Como é a prática esportiva no Brasil

Segundo especialistas, atividades físicas oferecem benefícios para a saúde e possibilitam inserção social

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Redação Beta
5 min readDec 6, 2019

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Atividades esportivas auxiliam o desenvolvimento de crianças e adolescentes. (Foto: Ivan Júnior/Beta Redação)

Por Gabriel Nunes, Ivan Júnior e Marcelo Janssen

No Brasil, o conceito de prática esportiva é intimamente ligado à Lei Federal 9615, de 24 de março de 1998: a chamada Lei Pelé. Entre outras resoluções, a normativa compreende que o esporte abrange práticas formais — atividades referentes aos esportes regulados por federações, com regras estabelecidas -, e não formais cuja característica é a liberdade lúdica, pois envolvem jogos e brincadeiras de caráter recreativo. Conforme o coordenador do curso de Educação Física da Unisinos, Cláudio Augusto Gutierrez, a Lei também estabelece quatro tipificações de manifestações do esporte, como mostradas no infográfico abaixo.

Tipos de manifestações do esporte. (Card: Jéssica de Alencar)

Para o pesquisador, este é o que mais se aproxima ao conceito de prática esportiva de lazer, visto que, a lei define: “desporto de participação, de modo voluntário, compreendendo as modalidades esportivas práticas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde, educação e na preservação do meio ambiente”.

Para pensar no desenvolvimento humano, por meio da prática esportiva, Cláudio Augusto menciona as funções sociais do lazer cunhadas pelo sociólogo francês Joffre Dumazedier. A primeira, é o descanso. O esporte de lazer permite às pessoas sair do ritmo competitivo do trabalho e se dedicar a uma atividade mais relaxada. “Por exemplo, um técnico em computação que passa o dia sentado, descansa correndo e disputando uma partida de basquete”, contextualiza o professor.

Outra dimensão de função social do lazer é a diversão. Como o mundo do trabalho exige concentração, rotinas e padrões de desempenho, no esporte de lazer, a pessoa pode brincar, inventar e realizar atividades mais relaxadas.

Por último, o desenvolvimento, também relacionado ao mundo do trabalho. As profissões exigem especialização, repetir o mesmo processo cada vez com perícia maior. No esporte de lazer, a pessoa pode se dedicar a atividades que desenvolvem outras facetas da personalidade humana. “Um operário pode se dedicar ao jogo de xadrez, e um executivo ao boxe ou lutas. O esporte de lazer permite o desenvolvimento integral”, explica Augusto.

De acordo com o líder do Grupo de Pesquisa Otium: Esporte, Saúde e Qualidade de Vida Unisinos/CNPq, outros benefícios do esporte ao desenvolvimento humano estão em atividades como o futebol. Uma paixão no Brasil, colabora em um processo ainda inacabado de construção de uma identidade nacional. “O esporte colabora com a construção de vínculos coletivos que, se bem orientada, podem fortalecer a democracia e o pertencimento a cultura democrática. Veja-se os exemplos da Democracia Corinthiana ou, atualmente, do Esporte Clube Bahia”, expõe.

Segundo a mestre em Ciências do Movimento pela UFRGS, Ana Paula Pagliosa Bastos, a prática de qualquer atividade física ou de esporte desenvolve aptidões físicas da coordenação motora e para a saúde humana no aspecto físico e mental. “Além de contribuir na capacidade de raciocínio lógico, atenção, percepção e concentração, também produz a inserção de interação social, especialmente nas atividades coletivas”, define.

Desenvolvimento da criança e do adolescente

De acordo com Cláudio Augusto, a primeira atividade propriamente humana é o brinquedo do bebê. “O historiador Huizinga diz que somos Homo Ludens. Brincar e brincar com regras esportivas faz parte de nosso desenvolvimento, sempre. A criança que não brinca que está doente; o adulto que não tem lazer, também”, afirma. Contudo, antes mesmo do nascimento, o corpo humano pede movimento desde o útero materno. “O feto tem prazer tônico proveniente do movimento intrauterino. Segundo o psicanalista Fereczi um prazer que vem da atividade muscular”, explica.

Como somos estimulados desde a gestação, a criança nasce propensa ao movimento, pela interação com objetos e pessoas, explica a mestre em Ciências do Movimento pela UFRGS, Ana Paula Pagliosa Bastos. Tanto que nos primeiros meses é possível iniciar o processo de estimulação, tais como a apreensão, a sustentação do pescoço e dos membros inferiores. “Nessa fase, muitos bebês vão para a piscina, onde são oferecidos estímulos. Outros estímulos também ocorrem na escola e na família”, exemplifica.

Mas quando acontecem os primeiros contatos de crianças e adolescentes com o esporte? Ela reforça que é na escola e frisa a necessidade da disciplina de educação física ser incluída desde a educação infantil, do 0 aos 5 anos. “Como a criança precisa de diversos estímulos motores, justamente nesta faixa etárias as instituições de ensino não priorizam a disciplina”, afirma.

Ela também atenta para como a matéria tem a carga horária reduzida, em detrimento às disciplinas cobradas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e vestibulares. Para a profissional de educação física, é fundamental o investimento do poder público em políticas voltadas para o esporte e o lazer, especialmente, aquelas planejadas para a população de baixa renda, que não desfruta da possibilidade de ter esporte e lazer gratuito. “Quando a criança ou adolescente pertence a um grupo, criam-se relações de afeto, companheirismo, pertencimento, empatia, respeito às diferenças, enfrentamento de desafios e superação de frustrações”, destaca Ana Paula.

Crianças e adolescentes precisam desfrutar da possibilidade de desenvolver-se. por meio da atividade de esporte ou lazer, agora, como direcionar cada faixa de idade ao treinamento mais indicado. Para crianças, um exemplo de atividade recomendada por Ana Paula é a ginástica. Ela também sugere atividades com objetos, como bambolês, bolas, faixas, cordas, pelo estímulo no aspecto do movimento. Contudo, práticas esportivas como judô e ballet também podem ser trabalhadas. “O importante é a criança, na faixa etária de 0 a 5 anos, fazer uma prática que trabalhe de maneira mais genérica”, conclui.

Pensando nos adolescentes, atividades consideradas mais especializadas são recomendadas. Entre elas, o vôlei, handebol, futsal e o judô. Ana Paula ainda argumenta que se a criança consegue vivenciar a maior possibilidade de experiências, na adolescência, poderá escolher uma atividade para especializar-se: “o adolescente vai desejar permanecer na modalidade, pois teve o primeiro contato na infância. O contrário também ocorre. Quando não vivencia, dificilmente irá gostar depois”, justifica.

Os hábitos de higiene ou de alimentação saudável geralmente são iniciados e consolidados na infância. Com a cultura esportiva, a dinâmica é a mesma. Quando a criança não experimenta as diversas modalidades e movimentos na água, nos ginásios e quadras, ou ao ar livre, dificilmente irá desenvolver o hábito na adolescência e na fase adulta. “Quando não passa pelo processo, a pessoa até fará alguma atividade física ou de esporte na vida, mas provavelmente será por uma recomendação médica, sem nenhum tipo de prazer ou desejo”, contextualiza Ana Paula.

A Beta Redação realizou uma análise dos investimentos que as cidades do Vale do Rio dos Sinos fizeram nas áreas de Esporte e Lazer. A reportagem completa pode ser lida aqui.

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A Beta Redação integra diferentes atividades acadêmicas do curso de Jornalismo da Unisinos em laboratórios práticos, divididos em cinco editorias.