Com menos horários de ônibus, moradores buscam alternativas

Em Canoas, empresa de transporte que atende as linhas municipais e os itinerários até a Capital reduz horários

Jaime Zanatta
Redação Beta
6 min readMay 25, 2019

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Não importa o destino, os passageiros estão insatisfeitos com o serviço da empresa de transportes Vicasa. (Foto: Jaime Zanata/Beta Redação)

E m Canoas, as linhas de ônibus da empresa Vicasa sofreram mudanças. Desde o fim de janeiro, os itinerários intermunicipais entre Canoas e Porto Alegre e os trajetos que integram os bairros do município ao Trensurb estão com horários reduzidos. Além disso, linhas deixaram de existir ou foram unidas a outras rotas atendidas pela empresa de transporte.

Aos domingos, por exemplo, os ônibus até Porto Alegre circulam em apenas cinco horários. Já quem depende do transporte para chegar às estações do trem de Canoas não encontra opções de linhas. Esse é o caso do vigilante André Martins. Ele comenta que as alterações nas rotas e nos horários ocorreram “praticamente de um dia para o outro”.

O morador do bairro Mathias Velho trabalha, pelo menos, dois domingos por mês e utilizava a linha Florianópolis — Estação. “Eles começaram a colocar cartazes nos ônibus mandando a gente andar de Sogal, mas não disseram que tirariam as linhas de circulação. Quando cheguei na parada, às 7 horas da manhã, fiquei duas horas esperando e perdi um dia de trabalho”, relata.

A Vicasa, como Martins citou, orientou os passageiros a utilizarem os ônibus da empresa Sogal, que realiza as linhas municipais de Canoas e também as rotas integradas ao Trensurb através do cartão TEU!. Porém, para piorar o transtorno devido à escassez de ônibus, muitas linhas da Sogal passam apenas em uma estação de trem, o que aumenta o tempo de viagem.

A caixa operadora, Pâmela Silva, é moradora do bairro Niterói e trabalha em um supermercado de Esteio. O coletivo que utilizava para se deslocar até o trem, aos domingos, não passa mais, obrigando ela a encontrar outras linhas e horários para ir trabalhar e retornar para casa.

“O ônibus levava 10 minutos até a estação. Agora, pego o Interior ou Indústria e preciso ir até o Centro da cidade, porque eles não passam nas duas estações aqui do bairro. Levo quase 20 minutos a mais e tenho que sair mais cedo de casa e rezar para que o transporte passe no horário”, relata.

Com as mudanças nas linhas e horários da Vicasa há menos veículos nas ruas (Foto: Jaime Zanata/Beta Redação)

Sem alternativas, teve quem optasse por não depender mais do transporte coletivo, aderindo ao uso dos aplicativos. A técnica de enfermagem Sirlei Lima, moradora do bairro São José, trabalha em um hospital de Porto Alegre e já reclamava da escassez de horários nos finais de semana. “Agora está pior ainda, pois tenho que ir até o Centro. Prefiro gastar dois ou três reais a mais em Uber do que mofar em uma parada e correr o risco de ser assaltada”, comenta.

A redução nos horários adotada pela Vicasa também impactou nos itinerários de sábado, uma vez que a maioria das linhas que integram os bairros com o Trensurb transitam apenas até as 19 horas. Em alguns casos, há trajetos que não contam mais com a circulação de ônibus a partir do meio da tarde.

O vendedor Paulo Machado enfatiza que, pela manhã, ainda consegue utilizar o transporte público, porém a volta para casa ficou prejudicada. “O horário mudou para vir até o Centro de manhã, mas pelo menos ainda tem. Porém, solto às 16 horas e volto como para casa? Tenho que esperar o Sogal ou andar de Uber”, salienta.

Nos dias de semana, a escassez de ônibus se repete. Os trajetos estão com horários reduzidos e algumas ruas deixaram de ser atendidas com a extinção das linhas. Quem mora na Chácara Barreto, por exemplo, não pode mais contar com o transporte coletivo, via linhas de integração.

A funcionária pública Érika da Luz pontua, justamente, a falta de comunicação sobre o itinerário das novas linhas. “Primeiro eles reduziram os horários e fundiram a linha Chácara Barreto com a Estância Velha que vinha do Centro, mas passou a sair da Fátima e depois voltou a sair da estação Canoas. Assim, ficamos sem coletivo e não recebemos nenhum aviso”, critica.

Falta de manutenção

A principal mudança nos trajetos que levam passageiros de Canoas a Porto Alegre está na extinção dos horários aos domingos. Insatisfeitos desde a redução das linhas em anos anteriores, os moradores do bairro Mathias Velho, por exemplo, conseguem ir direto até a Capital em apenas cinco horários: 5h50; 7h30; 11h30; 14h30 e 17h50.

Para voltar, os coletivos partem do Terminal Conceição também em horários restritos: 9h; 13h; 15h40; 19h e 00h05. Além disso, o transporte ainda atende o bairro Rio Branco, em Canoas. “Voltei de férias em fevereiro e cheguei aqui na parada para pegar o ônibus. Apareceu um até o Mathias Velho, duas horas depois e sem cobrador. Se não fosse o motorista, sei lá até que horas eu teria esperado”, conta o atendente Lucas Soares.

Enfrentar grandes filas no Terminal Conceição faz parte da rotina dos passageiros (Foto: Jaime Zanata/Beta Redação)

Ainda no Terminal Conceição sobram reclamações dos usuários que andam de Vicasa de segunda a sexta-feira. “Pego o Estância Velha todos os dias. Além de sempre atrasado, o ônibus sai do terminal e, no meio do caminho, estraga. Um dia estragou na Farrapos e precisamos fazer baldeação para outro veículo que, quando chegou no aeroporto, estragou de novo”, recorda o empresário Dione Henrique.

O morador do bairro Olaria ainda lembra de outra situação. “Quando ainda tinha ônibus no domingo, o coletivo chegou atrasado, mas conseguimos embarcar. Em seguida, ao motorista arrancar, o carro pifou. A empresa não devolveu o dinheiro da passagem ou disponibilizar outro veículo. Tive que voltar de trem”.

Fiscalização reforçada

Ao ser procurada pela Beta Redação, a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) informou que houve uma redução de 8% nas viagens, em dias úteis, nas linhas que transitam entre Canoas e Porto Alegre. Com isso, os horários foram readequados em trajetos em que a demanda de passageiros reduziu.

“Nos últimos 10 anos, cerca de 30 milhões de passageiros deixaram de andar nas linhas de ônibus que vão de Canoas, Esteio, São Leopoldo e Novo Hamburgo à Capital. Muitas viagens não só em Canoas, mas nas outras cidades, deixaram de ser feitas por conta dessa redução. Sai muito caro para a empresa manter horários que carregam, no máximo, cinco passageiros”, ressalta o diretor do Departamento de Transportes Metropolitano da Metroplan, Danilo Landó.

A queda no número de passageiros é a principal justificativa para a redução de linhas e horários (Foto: Jaime Zanata/Beta Redação)

Além disso, Danilo enfatiza que a Metroplan vinha recebendo queixas sobre a qualidade do serviço da Vicasa. “Os passageiros se queixavam dos horários, da qualidade dos veículos e até da quantidade de vezes que eles estragavam. Mais de 500 infrações emitidas à empresa só em 2018”.

A justificativa apresentada para tantos transtornos é a crise que prejudica até a compra de insumos para a manutenção dos veículos. “A Vicasa teve que nos dizer o que estava acontecendo para que não tirássemos a concessão dela. Agora, reforçamos a fiscalização e seguimos acompanhando as alterações para que o plano de adequação seja cumprido, visando a melhora no atendimento do passageiro”, finaliza o diretor do Departamento de Transportes Metropolitano da Metroplan.

A empresa de transporte Vicasa apenas informou que as mudanças foram feitas por causa da redução de passageiros. Dessa forma, não confirmou que o plano de reestruturação foi montado devido à crise financeira.

Já o secretário de Transportes e Mobilidade Urbana de Canoas, Ademir Zanetti, afirma que a Prefeitura apenas pode fiscalizar a operação da Sogal. Quanto à Vicasa, a competência é do Governo do Estado.

Ele também ressalta que um convênio entre o município e o Estado, visando dividir a fiscalização da integração do transporte coletivo com o trem, está sendo avaliado.

“Estamos estudando o que pode ser feito. Recomendamos que os usuários do Trensurb sigam desembarcando na Estação Canoas, pois ali passam todas as linhas municipais”.

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