Com o que se preocupa a nova geração de políticos

Parte da população brasileira está apostando em representantes mais jovens

Bábiton Leão
Redação Beta
5 min readMay 27, 2022

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Vereadores Pablo Milani, Henrique Kirch e Ryan Carlos Cecchetto, todos do MDB (Foto: Arquivo pessoal)

Nas eleições municipais e estaduais de 2020, houve aumento nos números de parlamentares jovens — principalmente no cargo de vereança. Exemplo é a Câmara Municipal da capital gaúcha, que tem cerca de 37% dos parlamentares com menos de 40 anos. A pouca idade não demonstra ser um problema para os eleitores, que depositam sua confiança em jovens para representar o povo.

O Rio Grande do Sul elegeu diversos vereadores entre 18 e 20 anos, algo que não era comum em anos anteriores, já que a média de idade e perfil de um vereador no Brasil é de 44 anos, casado e com ensino médio completo, segundo levantamento do G1 com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Atualmente, estudantes da graduação já ocupam cadeiras nas Câmaras Municipais do estado. Para entender melhor essa realidade, a Beta Redação conversou com Pablo Milani, de Formigueiro; Henrique Kirch, de Salvador do Sul; e Ryan Carlos Cecchetto, de Capão do Cipó — todos do MDB e eleitos em 2020.

Juventude não significa falta de experiência

Eleito aos 19 anos, Pablo Milani conta que suas experiências profissionais e acadêmicas foram importantes para o início na vida política. Ele estagiou na assessoria de imprensa da cidade de Formigueiro e, naquela oportunidade, notou não ser representado pelas ideias apresentadas na Câmara de Vereadores. Em 2020, conquistou 186 votos entre os 6,6 mil moradores.

Em 2021, Pablo Vilani foi presidente da Câmara de vereadores de Formigueiro (Foto: Arquivo pessoal/Pablo Milani)

A experiência fez com que o parlamentar compreendesse melhor o meio político. “Pude concorrer a uma eleição conhecendo todo o trâmite e como funciona a estrutura administrativa da prefeitura, justamente por fazer esse acompanhamento”, relata Pablo. Hoje com 21 anos, ele já fiscaliza e propõe ideias e leis na Câmara do município.

A prática profissional também foi determinante para o ingresso do estudante de Administração Ryan Cecchetto, de 21 anos, na política. Ele trabalhou um ano no Ministério Público estadual antes de se candidatar a vereador. Além disso, a participação da sua família na administração do município foi fundamental para que ele se interessasse pela área. Em Capão do Cipó, cidade com 3,6 mil habitantes na região das Missões, ele alcançou 128 votos.

Mesmo sem a experiência na área, a vontade de trabalhar pela cidade levou Henrique Kirch a concorrer quando tinha 20 anos, em Salvador do Sul, no Vale do Caí. Suas características contribuíram para que o parlamentar cumprisse o seu objetivo. Em um município de 7 mil habitantes, Henrique obteve 449 votos e tornou-se o vereador mais votado da cidade, mais jovem da legislatura e presidente da Câmara de Vereadores.

Comunicação é a chave para os jovens vereadores

Os vereadores e estudantes do curso de Jornalismo Pablo Milani e Henrique Kirch usam dos ensinamentos da graduação para se comunicar melhor com o público — principalmente pelas plataformas midiáticas.

“Durante minha campanha, fiz vídeos que alcançaram indicadores gigantescos. Fico feliz com o resultado e vejo que estou no caminho certo — tanto academicamente quanto profissionalmente”, conta Kirch.

Pablo também considera que a graduação teve influência na carreira parlamentar. Hoje, ele conta com a bagagem do curso de Jornalismo para divulgar dados importantes e exercer sua função com transparência.

Ambos os vereadores trabalham com comunicação fora do parlamento. Pablo é empreendedor e criou, com um amigo, o primeiro veículo de comunicação de âmbito local, chamado Terra Fofa Online.

Já Kirch é colunista em dois jornais da região do Vale do Caí: o Expresso Regional e o Jornal Ação. “Na minha cidade não há gabinete de vereador. As sessões ordinárias ocorrem na primeira e terceira segunda-feira do mês. Sendo assim, todos possuem outras funções profissionais”, explica.

Vereador de Salvador do Sul, Henrique Kirch, ao lado do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PL)(Foto: Arquivo pessoal/Henrique Kirch)

Um cuidado em comum dos três parlamentares é com a vida particular. Todos relataram terem tido mudanças em suas vidas privadas, com cautelas necessárias para quem passa a ser uma pessoa pública. “Principalmente em municípios pequenos, onde todo mundo se conhece, aquilo que você faz com certeza reflete na comunidade”, declara Pablo.

O ensino superior dentro das Câmaras

A mistura entre jovens e pessoas mais experientes na política proporciona a possibilidade de aprender com as vivências dos colegas de parlamento. Para Ryan, a pluralidade de ideias da juventude, somada à capacidade e conhecimentos dos mais experientes, pode tornar planos em realidade.

“A maioria das coisas que a gente vai aprender, ter contato e conhecimento, é no dia a dia. São experiências que anos de estudo não conseguem ensinar como na prática”, completa Ryan Cecchetto.

Apesar disso, os estudos não são dispensados. Pelo contrário: os jovens consideram a formação acadêmica ainda mais importante. Para Ryan, essa tendência pode fazer com que, daqui a alguns anos, os parlamentos tenham representantes melhores preparados academicamente.

Ryan Carlos Cecchetto, eleito vereador no município de Capão do Cipó com 19 anos (Foto: Arquivo pessoal/Ryan Carlos Cecchetto)

A preocupação instigou o vereador a estudar sobre a possibilidade de existirem requisitos mínimos de formação para candidatos políticos. Entretanto, sua proposta esbarrou nas esferas estadual e federal, pois as normas não podem ser mudadas apenas em estados e municípios.

Para Ryan, o ideal seria que todos os candidatos tivessem, no mínimo, o ensino médio completo. “Para que a pessoa que venha fazer parte do parlamento tenha conhecimento de suas funções”, afirma.

Em Formigueiro, o vereador Pablo compartilha de pensamento semelhante. Ele acredita que se deve avançar no sistema eleitoral com representantes mais preparados, independentemente da área de atuação. O avanço poderia ser com ensino superior ou até mesmo uma prova de conhecimento técnico.

“Infelizmente, eu percebo muitas pessoas da comunidade, que concorrem e até mesmo as eleitas, que não sabem a função do seu cargo”, expõe Pablo Milani.

O problema também está presente entre o eleitorado. Segundo Pablo, existem eleitores que não sabem as diferenças entre os cargos políticos no Executivo e no Legislativo.

Kirch, de Salvador do Sul, acha que ter parlamentares mais bem preparados academicamente pode ajudar, mas não é o diferencial. Ele usa o seu próprio exemplo, pois nunca fez um curso relacionado à política.

Para ele, a vivência é o central, pois dela podem-se criar análises e aprender como resolver os problemas do cotidiano. “É sobre ter empatia e se colocar no lugar das pessoas. Ter um olhar especial para aqueles que mais precisam e, principalmente, saber que ninguém está utilizando da política para benefício particular”, reflete Kirch.

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