Campanha de prevenção ao câncer de próstata acontece o ano inteiro

A saúde do homem é discutida com o objetivo de prevenir, incentivar o diagnósticos precoce e quebrar estigmas de machismo

Julia Schutz
Redação Beta
5 min readDec 1, 2021

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A campanha Novembro Azul, voltada para a saúde do homem em relação ao câncer de próstata, não se restringe ao mês de novembro. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), aproximadamente 65 mil homens são diagnosticados com a doença todos os anos, envolvendo 28% das mortes a partir dos 45 anos. Muitas vezes, os homens têm vergonha de realizar os exames para diagnóstico da doença, em função do machismo enraizado na sociedade e por receio de perderem a sua virilidade. Com isso, acabam sendo diagnosticados somente quando a doença já está em um estágio mais avançado.

O diagnóstico precoce é importante para evitar maiores complicações que possam levar à óbito. Para isso, os homens precisam buscar um profissional da área — especificamente um urologista — para exames de rotina e cuidados com a saúde dos órgãos masculinos.

O Instituto Lado a Lado, fundado há 13 anos, é focado no combate ao câncer e doenças cardiovasculares, além de ter um cuidado maior com a saúde do homem. O instituto tem como objetivo ampliar o acesso a tratamento de saúde de qualidade no Brasil e mudar as cruéis estatísticas em relação à saúde do homem, “através da realização de ações e projetos que passam por campanhas anuais de conscientização da população sobre os alertas e cuidados com a saúde”.

De acordo com o instituto, desde 2011, mais de 85 milhões de pacientes foram beneficiados com os seus projetos, sendo 10 milhões apenas em 2020. De acordo com o estudo do núcleo de pesquisa do instituto, apenas 37% dos homens fazem exames preventivos e 26% são atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, quase 10% dos homens têm vergonha de realizar os procedimento e 61% nunca fizeram o exame de toque.

Taxa de incidência do câncer de próstata por região no Brasil. (Foto: Reprodução/Instituto Vencer o Câncer)

Campanhas e ações, como novembro azul e outubro rosa e demais projetos realizados pelo instituto Lado a Lado e pelo governo, são importantes para a conscientização e tratamento precoce da doença. Porém, essas campanhas normalmente não são inclusivas, elas focam nos gêneros masculino e feminino, esquecendo do público não-binário e da comunidade LGBTQIA+.

Para o jornalista e coordenador do Núcleo de Comunicação da ONG Somos, Ícaro Kropidloski, atualmente o movimento LGBTQIA+ vem questionando com mais força o caráter cis heteronormativo das campanhas novembro azul e outubro rosa: “Essas campanhas geralmente focam em mulheres e homens cis. Mas existem mulheres com próstata (trans e travestis) e homens com mamas (homens trans)”. No Instagram, a ONG Somos fez uma postagem explicando o motivo de não ter realizado campanha de outubro rosa e novembro azul.

A ONG Somos foi fundada em 2001, com o objetivo de realizar ações transdisciplinares com base nos direitos humanos, sexuais e reprodutivos, articulando nas áreas de educação, saúde, comunicação, segurança pública e arte. Para Ícaro, o propósito da organização é lutar para que todas as pessoas sejam incluídas e estimuladas ao autocuidado: “Questões estruturais como o machismo, demandam um trabalho longo e contínuo para serem desconstruídas. Nesse sentido, trabalhos de comunicação com viés educativo e provocador são meios interessantes que temos para gerar o debate público. Essa é a postura que a Somos costuma adotar em suas campanhas”.

Após estes 20 anos de existência da ONG, Ícaro assinala que ainda há muitos objetivos a serem alcançados: “nossa meta é que nas próximas duas décadas consigamos seguir influenciando o debate público e gerando discussões pertinentes sobre direitos humanos, gênero e sexualidade”. O jornalista conversou com a Beta Redação sobre a importância da inclusão de pessoas não-binárias e da comunidade LGBTQIA+ nas campanhas de prevenção ao câncer.

Confira a entrevista do aluno Luã Fontoura com Ícaro Kropidloski, que aprofunda a temática da exclusão de pessoas não binárias e LBTQIA+ nas campanhas novembro azul e outubro rosa.

O policial militar Lauro Barenho foi diagnosticado com câncer de próstata em novembro do ano passado e passou por tratamento no Hospital São Lucas da PUC-RS. Segundo ele, não sentiu qualquer sintoma relacionado à doença e nem possuía familiares com histórico de câncer: “fiz o exame de PSA (Antígeno Prostático Específico) juntamente com os demais exames que se faz em um checkup, e, para a minha surpresa, após a biópsia veio o diagnóstico. Passei então a realizar o tratamento hormonal, e em março deste ano passei pela cirurgia de prostatectomia radical robótica e em junho iniciei 27 sessões de radioterapia”.

Lauro Barenho também fala da importância da divulgação da campanha do novembro azul, não apenas no próprio mês, mas durante o ano inteiro, e de incentivar os homens a procurarem um médico da área para realizarem exames preventivos, para possíveis diagnósticos precoces.

O paciente comenta que atualmente o PSA segue em níveis normais. Quando realizou o exame em 2019, o médico não detectou quaisquer anomalias em Lauro. Porém, seu exame teria detectado 18,3 de antígeno e o considerado normal é de 4,0 ml.

“Infelizmente, em pouco mais de um ano, meu nível do PSA dobrou, sendo constatado que a próstata estava totalmente comprometida. Acredito que se tivesse sido diagnosticado no primeiro exame, muitos transtornos poderiam ter sido evitados”, conta.

O policial foi diagnosticado com câncer de próstata no final do ano passado. (Foto: Reprodução/Facebook)

Além disso, Lauro reforça que os cuidados com a doença e a prevenção devem alcançar todas as faixas etárias: “Infelizmente o público masculino ainda é muito preconceituoso. Diferente das mulheres, os homens enquanto adolescentes e jovens não são incentivados a estes cuidados. Acredito que esta falta de incentivo na juventude reflete em uma falta de cuidados na fase adulta”. O PM relata que não teve medo de fazer o exame de toque e que os efeitos da doença são muito graves.

A rotina de exercícios ajudou o PM a ter uma vida melhor. (Foto: Reprodução/Facebook)

Lauro lembra que teve cinco minutos de pânico após receber a notícia do câncer, pois achou que não ia mais viver, que duraria meses ou semanas. Após receber o apoio da família e amigos que o ajudaram na luta contra a doença, seguiu em frente com os seus projetos de vida, fazendo atividades físicas e vivendo com mais intensidade.

Para os demais homens, Lauro deixa um grande conselho: “Não é preciso ter vergonha ou deixar que o preconceito domine o que irá acontecer. Deixar o machismo e preconceito de lado pode definir o futuro. Pode ser o divisor de águas entre viver e morrer”.

Confira a entrevista do aluno Luã Fontoura com Lauro Barenho, que conta desde a descoberta da doença, o processo de tratamento e as mudanças em sua vida.

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