Como fica a merenda escolar durante a pandemia?

Kits mensais complementam a alimentação de estudantes que tinham na escola a única refeição do dia

Guilherme Silva dos Santos
Redação Beta
4 min readSep 2, 2020

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Doações de kits de alimentação acontecem mensalmente. (Crédito: Smed de São Leopoldo/Divulgação)

Por conta da pandemia causada pela Covid-19, o período letivo da rede pública de educação foi interrompido em março e, com ele, surgiram diversos problemas. Um deles é que muitas crianças e adolescentes tinham a merenda escolar como única refeição do dia. No Brasil, muitas famílias estão em situação de vulnerabilidade social e, como mostra a pesquisa da ONG Oxfam Brasil, há 5,2 milhões de pessoas em situação de fome no país.

Em contrapartida, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), gerenciado pelo Governo Federal desde a década de 40, passou a fornecer recursos para as secretarias de educação estaduais e municipais para que elas criassem kits de alimentos que são entregues para estudantes da rede pública de ensino durante a pandemia.

Como informa a Secretaria da Educação do Estado (Seduc), foram entregues mais de 184 mil kits de alimentação escolar para estudantes da rede estadual. Além disso, há mais uma entrega programada para o mês de setembro. Já a Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Porto Alegre informa que mais de 66 mil alunos foram beneficiados pelas entregas e afirma que as ações ocorrem de forma mensal.

Famílias e professores comentam sobre as entregas de kits

A coordenadora pedagógica Andréia Mafassioli, 49 anos, da Escola Municipal Osório Ramos Correa, de Gravataí, conta que a instituição notou um aumento de pessoas que necessitavam dos kits de alimentação. “Ao longo dos meses fomos percebendo um aumento de pessoas em situação de risco e necessitando de alimentos. Então organizamos entre nós, professores e comunidade escolar, doações de cestas básicas todos os meses para ajudar essas famílias. Nós contribuímos do próprio bolso e contamos com a ajuda de familiares e amigos para colaborar também”, confidencia a coordenadora pedagógica.

Com uma mensagem via WhatsApp, formulada em conjunto por Andréia e demais professores da escola, há a divulgação da necessidade de doações, que podem ser feitas de duas maneiras. Uma é a doação direta de alimentos na escola, localizada na rua Camboim, 110, bairro São Jerônimo, em Gravataí. A outra é via depósito bancário, entrando em contato com a coordenadora pedagógica pelo telefone (51) 99334–4714. “A cesta básica que montamos custa 53 reais, então, a pessoa pode optar por doar o valor da cesta ou parte dele”, afirma ela.

Uma das beneficiárias dos kits de alimentação é Rosilene Franzen, 43 anos. Ela possui três filhos, dos quais, Alexandre, 11 anos, e Quezia, oito anos, estudam na escola Osório Ramos Correa. “Os kits de alimentação são fundamentais, eles nos auxiliam bastante”, conta a moradora do bairro São Jerônimo. Atualmente desempregada, Rosilene vive com os três filhos e o marido, que trabalha cortando grama. Um emprego sob demanda e sem carteira assinada. Ainda sobre a entrega dos kits de alimentação, Rosi, como gosta de ser chamada, ressalta que a escola está cumprindo todos os protocolos de segurança. “Sempre há álcool em gel nos dias de entregas e estão todos de máscaras”, conclui.

Enquanto a pandemia durar, as entregas dos kits de alimentos continuarão ocorrendo. (Crédito: Smed de São Leopoldo/Arquivo)

Segundo o Atlas da Vulnerabilidade Social, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Rio Grande do Sul possui um índice de 0,209 de pessoas em vulnerabilidade social. Esse índice corresponde a aproximadamente 21% da população do estado. Enquanto o Brasil possui um índice de 24%.

Números mostram uma melhora até 2014 e uma queda entre o mesmo ano e 2017. (Crédito: Índice de Vulnerabilidade Social/IPEA)

Em Sapucaia do Sul, são mais de mil famílias em situação de vulnerabilidade social. Essas famílias são atendidas mensalmente com as entregas de alimentos, em sua maioria, oriundas dos recursos destinados pelo PNAE. Thais Tavares, 28 anos, diretora de assistência ao educando do município, conta que, além dessas entregas, também há uma organização das escolas municipais de Sapucaia do Sul para arrecadar e entregar alimentos.

“Através das equipes diretivas e professores, as escolas organizam arrecadações e entregas de cestas básicas para a comunidade escolar”, afirma Thais. Para doar ou ajudar nessas entregas, basta entrar em contato com a Secretaria de Educação de Sapucaia do Sul, pelo telefone (51) 3474–3308.

Em São Leopoldo, prefeitura não utiliza recursos do PNAE

Utilizar os recursos do PNAE para a realização da entrega desses kits de alimentação é uma escolha de cada município. São Leopoldo é o exemplo de uma cidade que, por não saber quando haverá o retorno das aulas, optou por não utilizar esse recurso. O município possui uma organização própria para a entrega de kits de alimentação, como afirma o secretário de Educação, Ricardo Machado, 43 anos.

“Criamos um sistema de escolas prioritárias em São Leopoldo. São 18 das 50 escolas municipais que possuem mais de 30% dos estudantes que recebem bolsa-família. Essas escolas chamamos de prioritárias, e elas recebem uma atenção especial”, conta Ricardo.

Além dessas escolas, os estudantes das demais 32 instituições municipais de ensino que recebem o bolsa-família também ganham os kits de alimentação. “Em cada uma das entregas, doamos 13 mil kits. Famílias que possuem mais de um filho matriculado nas escolas municipais, recebem dois kits”, complementa o secretário de Educação que garante que, enquanto as aulas não voltarem, haverá entregas mensais de kits de alimentação no município.

Por se tratar de verba municipal, diferentemente de Sapucaia do Sul, a Secretaria de Educação de São Leopoldo não recebe doações de pessoas físicas ou jurídicas. Para realizar doações de alimentos, a pessoa que possui interesse precisa entrar em contato com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social pelo e-mail sds@saoleopoldo.rs.gov.br.

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