Combustível sobe 21,8% em 46 dias

Depois de quatro meses com preço em queda, gasolina volta a aumentar

André Martins
Redação Beta
4 min readMar 28, 2019

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A Petrobrás divulgou no último dia 19 de março, uma nova alta no valor da gasolina. Com isso, o aumento chegou a taxa de 21,85% em 46 dias, do início de fevereiro ao meio deste mês.

O motorista de ônibus, Magnus Silva, soma os gastos da gasolina no mês em torno de 400 reais. O cálculo de Magnum é do fevereiro, baseado no município de Campo Bom, cidade onde mora, que registrava o preço de R$3,89 o litro da gasolina. Somando o que o motorista utiliza e o preço atual nos postos em sua cidade, que giram em torno de R$ 4,34, em um mês, Magnum pagou R$ 30,00 a mais de gasolina.

Apesar do aumento nos últimos meses, a gasolina parecia voltar a ter um preço mais baixo. Por quatro meses consecutivos, de novembro a fevereiro, apresentou deflação. Os gráficos apontam que a inflação caiu até 5,14% ao mês. Ou seja, mesmo com a queda, os preços voltaram subir, como aponta dados do IPCA:

Dados da inflação mensal da gasolina. Fonte: IBGE

A questão dos combustíveis influencia também no preço das passagem do transporte coletivo. Jerri Schein, que trabalha há 24 anos em uma empresa de transportes públicos de Novo Hamburgo conta que um impasse com a prefeitura, sobre um aumento de passagens, devido à alta dos preços no combustível,pode acarretar no fim do seu emprego.

Domingo (31) é o último dia para que a empresa onde Jerri trabalha e a prefeitura entrem em um acordo, caso contrário, o transporte público ficará comprometido. Jerri relata que não sabe o que ocorrerá com os trabalhadores das empresas que operam na cidade. “Já foram noventa demitidos desde novembro”, diz o motorista. Coincidentemente, desde novembro os combustíveis estavam com o preço mais baixo.

Impostos e livre mercado influenciam no preço

O RS é o sétimo estado com impostos (PIS + COFINS + ICMS) mais altos, chegando a 1,934 por litro de gasolina, na porcentagem fecha 45% do valor total do combustível.

Em setembro de 2018, a Petrobras mudou sua política de venda de combustíveis, passando a seguir as cotações internacionais do mercado, aderindo a ideia de livre comércio, defendida no atual governo.

A Sulpetro manifestou em nota seu repúdio aos seguidos aumentos, e justificou que as oscilações nos preços ocorrem pela estratégia de livre mercado, que vem sendo praticada pela estatal. O presidente da Sulpetro, João Carlos Dal’Aqua afirmou, em nota lançada no site do sindicato, que os postos são vistos como os principais culpados pelas altas da gasolina, mas que os custos ocorrem em outros lugares da cadeia de combustíveis, como nas refinarias e distribuidoras.

A justificativa da Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes), para o aumento dos preços mesmo com a queda da inflação, é que a Petrobras aumentou em 27,8% o preço da gasolina nas refinarias, no intervalo de 10 de janeiro a 19 de março.

Entenda o repasse no preço dos combustíveis

O sistema usado para a distribuição dos combustíveis é semelhante a uma pirâmide, que começa nas refinarias, onde os preços são inseridos pela Petrobras. Logo em seguida, é repassado às distribuidoras, que inserem na composição do preço uma série de custos como impostos, fretes, e margens, chegando aos postos com valor maior de revenda.

Esquema do repasse do preço dos combustíveis, da refinaria até os postos (Arte: André Martins)

Segundo o banco de dados da ANP ( Agência Nacional do Petróleo), os postos mesmo com a diminuição da inflação continuam a lucrar com o mesmo percentual de custo, sem diminuir a porcentagem de preço que colocam nos combustíveis.

No mês de fevereiro de 2019, o preço de distribuição foi o menor dos últimos doze meses mas, na média, os postos inseriram um lucro de 11% em cima do preço da gasolina, diferente de setembro de 2018, quando o preço médio de distribuição foi o mais alto, mas a média do lucro inserido sobre o valor foi de 10%. Ou seja, o consumidor paga a mais por um serviço que poderia ser mais em conta, sem que os postos perdessem o lucro. Abaixo a média geral de distribuição:

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