Centro cultural homenageia ícone do comunismo brasileiro

Memorial Luís Carlos Prestes é localizado no único prédio projetado por Oscar Niemeyer em Porto Alegre

Caroline Tentardini
Redação Beta
3 min readSep 27, 2019

--

Centro cultural inaugurado há quase dois anos abriga acervo de fotos e documentos (Foto: Caroline Tentardini/Beta Redação)

Patinetes elétricos, pedestres e ciclistas lotam a revitalizada Orla do Guaíba, em Porto Alegre, durante os finais de semana. No outro lado da rua, o prédio preto, vermelho e branco, com curvas e formatos diferentes, parece não se destacar tanto para quem passeia por um dos principais espaços de lazer da capital gaúcha. Entretanto, esse é o único prédio projetado por Oscar Niemeyer na cidade.

Projetada por um dos principais arquitetos brasileiros no final do anos 90, a construção foi idealizada para receber o Memorial Luís Carlos Prestes. O terreno localizado na Avenida Edvaldo Pereira Paiva foi cedido pela prefeitura no governo de Olívio Dutra (PT), mas as obras começaram apenas em 2008, em parceria com a Federação Gaúcha de Futebol. O memorial, que completa dois anos de existência no dia 27 de outubro, possui um acervo com 135 fotografias do líder comunista Luís Carlos Prestes e da revolucionária alemã Olga Benário, cedidas pela filha de Prestes, Anita Leocádia Prestes. Atualmente, o espaço é mantido pela Associação Memorial Luís Carlos Prestes.

Ao visitar o local, podemos notar que o mural de imagens é uma linha do tempo que combina com o desenho arquitetônico do prédio. “O objetivo do memorial é divulgar a trajetória do Prestes, mostrando a sua vida e as marcas das lutas operárias e camponesas do século XX no Brasil”, conta o vice-presidente da Associação Memorial Luís Carlos Prestes, Edson Ferreira dos Santos.

O acervo fotográfico narra os 90 anos de história do comunista brasileiro (Foto: Caroline Tentardini/Beta Redação)

A entrada é gratuita, e o memorial é aberto ao público somente aos sábados e domingos, das 14h às 18h. Recebe, em média, 20 pessoas por tarde. Porém, durante a semana recebe escolas, faculdades, exposições, palestras e teatro, sem contar os estudantes de Arquitetura que vão até o local apreciar a obra de Niemeyer. “Nós da associação nos revezamos no atendimento e também nos cursos e palestras que realizamos sobre as trajetórias de lutas proletárias ligadas ao pensamento do homenageado”, explica Edson.

Caio Batista, membro da associação que também apresenta o local aos visitantes, conta que é um público muito específico que se interessa pela vida de Prestes. “Nossa intenção não é que este memorial entre para a rota turística de Porto Alegre e se torne algo comercial, mas sim homenageie as lutas de uma figura importante para a esquerda nacional”, esclarece.

Para a estudante de Letras da UFRGS Bibiana Amaral, mais do que um prédio projetado por Niemeyer, o centro cultural é uma aula de história. “Atualmente, ele é de extrema importância, pois as lutas contra a ditadura e a favor dos mais pobres precisam sempre ser lembradas, e o memorial tem esse papel contando toda a história de Prestes”, afirma.

Quem foi Luís Carlos Prestes

Conhecido como “Cavaleiro da Esperança”, Prestes nasceu em Porto Alegre em 1898. Percorreu todo o Brasil entre 1925 e 1927, tornando-se um dos políticos comunistas mais influentes do país. Visto como uma personalidade da extrema-esquerda, foi perseguido e preso pela ditadura do Estado Novo.

O local possui uma linha do tempo mostrando a vida e lutas de Olga Benário (Foto: Caroline Tentardini/Beta Redação)

Perdeu sua companheira, Olga Benário, após o governo do presidente Getúlio Vargas deportá-la para a Alemanha durante o regime nazista. Eles tiveram uma filha, Anita Leocádia Prestes, que nasceu enquanto Olga ainda estava na prisão. Após ser morta em uma câmara de gás, a filha foi entregue para a avó paterna, retornando ao Brasil somente quando tinha nove anos de idade.

Após ser condenado a 30 anos de prisão e receber a anistia de Getúlio Vargas, Prestes teve que exilar-se na antiga União Soviética, durante o regime militar, retornando apenas em 1979. Morreu no Rio de Janeiro, em 1990.

--

--