Como falar com as crianças sobre política?

Arthur Marques
Redação Beta
Published in
3 min readDec 7, 2018

Saiba como simplificar este tema para o melhorar o entendimento dos pequenos

Especialistas indicam que assuntos muito complexos devem ser tratados com analogias (Foto: Banco de Imagens Unsplash)

Roger Waters introduziu ao palco crianças com macacões na cor laranja (estilo presidiário norte americano) ao tocar a música, “Another Brick in the Wall, Part 2”, na turnê que passou recentemente por sete capitais brasileiras (US + Them). Ao tirarem seus macacões, uma camiseta preta, com a palavra resistência em inglês. Afinal, as crianças devem participar politicamente? Segundo uma pesquisa de 2016 do Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), 55% das crianças de 9 a 10 anos usam a internet mais de uma vez por dia. A partir desse dado, como as famílias devem mediar o contato das crianças com o assunto? A Beta Redação conversou com especialistas em desenvolvimento infantil para tentar responder a questão.

Momentos como os que vivemos durante as últimas eleições não impactam somente no dia-dia dos adultos. É possível afirmar que assuntos como a escolha de um novo presidente também são lembrados nas conversas das crianças. Elas, afinal, não estão alheias aos acontecimentos políticos. Pensando nisso, a pedagoga Silvana Ramos abriu todas as suas aulas, em época de eleição, com um primeiro momento de discussão sobre o que seus alunos haviam ouvido sobre o assunto. “Como pesquisadora de educação infantil, acho muito importante que os meus alunos saibam o que está acontecendo no país, isso ajuda a criar senso crítico desde pequeno”, explica a professora do terceiro ano do ensino fundamental.

A educadora infantil ressalta a importância dos pais tratarem em casa questões como ética. “Uma coisa que as crianças aqui na escola já vieram me perguntar, por exemplo, é o que é corrupção. Sobre isso, é importante que os pais tratem da questão do respeito ao outro, do não pegar o que não é seu. Devolver o que pegou emprestado. Enfim, passar adiante alguns valores”, afirma Silvana.

Como tratar questões complexas?

A psicóloga Amanda Merg acredita que assuntos mais complexos devem ser tratados dentro do mundo da criança. Desta forma, o que parece abstrato pode ser abordado em forma de analogia. “Na época dos protestos que pediam o impeachment de Dilma Rousseff, eu fiz uma comparação ao meu filho de sete anos entre país e o governo com o prédio e o papel do síndico”, comenta.

Para a doutora em comunicação Thaís Furtado, que faz pesquisas relacionando jornalismo e infância, a escola pode ser um ambiente de fala destes temas. “A escola pode ajudar a criança a pensar nos direitos de cada um, na liberdade de expressão, na importância de saber ouvir os outros, não deixar que a criança cresça em uma bolha social, fazer ouvir pessoas que pensam diferente de ti. Acho que isso é política. Isso as crianças têm condições de participar dentro daquilo que envolve a vida delas mais diretamente”.

Assim como a pedagoga Amanda, Thaís acredita que os exemplos a serem trabalhados com as crianças devem estar inseridos na realidade delas. “Eu acho importante que a criança seja estimulada a ter uma participação social a partir das coisas que tenham uma interferência direta na vida dela, que ela tenha por exemplo a possibilidade de opinar e conversar com os adultos, sobre como será feita a organização escolar, mesmo na casa ou no bairro”, ressalta.

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