocou Porto Alegre por Orange County, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos. O sonho de ensino médio, aos 16 anos, agora é a realidade da administradora de empresas, que agora vive com o marido no país.

Três meses depois de tomar a decisão, ela e o marido, Messias Soares, 35 anos, pediram as contas do emprego e rumaram ao norte. “Pensamos que era a nossa hora, por não termos filhos e ainda sermos novos — ou nos sentirmos assim”, conta Mariana. Os dois estão no segundo ano dos quatro disponibilizados pelo visto.

Na contramão do senso comum, Mariana encontrou facilidade na mudança para a Califórnia. Além disso, a recepção por parte dos nativos foi encantador. Apesar disso, o estilo de vida independente que os dois conquistaram tinham algumas diferenças do que viviam no Brasil. Utilizar transporte público foi uma delas. “Logo que chegamos aqui não tínhamos carro porque queríamos analisar os gastos, mas aqui em Orange County todo mundo tem carro e os ônibus passam de hora em hora”, conta.

Mariana e o marido, Messias, em Orange County, na Califórnia, onde vivem atualmente. (Foto: marianaszk)

O condomínio onde moram disponibiliza bicicletas por quatro horas de graça, utilizadas por Mariana e Messias para as atividades diárias, além do transporte público do local. “Para ir no super, nós usávamos as bikes, cada um com uma mochila e 25 minutos de estrada para ir e voltar. Ainda bem que a volta era só descida!” O carro já foi comprado e a rotina agora é mais próxima do que tinha aqui no Brasil.

Com visto de “noiva”, Mariana não pode trabalhar no país, apenas estudar. Por isso, sua rotina consiste em levar o marido no trabalho, estudar, voltar para casa e depois buscá-lo no fim do expediente. “É uma rotina bem light”, diz. Mariana e Messias esperam que a empresa dele consiga o green card para que “possamos ficar para sempre”, finaliza Mariana.

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Milene Magnus
Redação Beta

Jornalista formada pela Unisinos. Apaixonada por contar histórias, por esportes, por moda.