Centro cultural de São Leopoldo não possui acessibilidade
Tanto a Biblioteca quanto o Teatro do município estão em dívida com a população
“Aprendemos muito com os cegos aqui na biblioteca. Os poucos materiais em braile que temos aqui são doados pela Fundação Dorina Nowill. É difícil fazer com que as pessoas compareçam nos eventos propostos aqui. Nosso centro cultural precisa oferecer autonomia para os deficientes físicos”, afirma Daiane Andrade, coordenadora da Biblioteca Municipal de São Leopoldo.
De fato, a biblioteca tem algumas pendências para com o público portador de deficiência. Tradutores especializados em Libras, profissionais preparados para atender da maneira correta as pessoas que necessitarem, e até mesmo material adequado estão em falta. Na própria infraestrutura também não há acessibilidade.
Se a biblioteca não tem acesso próprio aos cadeirantes, a situação do Teatro Municipal é ainda pior. Além de não ter acessibilidade, não está em funcionamento. A previsão é de que até o fim do ano esteja regularizado e pronto para proporcionar cultura à comunidade leopoldense. “Queremos, além da acessibilidade, uma porcentagem de toda a programação com recursos acessíveis, desde audiodescrição, recursos táteis, tradução em Libras e legendas em braile”, enfatiza Lilian Nunes, coordenadora do Teatro Municipal de São Leopoldo.
Na última quinta-feira, 21, foi comemorado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. Na mesma data, foi realizado um debate na Biblioteca Municipal de São Leopoldo, comandado pela gestora de cultura, especialista em acessibilidade e atriz de teatro, Isabel Cristina. Segundo ela, esses movimentos em prol da cultura devem ser cada vez mais constantes. “Isso deveria estar há muito tempo no cotidiano das pessoas. Cidades, estados, teatro, tudo é feito para um padrão. Não abrange todos como deveria”, ressalta Isabel Cristina.
Nesse debate, estavam presentes também Daiane Andrade, Lilian Nunes e Leandro Brandt, coordenador de políticas públicas para pessoas com deficiência da Secretaria de Direitos Humanos e portador de deficiência física. Para Leandro, a luta pela autonomia desse público é constante. Segundo ele, a Secretaria de Direitos Humanos pretende entrar em contato com o curso de Arquitetura da Unisinos para checar uma possibilidade de parceria. “No cinema, por exemplo, não são apenas as obras que não têm acessibilidade. A própria infraestrutura não valoriza nossa situação”, disse Leandro Brandt.
O debate foi aberto ao público, que também fez suas reivindicações. Para alguns, é importante que saiamos de um processo de integração, onde a pessoa é apenas reconhecida como deficiente e não tem a devida importância, até chegarmos, enfim, em uma total inclusão social. Para Rodrigo Gehrat, 37, o país ainda segue o senso comum nesse aspecto. “Não adianta somente depender do poder público se a mentalidade de todos não estiver de acordo”, afirmou Rodrigo.
Em meio ao debate, surgiu o tema da educação. Isabel Cristina frisou a importância de ser inserida, no meio escolar e em nível superior, a atividade com inclusão social. “Percebe-se pouco avanço nessa área, e precisamos de mais urgência com um assunto tão delicado como esse”, complementou Isabel. Segundo dados do IBGE de 2010, 23,9% da população brasileira possuem algum tipo de deficiência.