Quem segura o preço com os altos e baixos da inflação?

O IPCA mede, mês a mês, a variação de 465 itens, mas nem sempre o aumento chega no consumidor. Saiba por que

Anderson Guerreiro
Redação Beta
3 min readSep 14, 2017

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Imagine como seria nossa vida se os preços dos produtos subissem e descessem na mesma proporção com que isso é visto nos levantamentos do IBGE. Todos os meses, o instituto mede a inflação dos produtos e serviços através do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esses números traduzem a realidade da economia brasileira e conseguem demonstrar quais setores estão com maior ou menor variação nos preços.

O IPCA é, atualmente, o índice oficial de aferição da inflação e tem nove grupos que englobam praticamente todos os produtos consumíveis, cada um com um peso no índice: alimentação e bebidas (23,12%); artigos de residência (4,69%); comunicação (4,96%); despesas pessoais (9,94%); educação (4,37%); habitação (14,63%); saúde e cuidados pessoais (11,09%); transportes (20,54%); e vestuário (6,67%). São 465 itens aferidos.

Sabe-se que, geralmente, os preços tarifados pelo poder público são reajustados uma vez ao ano, de acordo com o acumulado da inflação. No entanto, como fica a relação de quem vende e de quem compra um produto se nesses 12 meses houver grandes subidas ou descidas dos preços? Se na composição de um produto os itens aumentarem muito, o vendedor absorve a renda menor? Se baixarem, é justo que o comprador pague pelo preço igual?

É, sem dúvida, uma relação difícil e uma equação de solução complicada. Alguns itens no supermercado, por exemplo, realmente têm subidas e descidas dos preços cotidianamente. Mas outros, como os valores de um prato no restaurante, são mantidos por um período maior.

O preço no prato

Para ilustrar melhor, tomaremos como base um prato típico do almoço de todo mundo e que, no Rio Grande do Sul, é chamado de à la minuta. Arroz, feijão preto, batata inglesa, alface, tomate, contrafilé e ovo de galinha serão os produtos-base do prato que analisaremos a partir dos índices de janeiro a agosto de 2017 da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), uma das 10 que compõem o IPCA por regiões.

Foto: Anderson Guerreiro/Beta Redação

Em janeiro, por exemplo, o preço da alface teve alta ( 18,39%) e o da batata, queda (17,21%), segundo o IPCA. Em fevereiro, a alface teve nova elevação (12,14%), mas a batata e o tomate caíram de preço (7,61% e 17,81% respectivamente). Desse modo, o comerciante precisaria fazer um cálculo proporcional para entender se o produto que teve queda e o que teve alta podem se equiparar, mesmo se os números forem distintos. Na prática, no entanto, eles acabam absorvendo possíveis prejuízos ou lucros menores, e, em outros momentos, lucram acima da média com a queda no preço dos insumos.

O dono de uma tradicional lancheria do Centro Histórico de Porto Alegre explica o jogo envolvendo altas e baixas constantes nos preços dos produtos e a impossibilidade de repassar isso sempre ao consumidor. “O preço dos produtos sobem e descem, mas a gente não pode ficar subindo e descendo. Tem que manter o preço fixo. Tem horas que ganhamos mais, horas que ganhamos menos. A gente tem ciência e nota que os produtos que compõem um prato estão mais caros”, afirma. A lancheria serve entre 15 e 20 à la minutas por almoço, das 11h às 15h, contendo arroz, feijão, alface, tomate, batata frita, ovo e bife, que ora é de contrafilé, ora de alcatra.

As maiores altas registradas no período de janeiro a agosto na Região Metropolitana de Porto Alegre foram do tomate, em abril e julho (51,17% e 25,37%, respectivamente). As maiores quedas foram da batata, em julho ( 33,03%) e da alface, em agosto (25,62%). “Quando o prato é fechado, tipo à la minuta, não tem como substituir (os ingredientes). Quando tudo sobe, a gente sente o prejuízo às vezes, mas precisa manter os clientes. Mas claro que, quando os preços descem, a gente lucra mais”, reconhece o proprietário da lancheria do Centro. Arroz, contrafilé e ovo tiveram pequenas variações, para baixo ou para cima, ao longo dos oito meses de referência.

O cliente, à mercê da complexa gangorra da economia, também pode, em vários momentos, pagar mais caro do que deveria por determinados produtos. Mas também pode pagar mais barato. O mesmo vale para o comerciante, que pode lucrar ou ter prejuízo em relação à inflação. O difícil é chegar no ganha-ganha, quando ambos os lados têm vantagem ao mesmo tempo.

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