Analistas projetam cenário político com Lula livre

Benedito Tadeu, Paulo Peres e Bruno Lima Rocha consideram diversos caminhos a partir da soltura do ex-presidente

Laura Hahner Nienow
Redação Beta
2 min readNov 9, 2019

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Preso desde abril do ano passado, Lula sai da prisão e é ovacionado por militantes da esquerda. Na noite desta sexta-feira, lideranças de movimentos estudantis e sociais se reúnem nas ruas do país comemorando a soltura do maior líder político do Brasil. Entrevistados pela Beta Redação, cientistas políticos pressupõem que o ex-presidente possa unir a esquerda brasileira.

Lula comemora soltura junto com seu eleitorado. (Foto: Gibran Mendes/CUT)

Para o cientista político Benedito Tadeu — professor aposentado da UFRGS — , que estava em uma das manifestações da noite, agora se instala um período complicado na política brasileira. “Estamos à beira da uma radicalização. Tem a esquerda que está com o grito reprimido e tem a extrema direita que está decepcionando seus apoiadores”. De acordo com o pesquisador, Lula, sem dúvida, unirá as esquerdas. “A única dúvida é o PDT. O Ciro se posicionou de uma forma complicada, será difícil seu retorno”. Benedito ainda afirma que teme pela vida do ex-presidente agora que está solto.

Já para o também cientista político e professor da UFRGS Paulo Peres, há dois caminhos possíveis. O primeiro é a reação dos opositores. “Quem sabe, talvez, a oposição tente até mudar a Constituição”, supõe o cientista. “A liberdade do Lula também pode reacender o apoio que o governo perdeu”, aponta Peres ao relembrar do forte antipetismo. O segundo caminho que imagina é que, caso Lula consiga permanecer em liberdade, o ex-presidente una a esquerda e consiga articulá-la.

O também cientista político e professor de jornalismo e relações internacionais da Unisinos Bruno Lima Rocha, diz que a libertação do ex-presidente traz alguns elementos. O primeiro é que Lula é o grande aglutinador da referência da centro-esquerda no poder. Para ele, o ex-presidente aglutina o eleitorado do seu partido, dos seus aliados, além de ele próprio ter potencial eleitoral. “Essa cota eleitoral pode ser vista até no volume de votos que Haddad fez do segundo turno, que foi muito expressivo para alguém que não era tão conhecido”, comenta.

Para Bruno, o outro efeito da soltura de Lula é que, em liberdade, o ex-presidente acaba por ser um inimigo comum para bolsonaristas e ultraliberais. De acordo com o cientista, o fato de hoje “faz cair por terra todo o conjunto de abusos da operação Lava Jato. E aí vale citar o voto do ministro Celso de Mello, que traz um elemento muito importante. Ele disse que era momento de o país aceitar combater um crime cometendo irregularidades jurídicas”, conta. “A condição de legitimidade da operação Lava Jato, tanto por abuso, a pressão com o supremo, a pressão com a elite política e o uso da lei como arma de guerra se materializa na soltura do ex-presidente Lula”.

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