Carnaval pelotense aguarda retomada dos desfiles em 2023
Chegada da pandemia cancelou a festa e trouxe dificuldades financeiras às escolas de samba da cidade
Comemorado há mais de 150 anos, o Carnaval de Pelotas já foi considerado um dos maiores do Brasil, perdendo apenas para o Rio de Janeiro. O evento atraía e atrai pessoas de todos os estados, principalmente do Rio Grande do Sul. Com a colaboração de clubes e bandas do município, o Carnaval pelotense criou forças e virou cultura para os moradores. Desde cedo, ficou conhecido por ser bastante inclusivo. Todos podiam curtir, aproveitar e viver a festa, realizada por muitos anos na Rua Quinze de Novembro, no Centro do município.
Presidente da Associação das Entidades Carnavalescas de Pelotas (Assecap), Erildo Correa explica que o evento tem grande relevância na economia da cidade, pois surgem diversas oportunidades para a população gerar renda, além de movimentar muitos comércios e serviços como a marcenaria, eletricistas, costureiras, músicos, bares e mercados. “Durante o Carnaval, tem um movimento muito grande dos trabalhadores”, afirma. Contudo, apesar de sua grande importância, será que o Carnaval de Pelotas ainda gera interesse como antigamente?
Correa conta que as festividades em Pelotas tiveram seu auge entre as décadas de 1960 e 1980. A Rua Quinze de Novembro, toda decorada, ficava lotada de fantasias exuberantes e bandinhas que agitavam os foliões. Tomada de alegria e diversão, a mistura das etnias e povos demonstrava a tranquilidade da festa. Após o meio-dia, as calçadas eram tomadas de cadeiras, carros alegóricos, orquestras e até animais participavam do desfile. As marchinhas e os sambas eram exclusivamente criadas para a festa.
Com o sucesso da festa no município, escolas de samba foram surgindo e agitando ainda mais a região. As agremiações foram essenciais para promover a continuação da festa em meio à população mais nova. Entre as escolas, temos o núcleo adulto, com a Academia de Samba, Estação Primeira do Areal, General Telles, Unidos do Fragata; e mirins, com Acadêmicos da Lagoa, Águia Branca, Águia de Ouro, Brilho do Sol, Explosão do Futuro, Mickey, Mocidade do Simões Lopes, Pica-Pau, Ramirinho e Super Pateta.
Erildo Correa destaca que o poder público de Pelotas foi diversas vezes o organizador dos eventos, mas com passar do tempo surgiu a Assecap, entidade que hoje organiza, com auxílio financeiro, a festa carnavalesca. O poder público atualmente ajuda a gerenciar o local onde a festa é realizada, a segurança e contatos emergenciais. “Estamos fazendo com que todas entidades comecem a planejar e trabalhar cedo para profissionalizar o Carnaval. Esse é o objetivo da Assecap”, pontua Correa.
Conforme o presidente, infelizmente nestes dois últimos anos o Carnaval de Pelotas sofreu com a aparição do vírus da Covid-19. Com os carnavais todos alinhados, 95% das entidades preparadas, tiveram que cancelar a festa. Conforme Correa, a população esqueceu um pouco a importância da festa, mas também houve manifestações sociais nas escolas para que os jovens não deixassem de lado a história carnavalesca no município.
Este ano, as escolas não desfilarão em Pelotas. A retomada está prevista para 2023, e a preparação já começou, com muita motivação, segundo Correa.
A Academia de Samba
A Academia de Samba é uma das escolas mais antigas do Brasil. Nascida no dia 3 de fevereiro de 1949, a entidade é oriunda de um clube negro. Na década de 1960, foi premiada no Carnaval pelotense por seis anos consecutivos. Em 1962, a Pepsi Cola patrocinou a ida da Academia do Samba a Porto Alegre, onde a escola fez um desfile que serviu de inspiração para as entidades da Capital, pois lá somente existiam os Blocos de Tribos. Nesse mesmo ano, sagrou-se campeã dos 150 anos da cidade. Além de diversas premiações, a escola tem sambas consagrados dentro da folia pelotense, como o “Baile de Máscaras”, um dos sambas mais conhecidos do Carnaval de Pelotas.
Cristiane Gomes, membro da diretoria da Academia do Samba, esclarece que, assim como Assecap, a escola também passou por dificuldades durante a pandemia. Envolvidos com toda produção — carros alegóricos, fantasias, maquiagens — passaram por problemas financeiros. “Neste momento de pandemia, muitos profissionais ligados ao Carnaval sofreram muito por não terem seus empregos. Agora, com o retorno, com as vacinas, a situação se regulariza”, pontua.
Cristiane destaca que, apesar das dificuldades, a Academia do Samba possui uma história extensa e é motivo de alegria e inspiração para outras escolas e foliões. Movimenta a história do Carnaval no município através de atividades, eventos e parcerias como a Assecap e Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Por fim, Cristiane conta que a escola está implementando cursos preparatórios para a festividade.
Confira uma das músicas compostas pela Academia do Samba para Carnaval de 1987: