Ciclistas reclamam da falta de ligação entre trechos da ciclovia de Porto Alegre

Malha cicloviária da Capital não atinge 10% do previsto no Plano Diretor

Fernando Wasem Eifler
Redação Beta
4 min readOct 2, 2018

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Trecho da ciclovia da Avenida João Wallig, ao lado do Shopping Iguatemi (Foto: Fernando Eifler/Beta Redação)

Porto Alegre possui atualmente 46 quilômetros de ciclovias. A extensão contempla menos de 10% dos 495 prometidos no Plano Diretor Cicloviário, aprovado em 2009 na Câmara de Vereadores. A maior parte dos trajetos se concentra na região central da cidade, Orla do Guaíba e na zona Sul. Ao Norte há alguns trechos, porém poucos interligados. Esse isolamento representa a maior reclamação dos ciclistas que circulam pela Capital.

Na região, as ciclovias estão situadas em poucas avenidas, sem conexões. Os únicos trechos onde há continuidade ficam no eixo da Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, entre a Avenida Juscelino Kubistchek de Oliveira e as ruas Sílvio Delmar Hollembach e Lydia Moschetti e entre as avenidas João Wallig e Nilo Peçanha. Nesta, porém, o trecho é muito pequeno, carecendo de uma extensão.

Para o ciclista e mestrando em Engenharia de Energia José David Anzanello Júnior, as ciclovias de Porto Alegre estão em boas condições, mas precisam abranger mais pontos da cidade. “Importantes vias, como a avenida Nilo Peçanha, têm apenas dois pontos isolados de ciclovia, o que faz com que o ciclista precise andar em meio aos carros em partes do percurso”, comenta.

Morador do bairro Vila Ipiranga, ele se queixa que a malha cicloviária não abrange bairros afastados do centro e defende a expansão das faixas exclusivas para bicicletas. “É complicado ter que compartilhar espaço com carros ou pedestres em determinados trechos até encontrar uma ciclovia”, reclama.

Júnior pedala na avenida João Wallig, em um trecho onde não há ciclovia (Foto: Fernando Eifler/Beta Redação)

O maior trecho interligado da malha cicloviária de Porto Alegre possui 11,2 quilômetros e vai da avenida Wenceslau Escobar, na zona Sul, até a avenida Goethe, passando pelas avenidas Diário de Notícias, Edvaldo Pereira Paiva, e Ipiranga, e pelas ruas Silva Só e Mariante.

Segundo o coordenador do Programa Cicloviário da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), arquiteto Antônio Vigna, a interligação entre os trechos é esperada a partir de contrapartidas cicloviárias, provenientes, por exemplo, da construção de imóveis. “Em razão da situação financeira do município dependemos das contrapartidas de empreendimentos para avançarmos na rede cicloviária. As prioridades são as ligações de trechos já existentes”, explica.

De acordo com Vigna, o cumprimento do Plano Cicloviário está atualmente centrado em três ações:

  • Concluir a ciclovia da Avenida Ipiranga
  • Consolidar a Rede 1, que engloba os bairros Centro, Cidade Baixa, Bom Fim e Menino Deus
  • Consolidar o uso do Bike Poa como alternativa de transporte

Sistema de empréstimos de bicicletas incentiva o uso

Estação situada no cruzamento das avenidas Ipiranga e Érico Veríssimo (Foto: Liane Oliveira/Beta Redação)

Um dos incentivos para o crescimento do número de ciclistas em Porto Alegre é o Bike Poa, sistema de empréstimos de bicicletas gerenciado pela prefeitura. Somente no mês de setembro, o serviço alcançou 67.877 mil usuários. Desde sua modernização, em fevereiro, já foram realizadas 345 mil viagens.

Existem, atualmente, 41 estações em funcionamento na cidade, com 410 bicicletas à disposição da população. As estações com mais circulação são as do Museu Iberê Camargo e da Rótula do Gasômetro, com 55.876 e 36.870 viagens no último mês, respectivamente.

Apenas nos dias úteis, a estação da Arquitetura/Ufrgs é a que possui maior fluxo, com 36.560 viagens registradas em setembro.

Um dos que voltou a pedalar incentivado pelo Bike Poa foi o estudante de Relações Internacionais Ramon Santos. “Depois de vender minha bicicleta acabei deixando de lado o pedal, e um dia, caminhando pela Orla do Guaíba, me deparei com uma das estações do Bike Poa, me informei, retirei a bike, e desde então uso sempre que posso”, conta o ciclista.

O trajeto percorrido por Santos é basicamente entre a Orla e a Cidade Baixa. O estudante explica que evita percorrer locais em que não há ciclovias, pois se sente inseguro andando em meio aos carros. “Pela falta de ligação entre alguns trechos, acabo andando sempre nos mesmos lugares. Tenho medo de dividir espaço com os carros para chegar até outras ciclovias”, explica.

Outra crítica do estudante é a concentração de estações na região central, o que, segundo ele, dificulta o deslocamento para outros lugares. “Deveria haver mais estações espalhadas pela cidade, mas também sei que isso esbarra na falta de ciclovias em outros pontos. Penso que a prefeitura deveria investir nos meios de transportes alternativos”, destaca Santos.

Ramon utiliza a bicicleta do Bike Poa em direção ao Museu Iberê Camargo (Foto: Fernando Eifler/Beta Redação)

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