Comer fora de casa em Porto Alegre ficou 6% mais caro no último ano
Carne, alface e ovos foram os produtos com maior índice de inflação
Queridinha no cardápio dos brasileiros, a á la minuta ficou mais cara nos últimos 12 meses. É o que mostram os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados pelo IBGE. Segundo o Instituto, as refeições fora de casa tiveram aumento de cerca de 6% desde setembro de 2021. Os itens da á la minuta que mais sofreram com o aumento de preços foram a alface (45%), o ovo (15%) e as carnes, variando de acordo com o corte e o animal.
O aumento de preços também vem sendo sentido pelos restaurantes porto-alegrenses. Gilnei Grolli, dono do restaurante Nei do Bolicho na zona norte de Porto Alegre, precisou aumentar o preço do seu buffet de à la minuta de R$ 37 para R$ 40 em outubro. “Tem muito produto que aumenta de preço a cada dia, como a carne, e tem mais os custos com funcionário, imposto, aluguel do local”, afirma Grolli.
“Quando os produtos aumentam de valor, a gente vai se ajeitando. A lógica é: tem que aumentar, mas também temos que respeitar os clientes, porque a gente acaba virando amigo. Aumentamos porque não tem outra solução, mas gradativamente. Não é um valor exorbitante, tem que ponderar”, explica Grolli.
Marcos Antônio Izaguirre, dono do restaurante Alemão do Xis, em Cachoeirinha (RS), também não teve escolha: precisou subir o valor da á la minuta nos últimos meses. O motivo é o crescimento do preço de itens como a picanha e o contrafilé, que tiveram aumento de 8,57% e 7,72% respectivamente.
A professora Claudia Luci conta que a melhor opção ainda é comer fora de casa. “Por mais que os preços tenham aumentado, como eu sou uma pessoa só, é mais vantajoso comer fora, porque daí eu não gasto com gás, que é um produto que está muito caro nos últimos tempos. Se fosse cozinhar só para mim não iria valer a pena o custo”, afirma. Sua preocupação é justificável: nos últimos 12 meses, o gás de cozinha teve um reajuste de 19,83% em Porto Alegre.
O analista de SAFRAS & Mercado, Evandro Oliveira, falou sobre o preço do arroz, que é um dos alimentos principais dentro de um prato de à la minuta e que vem passando por uma gradual recuperação de preços. “Em março desse ano o arroz atingiu um pico, isso bem após a entrada da safra, e a partir daí ele começou a apresentar recuo onde atingiu o patamar mais inferior em meados do mês de maio”, afirma. De acordo com o analista, essa recuperação se dá pelo câmbio, pois o consumo interno no momento não é suficiente para alavancar os preços do arroz, então as exportações acabam fazendo esse papel.
“O arroz, mais do que a importância econômica, tem uma importância social muito grande. A gente sabe que o arroz alimenta mais da metade da população do mundo, diferente de outros produtos agrícolas que tem outros destinos. O arroz é basicamente para consumo humano”, ressalta Oliveira.
Ele ainda destaca que o aumento do preço favorece a economia, pois o alimento passa a cobrir os custos de produção. “Conforme acontece a lenta e gradual recuperação, vemos o produtor começando a não pensar mais em uma migração de cultura. Esse avanço das exportações traz maior renda para o produtor e a manutenção da área de arroz, visto que o produto vem sofrendo com redução de área há várias safras e esses preços mais atrativos acabam trazendo um certo fôlego para o produtor”, explica Oliveira.
Ainda segundo o analista, as indústrias também sofrem impacto positivo com a geração de empregos no campo, como é o caso do Rio Grande do Sul, que tem sua economia muito ligada à produção do arroz. No Brasil, as exportações do produto foram responsáveis por uma receita líquida de aproximadamente 400 milhões de dólares. “Apesar de o país não ser um grande produtor de arroz, ele tem uma receita bastante significativa”, ressalta.
Por fim, o analista afirmou que os preços do produto nos mercados permanecem estáveis. Segundo Oliveira, o varejo ficou abastecido com estoques grandes para o ano de 2022, o que não permite que a indústria repasse o ajuste. “O arroz gaúcho de alta qualidade permanece entre os melhores arrozes do mundo. No bolso do brasileiro, no momento, não tem trazido grande impacto”, afirma.