Capacidade de armazenagem de grãos não acompanha aumento de safra no Brasil
Falta de investimentos na área prejudica os produtores há pelo menos 18 anos
Por mais um ano seguido, o Brasil não terá onde armazenar de maneira completa a safra de grãos produzida no país. Para 2018, de acordo com a Cogo Inteligência em Agronegócio, o déficit previsto é de 62,3 milhões de toneladas. O número só não é maior que o de 2017, quando foi registrado um déficit de 75,6 milhões t. Esse problema teve início em 2001 e persiste até hoje.
Nos últimos 18 anos, apenas em 2000 a capacidade de armazenamento atendeu à demanda. De lá pra cá, apesar de algumas oscilações na produção, a infraestrutura de armazenamento pouco avançou. Os baixos investimentos resultam em elevações de preço do sistema logístico para a movimentação de safras de grãos, com o congestionamento nas estradas e nos portos. Na última década, os valores médios dos fretes triplicaram no Brasil, afetando diretamente o bolso do produtor
De acordo com o analista agrícola Carlos Cogo, o resultado da incapacidade na armazenagem é a queda dos preços. Ele explica que essa condição força o produtor a comercializar parte de sua produção em época de valores mais baixos. “A safra acaba sendo comercializada imediatamente após a colheita e isso gera uma oferta concentrada em uma mesma época no mercado”, aponta.
Maior produtora de grãos no país, a região centro-oeste é a que apresenta a maior desfasagem. São mais 42 milhões de toneladas que ficam sem estoque. No Brasil, apenas a região sudeste apresenta capacidade suficiente para armazenar toda a sua produção.
Segundo orientação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o ideal é que a capacidade de armazenagem estática de um país seja 1,2 vezes maior que a produção. No Brasil, esse relação é de apenas o,68. Novamente, a falta de investimentos é apontada como a causa do problema. A diretora de Política Agrícola e Informações da Conab, Cleide Laia, destaca que a baixa capacidade de armazenamento nas fazendas é uma situação desfavorável ao país frente aos grandes produtores mundiais, que tem no campo a maior parcela das unidades para guardar sua produção.
Dados da Cogo ainda indicam que apenas 16% dos locais para estocar a produção estão localizados em propriedades agrícolas. Hoje, mais da metade da capacidade estocagem está em empresas privadas. Esses números refletem as perdas que o produtor rural por não possuir capacidade própria de armazenagem. Entretanto, com armazéns próprios seria possível formar lotes maiores de venda e negociar diretamente com as indústrias. Armazenar a sua safra em terceiros tem custos adicionais que variam entre 9,3% e 15,4% do valor do total estocado.
Hélio Sirimarco, vice-presidente da Sociedade Nacional da Agricultura, insiste que a solução está na união e na criatividade dos produtores. “A minha resposta é sempre a mesma: união. União entre produtores e cooperativas para a montagem de sistema onde haja uma cooperação mútua e, assim, buscar uma solução para esse problema”, comenta.
Tentando amenizar o prejuízo, o governo federal criou, em junho de 2013, o Plano de Construção e Ampliação de Armazéns. O projeto inicial destinaria créditos de R$25 bilhões ao longo de cinco anos para investimentos no setor. Entretanto, o cronograma de liberação não foi cumprido. Com isso, os recursos anuais passaram para R$ 2,15 bilhões no ano safra 2018/19. O prazo de pagamento é de até 15 anos, com três anos de carência e taxas de juros de 6,5% ao ano.
As vantagens para o produtor ter seu próprio local de armazenamento são várias. Com um silo na fazenda, o agricultor pode gerenciar melhor o escoamento da safra e obter um valor maior pelo seu produto, ganhando mais poder na formação do preço, decidindo o melhor momento para a comercialização da produção, além de gastar menos com questões de logística.