Como chegam direita e esquerda na corrida ao Palácio Piratini

Bábiton Leão
Redação Beta
Published in
6 min readApr 8, 2022

Ainda sem um cenário totalmente definido, analistas apontam que a disputa entre os dois campos na sucessão de Eduardo Leite será bastante acirrada

Eleições de 2022 indicam forte embate entra direita e esquerda (Foto: Divulgação/Freepik)

Ainda falta pouco mais de cinco meses para as eleições no Brasil, mas o Estado do Rio Grande do Sul já busca definições de candidatos, frentes e propostas para apresentar ao povo gaúcho. Entre vários partidos e possíveis opções para ocupar o Palácio Piratini, direita e esquerda chegam em uma disputa acirrada e fervorosa.

Ambos os lados apresentaram mais de um pré-candidato ao governo, deixando a concorrência ainda mais disputada e confusa para os eleitores. As eleições ocorrem em 2 de outubro e alguns partidos ainda não apresentaram pré-candidatos.

Até 5 de agosto de 2022, é permitida a realização de convenções pelos partidos políticos e pelas federações destinadas a deliberar sobre coligações (ver se é posssível) e a escolher candidatos a presidente e vice-presidente da República, governador e vice-governador, senador e respectivos suplentes, deputado federal e deputado estadual. Portanto, ainda pode acontecer muita coisa.

A Beta Redação ouviu analistas para saber suas leituras sobre a eleição ao governo do Rio Grande do Sul e como chegarão direita e esquerda na disputa.

O cientista político Bruno Lima Rocha afirma que o Estado e a região sul do Brasil têm uma maioria consolidada pela direita, independentemente do candidato. “Mesmo se falando de eleição, onde também implica indivíduos, condições de chapa, campanha e etc., a região sul do Brasil vem demarcando uma inclinação à direita pelo menos nos últimos oito a 12 anos”, destaca.

Bruno Lima Rocha, cientista político, professor de jornalismo e relações internacionais (Foto: Nahiene Alves/IHU)

Ao observar as divisões de votos, Bruno vê a pré-candidatura de Pedro Ruas (Psol) como mais simbólica. Para ele, a disputa de centro-esquerda se consolidará com o pré-candidato do Partido dos Trabalhadores, Edgar Pretto.

Ainda assim, é possível que haja coligação com o PSB, do pré-candidato Beto Albuquerque, que pode vir a obedecer a composição eleitoral para a Presidência da República de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB).

Do lado da direita, o professor assemelha as propostas de governo dos dois pré-candidatos, Onyx Lorenzoni (PL) e Luis Carlos Heinze (PP), podendo fazer uma campanha amistosa entre ambos para um possível segundo turno. “Mas um tira voto do outro”, completa.

Onyx Lorenzoni conta com o apoio do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PL). Ainda assim, Heinze diz que também terá total sustento do presidente. Bruno comenta que o suporte de Bolsonaro à Onyx pode transferir de 20% à 23% de votos, colocando-o em um possível segundo turno, mas não garantiria a vitória na eleição.

Edgar Pretto também pode conseguir a transferência de votos de Lula, que poderá colocá-lo no segundo turno com menor expressão. Desta forma, é de se admitir que a direita gaúcha se unifique em torno de quem vá concorrer no segundo turno.

Para o cientista político Alberto Carlos Almeida, é provável que o segundo turno das eleições gaúchas contem com candidatos da direita e da esquerda. Alberto diz que é preciso uma “surpresa grande” para que Edgar Pretto não chegue ao segundo turno, pois o Partido dos Trabalhadores é forte e estruturado no Rio Grande do Sul.

Do lado da direita, Alberto diz que haverá uma disputa forte entre os dois representantes e que não há um favorito entre os dois. “Não vai haver um segundo turno entre Heinze e Lorenzoni”, acredita.

Alberto Carlos Almeida, cientista político, escritor e sócio-diretor da empresa Brasilis (Foto: Alex Silva/Divulgação/Brasilis)

Para ele, o apoio dos candidatos à Presidência pode fazer diferença e lembra que Bolsonaro é muito forte no Rio Grande do Sul. “O Estado já foi governado pelo PT, mas tem tido muita dificuldade ultimamente”, destaca.

Benedito Tadeu César, cientista político e professor aposentado da UFRGS, diz que não há dúvidas de que a direita chegará mais forte na corrida ao Piratini, como sempre chegou, pois o segmento está consolidado no Estado.

De acordo com Benedito, o Rio Grande do Sul apresenta nitidamente três terços de eleitorado: esquerda, direita e centro. Quem vence a eleição é quem consegue atrair o terço de eleitores do centro político. “A esquerda tem menos facilidade de fazer isso do que a direita, tradicionalmente”, aponta.

Sobre a renúncia de Eduardo Leite (PSDB) ao governo do Estado, Benedito acredita que a direita sai beneficiada. “Antes de renunciar, Eduardo Leite se manteve na mídia e fortaleceu o discurso de que fez um ótimo governo. Isso reforçou a imagem da centro-direita aqui no Estado. Portanto, a sua saída e a candidatura do seu vice, Ranolfe Vieira Junior, deixa a direita fortalecida,” completa.

Cientista político e professor da UFRGS aposentado, Benedito Tadeu Cesar (Foto: Benedito Tadeu César/Reprodução Facebook)

Quanto à divisão de votos entre as frentes, Benedito também acha que quem leva vantagem é a direita, pois a esquerda tem dificuldade de agregar o centro. Quando ela se apresenta dividida entre si, como é o atual quadro, o obstáculo é ainda maior. O professor relata que, em um possível segundo turno, toda a direita se une, ao contrário da esquerda.

Benedito acredita que todos os partidos têm o direito de colocar seus candidatos , pois isso fortalece a possibilidade de eles fazerem bancadas de deputados. Também é importante a colocação de um candidato majoritário pra cada partido.

Diferentemente do Parlamentarismo — em que o chefe de Governo sai de uma escolha do Parlamento — , no sistema de governo Presidencialista o eleitor privilegia os cargos executivos e elege o representante político diretamente. Portanto, os partidos sentem a necessidade de apresentar candidatos para consolidar suas bandeiras. “Isso traz consequências. Este ato aumenta a chance de eleger mais deputados, mas, sem dúvidas, enfraquece os votos para o cargo executivo”, acrescenta Benedito.

Em relação à contribuição que os candidatos à Presidência do país podem dar aos postulantes ao governo gaúcho, ele afirma que este fato pesa bastante em uma campanha.

Nas pesquisas de intenção de votos à Presidência da República, o atual ocupante do Palácio do Planalto tem forte influência nas regiões sul e centro-oeste, onde está concentrado o agronegócio. “O Bolsonaro hoje tem um grande eleitorado no Rio Grande do Sul, e isso beneficia o Onyx”, destaca.

Já o apoio do ex-presidente Lula a Edgar Pretto não é o suficiente para vencer a eleição, segundo Benedito. “O ex-presidente não tem um grande eleitorado no Rio Grande do Sul e a divisão das candidaturas ajuda a não beneficiar a campanha de Pretto”, completa.

Para conseguir chegar a um possível segundo turno, Onyx e Pretto precisam planejar estratégias. Benedito traz a sua leitura de métodos e precauções que precisam ser tomados. Para ele, a esquerda precisa falar mais diretamente ao povo, pois agora não dá mais tempo para fazer um trabalho de base e, portanto, é necessário que se crie um discurso que atinja o seu eleitorado.

Ele acrescenta que é necessário que seja um discurso que chegue ao eleitorado de baixa renda e de menos escolaridade, que é a parcela da população mais prejudicada por problemas como desemprego, crise, perda de direitos sociais, garantias trabalhistas e a inflação.

“A esquerda agregou muito as bandeiras comportamentais, que são importantes, mas elas são um grande flanco pra campanha da direita conservadora, e estamos em um Estado muito conservador. Se eu pudesse dar uma sugestão às esquerdas, seria: sem abandonar as pautas identitárias, foquem na economia, no emprego, no desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Isso me parece fundamental”, observa.

De maneira geral, Benedito Tadeu Cesar diz que essas são as mesmas precauções que a direita precisa ter para a campanha. “Se eu pudesse dar um conselho para a direita seria: foquem o seu discurso e as suas propostas na pauta econômica, mas com o foco social”, completa.

Ainda é abril, muitas candidaturas podem acontecer. O cenário é bem complexo e o eleitor pode e deve acompanhar todos os desfechos. Mesmo com as leituras dos cientistas políticos, direita e esquerda vão seguir em disputa — como sempre estiveram — no Estado e em todo Brasil.

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