Com medo de abstenção maior, candidatos à Presidência apelam para eleitores irem às urnas

Primeiro turno teve maior percentual de abstenções desde 1998. Mais de 32 milhões de pessoas deixaram de exercer o seu direito ao voto em 2 de outubro

Vitória Drehmer
Redação Beta
4 min readOct 28, 2022

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Abstenção no segundo turno costuma ser maior se comparado com o primeiro (Foto: Tribunal Superior Eleitoral)

O primeiro turno das eleições de 2022 registrou o maior percentual de abstenções desde 1998. No total, 32.712.951 eleitores deixaram de votar no dia 2 de outubro, ou 20,91% do eleitorado.

Esses números preocupam os candidatos à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) porque são capazes de mudar o resultado do segundo turno.

A título de comparação, as abstenções foram quase metade do número de votos que Lula (PT) e Bolsonaro (PL) receberam no primeiro turno: 57.259.504 de votos e 51.072.345 de votos, respectivamente.

Ainda, a quantidade de eleitores que não foi votar é quase sete vezes maior que o número de votos que Simone Tebet (MDB), terceira colocada, teve no primeiro turno: 4.915.423.

Candidatos tentam contornar as estatísticas

Se depender dos candidatos à presidência, o número de abstenções precisa baixar. Isso porque, tanto Lula quanto Bolsonaro, já pediram, mais de uma vez, para que os eleitores compareçam às urnas.

“Se a gente não votar, perde autoridade moral de cobrar. Então, vejam, é importante comparecer. A gente não pode ter 20% de abstenção. É importante a gente convencer nesses próximos dias cada pessoa a ir votar. Compareçam e votem para, depois, você ter o direito de cobrar das pessoas”, declarou Lula em um ato em São Paulo (SP).

“No próximo dia 30, de verde e amarelo, vamos votar, e mais do que isso, vamos permanecer na região da seção eleitoral até a apuração do resultado”, disse Bolsonaro em discurso em Pelotas (RS).

Mas afinal, o que é abstenção?

Diferentemente dos votos brancos e nulos, as abstenções representam o número de eleitores que não compareceram às suas respectivas seções eleitorais para exercerem seu direito de votar.

Como a votação não é um fator facultativo no Brasil, os eleitores que se abstém devem justificar a ausência. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quem não fizer a justificativa fica com a situação irregular perante a Justiça Eleitoral. Essa situação pode causar várias dificuldades, como a impossibilidade de inscrição em concurso ou prova para cargo público, por exemplo.

O jornalista Raphael Panaro, que não votou no primeiro turno, afirma que fará diferente dessa vez. “Eu não votei no primeiro turno porque sou carioca, não transferi meu título de eleitor para São Paulo a tempo e não consegui ir ao Rio de Janeiro na ocasião. Mas agora, para o segundo turno, vendo a situação do país e muito insatisfeito com o atual governo, me senti na obrigação de estar presente”, disse.

A aposentada Marlene Salvador Maia passa pela mesma situação. “Eu ainda estava morando em outro país no primeiro turno. Agora que voltei para o Brasil, vou fazer questão de ir à urna para exercer meu direito de cidadã brasileira”, afirma.

Abstenções devem aumentar no segundo turno

Levando em conta as eleições anteriores, o não comparecimento no segundo turno costuma ser maior se comparado com o primeiro — já que os eleitores têm apenas dois candidatos como opções.

Em 2018, 29.939.319 (20,32%) eleitores se abstiveram no primeiro turno. Já no segundo turno, o número subiu para 31.364.522 (21,29%). A situação também se repetiu em 2014, quando 27.697.332 (19,39%) deixaram de votar no primeiro turno e 30.131.111 (21,10%) não foram às urnas no segundo.

Segundo o TSE, a abstenção no primeiro turno das eleições de 2022 foi maior entre os eleitores de baixa escolaridade e renda. Do total, 53,9% das faltas foram de pessoas que completaram, no máximo, até o Ensino Fundamental. A explicação está na dificuldade dessas pessoas de comparecer às seções eleitorais.

Pensando nisso, o número de eleitores que poderão ser beneficiados com a gratuitidade nos transportes públicos no dia 30 de outubro deve dobrar nas capitais brasileiras. Em relação ao primeiro turno, 17,98 milhões de pessoas a mais terão acesso ao passe livre. Isso porque os 26 estados brasileiros, além de Brasília, anunciaram o incentivo para o exercício do direito ao voto.

Como deve ser o segundo turno?

Uma pesquisa eleitoral do Genial/Quaest, realizada no dia 19 de outubro, ouviu 2 mil pessoas e foi feita a partir do método likely voter (eleitor provável), que identifica os eleitores com maior probabilidade de votar no dia 30 de outubro.

A pesquisa mostrou que entre os entrevistados que declararam que se abstiveram no primeiro turno, 42% declararam voto em Lula (PT) e 32% em Bolsonaro (PL). Além disso, 15% disseram ter vontade de se abster novamente e outros 12% informaram estar indecisos.

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