(Foto: Ednilson Santos Barbosa/Repodução)

Capacidade de armazenagem de grãos não acompanha aumento de safra no Brasil

Falta de investimentos na área prejudica os produtores há pelo menos 18 anos

Khael Santos
Redação Beta
Published in
4 min readNov 14, 2018

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Por mais um ano seguido, o Brasil não terá onde armazenar de maneira completa a safra de grãos produzida no país. Para 2018, de acordo com a Cogo Inteligência em Agronegócio, o déficit previsto é de 62,3 milhões de toneladas. O número só não é maior que o de 2017, quando foi registrado um déficit de 75,6 milhões t. Esse problema teve início em 2001 e persiste até hoje.

Nos últimos 18 anos, apenas em 2000 a capacidade de armazenamento atendeu à demanda. De lá pra cá, apesar de algumas oscilações na produção, a infraestrutura de armazenamento pouco avançou. Os baixos investimentos resultam em elevações de preço do sistema logístico para a movimentação de safras de grãos, com o congestionamento nas estradas e nos portos. Na última década, os valores médios dos fretes triplicaram no Brasil, afetando diretamente o bolso do produtor

Déficit na armazenagem é crescente há mais de 15 anos (Fonte: Cogo Inteligência em Agronegócio)

De acordo com o analista agrícola Carlos Cogo, o resultado da incapacidade na armazenagem é a queda dos preços. Ele explica que essa condição força o produtor a comercializar parte de sua produção em época de valores mais baixos. “A safra acaba sendo comercializada imediatamente após a colheita e isso gera uma oferta concentrada em uma mesma época no mercado”, aponta.

Maior produtora de grãos no país, a região centro-oeste é a que apresenta a maior desfasagem. São mais 42 milhões de toneladas que ficam sem estoque. No Brasil, apenas a região sudeste apresenta capacidade suficiente para armazenar toda a sua produção.

(Fonte: Cogo Inteligência em Agronegócio)

Segundo orientação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o ideal é que a capacidade de armazenagem estática de um país seja 1,2 vezes maior que a produção. No Brasil, esse relação é de apenas o,68. Novamente, a falta de investimentos é apontada como a causa do problema. A diretora de Política Agrícola e Informações da Conab, Cleide Laia, destaca que a baixa capacidade de armazenamento nas fazendas é uma situação desfavorável ao país frente aos grandes produtores mundiais, que tem no campo a maior parcela das unidades para guardar sua produção.

Dados da Cogo ainda indicam que apenas 16% dos locais para estocar a produção estão localizados em propriedades agrícolas. Hoje, mais da metade da capacidade estocagem está em empresas privadas. Esses números refletem as perdas que o produtor rural por não possuir capacidade própria de armazenagem. Entretanto, com armazéns próprios seria possível formar lotes maiores de venda e negociar diretamente com as indústrias. Armazenar a sua safra em terceiros tem custos adicionais que variam entre 9,3% e 15,4% do valor do total estocado.

(Fonte: Cogo Inteligência em Agronegócio)

Hélio Sirimarco, vice-presidente da Sociedade Nacional da Agricultura, insiste que a solução está na união e na criatividade dos produtores. “A minha resposta é sempre a mesma: união. União entre produtores e cooperativas para a montagem de sistema onde haja uma cooperação mútua e, assim, buscar uma solução para esse problema”, comenta.

Tentando amenizar o prejuízo, o governo federal criou, em junho de 2013, o Plano de Construção e Ampliação de Armazéns. O projeto inicial destinaria créditos de R$25 bilhões ao longo de cinco anos para investimentos no setor. Entretanto, o cronograma de liberação não foi cumprido. Com isso, os recursos anuais passaram para R$ 2,15 bilhões no ano safra 2018/19. O prazo de pagamento é de até 15 anos, com três anos de carência e taxas de juros de 6,5% ao ano.

As vantagens para o produtor ter seu próprio local de armazenamento são várias. Com um silo na fazenda, o agricultor pode gerenciar melhor o escoamento da safra e obter um valor maior pelo seu produto, ganhando mais poder na formação do preço, decidindo o melhor momento para a comercialização da produção, além de gastar menos com questões de logística.

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