Coleta de tampinhas plásticas vai além da reciclagem
Separação do material beneficia projetos sociais desenvolvidos no Vale do Caí
Separar tampinhas plásticas faz parte da rotina da recicladora Bárbara Lunckes, de 31 anos. Desde 2020, ela separa o material não somente visando contribuir com a questão ambiental. Ao realizar a triagem das tampinhas, ela coopera também para o desenvolvimento de projetos educacionais de reciclagem geradores de transformações culturais.
Semanalmente, Bárbara caminha, faz visitas e manda mensagens a familiares, vizinhos e amigos na busca de seu objetivo: arrecadar a maior quantidade de tampinhas plásticas. “Tenho a consciência de que precisamos deixar um mundo melhor para os nossos filhos, cuidar do meio ambiente e contribuir com questões sociais. Esse é um gesto de solidariedade”, afirma.
Residente no município de Salvador do Sul, no Vale do Caí, ela acredita que cada morador precisa fazer a sua parte e se engajar em iniciativas voltadas à preservação dos recursos naturais. “Temos o privilégio de morar numa cidade limpa, onde a grande maioria das pessoas respeita e cuida da natureza”, relata a recicladora.
No entanto, Bárbara analisa que a iniciativa privada também tem o dever de compactuar com a ideia. “Isso vai muito da cultura de cada cidade. No meu ponto de vista, estamos no caminho certo. Muitas empresas vêm implementando políticas de sustentabilidade e criando produtos que agridam menos o meio ambiente. Porém, ainda tem muito a ser feito e o mais difícil é enaltecer a importância da reciclagem na consciência de cada cidadão”, explica.
“Eu também era uma dessas pessoas que pensava: ‘Ah, mas é só uma tampinha’. Comecei a criar consciência do quanto a minha contribuição era importante quando vi como um pequeno gesto estava ajudando tantas instituições. Hoje, coletar e separar as tampinhas faz parte da minha rotina e da minha família. Todos me trazem as tampinhas, porque sabem que eu trago para o projeto. É uma forma de ajudar o próximo e transformar o mundo em um lugar melhor para se viver. Simples, fácil e não gera um esforço, é só fazer a sua parte.”
Empresa parceira em Salvador do Sul
A Mega Embalagens é uma empresa voltada a suprir as necessidades do mercado de embalagens flexíveis, agregando valor final aos produtos. Desde 2020, desenvolve estratégias para contribuir com a reciclagem.
Todos os resíduos gerados na empresa possuem um controle e coprocessamento, bem como o destino ecologicamente correto. Entretanto, uma iniciativa se destaca: o projeto socioambiental Tampinha Legal, o mesmo do qual a recicladora Bárbara faz parte.
Na empresa, o projeto é coordenado por Cristiane Griebeler, 35 anos, responsável pelo setor de recursos humanos. Ela explica que teve a ideia de apoiar a iniciativa logo que conheceu a proposta do Tampinha Legal — desenvolvido pelo Instituto SustenPlást, que transforma tampinhas plásticas em recursos financeiros. “O hospital da cidade passava por problemas financeiros e corria o risco de fechar, porém o município e as cidades vizinhas se uniram para ajudá-lo”, explica a coordenadora, ao destacar a relevância do projeto na captação de recursos para a manutenção da entidade.
Segundo Cristiane, o primeiro passo para ajudar o hospital da cidade foi buscar a aprovação das entidades parceiras da campanha. “Realizamos uma intensa divulgação no comércio local e nas escolas de Salvador do Sul, São Pedro da Serra, São José do Sul e Tupandi, que são cidades vizinhas aqui no Vale do Caí. Estes são nossos parceiros no projeto. Quando tem tampinhas nos postos de coleta, somos avisados, fazemos a pesagem e encaminhamos ao depósito credenciado em Porto Alegre. Após o recebimento, é feito o pagamento do valor para a entidade beneficiada”, afirma.
Projeto Tampinha Legal
O programa Tampinha Legal foi lançado em outubro de 2016, na segunda edição do Congresso Brasileiro do Plástico, sediado na PUC-RS, em Porto Alegre. O objetivo é oferecer um novo destino às tampas plásticas por meio da coleta do material e da comercialização para indústrias recicladoras espalhadas pelo Rio Grande do Sul.
Com a missão de motivar, inspirar e conectar diferentes segmentos da sociedade através de ações de conscientização, o programa está alinhado à proposta da Economia Circular, de forma lúdica e interativa. Dessa forma, o Tampinha Legal motiva ações inovadoras, inteligentes e de baixo custo utilizando o material plástico, aumentando o esclarecimento das pessoas em relação ao destino adequado dos resíduos plásticos.
A coordenadora do Instituto SustenPlást, Simara Souza, afirma que a iniciativa é simples, de fácil aderência e de baixo custo. “Pessoas de todas as classes sociais, níveis de instrução e faixas etárias participam do Tampinha Legal. É através dele que as entidades assistenciais do terceiro setor buscam sustentabilidade econômica para viabilizar e dar continuidade aos seus trabalhos. Além de promover sustentabilidade social e ambiental, o programa atende aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) e ESG”, esclarece.
A iniciativa exige uma postura neutra por parte dos participantes. “Não podemos levantar bandeiras político-partidárias, religiosas ou usar da imagem do Tampinha Legal em benefício próprio", complementa Simara.
Poder público e a preocupação com o futuro
A Administração Municipal de Salvador do Sul tem implantado políticas públicas voltadas à reciclagem. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico é ampla e engloba diferentes setores, entre eles, o Departamento do Meio Ambiente, encarregado de realizar programas que conscientizam a sociedade em relação ao lixo e o seu impacto ambiental.
Conforme a diretora do Departamento, Camila Haupt, trabalhar com ações ambientais é se comprometer com o futuro. “O Projeto Arborizando fez parte do nosso plano de ação. Ele consistiu em plantar mudas de árvores nos bairros do perímetro urbano e rural, tendo em vista que a arborização urbana proporciona às cidades inúmeros benefícios relacionados à estabilidade climática, conforto ambiental, melhoria da qualidade do ar, saúde física e mental, redução da poluição sonora e visual, conservação do ambiente ecologicamente equilibrado e embelezamento do cenário municipal”, relata.
“Trabalhamos também com o Projeto de Recuperação Ambiental de Mata Ciliar, bem como a Coleta Seletiva com dias específicos para cada tipo de lixo (orgânico e seco), o Bota Fora (descartes maiores), realizado toda segunda quinta-feira do mês e a Coleta de Óleo Usado, que dispõe de uma lixeira especial nos fundos da Prefeitura Municipal”, explica Camila.
Além disso, o município investe no EcoPonto, cujo objetivo é combater o depósito ilegal de resíduos e entulhos, além de oferecer à população uma alternativa para a destinação desses materiais. "E o mais importante, de graça”, finaliza a diretora.
Conheça o caminho da tampa plástica e contribua você também:
- Catar as tampinhas plásticas;
- É recomendável lavá-las, secá-las e separá-las por cores, isso facilita o trabalho;
- Depositar nos coletores situados nos pontos de coleta;
- Depois disso, a empresa é responsável por armazenar as tampinhas separadas por cores em embalagens transparentes;
- Etapa da pesagem e transporte até a indústria da reciclagem;
- Pagamento dos valores às empresas beneficiadas.