Categorias de base: da rotina de treinos ao contato com agentes

Profissionais explicam como é feito a captação de jovens atletas

Matheus Vargas
Redação Beta
4 min readApr 22, 2019

--

Cada vez mais jogadores de categorias de base vêm atraindo olhares de empresários (Arquivo pessoal/José Henrique)

Categorias de base são formadas por jovens que sonham em receber uma oportunidade em seus clubes e se tornarem jogadores de sucesso. Para jogadores de categorias de base de equipes menores, esse sonho se mantêm e, junto dele, a vontade de um dia jogar num grande time. Este é o caso dos atletas Lucas Moura, Thomás Severo e José Henrique, jogadores do São José.

Cada vez mais os times da Europa e Oriente Médio estão atentos aos torneios de base brasileiros. Recentemente, tivemos os casos de Vinicius Júnior, que foi vendido ao Real Madrid, por 45 milhões de euros (164 milhões de rais), sem ao menos ter estreado pelo Flamengo, e o atacante Tetê, da base gremista, que já se transferiu para o Shaktar Donetsk, rendendo 42 milhões sem ter jogado uma única partida pelo time principal do Grêmio. Com esses recentes casos, empresários estão de olhos bem abertos aos novos talentos.

O representante geral da D20 Sports Brasil, Lúcio Araújo, empresa que representa atletas do mundo todo, diz que a abordagem feita aos jovens atletas se dá de forma ética: “Antes de mais nada, buscamos sempre saber se o atleta já confiou a um outro intermediário a gestão de sua carreira. Em caso positivo, o contato é feito sempre na pessoa de seu agente, no intuito de construir uma parceria de trabalho”, destacou.

Caso o atleta não possua um representante, o contato é feito com os responsáveis, onde é apresentado o trabalho da D20 e o que é planejado para a sequência da carreira do jogador. “Apresentamos como podemos colaborar para o seu crescimento, apresentamos a eles quais foram as características do atleta que chamaram a atenção de nossa equipe e, por fim, as características do contrato de prestação de serviços que firmamos com os atletas”, completou.

Já Alexandre Mazuhim, profissional responsável pela captação para o empresário Pedro Otto, que representa jogadores do Brasil todo, diz que evita ao máximo o contato direto com os atletas. “Em 99% dos casos não falamos com os meninos, a maioria das vezes conhecemos os pais nas arquibancadas assistindo os jogos. Quando não os encontramos, procuramos nas redes sociais e, se não der certo, como última opção, com muito cuidado, falamos com o menino para pedir o contato do responsável, mas posso dizer que foram poucas as vezes em que chegamos no atleta”, ressalta Alexandre.

Ambos os representantes possuem uma equipe que realiza um trabalho de mapeamento e acompanhamento das competições mais importantes. Buscando atletas que tenham qualidade técnica apurada e que apresentem margem de evolução técnica e física. Após essa primeira etapa, são analisados os aspectos extracampo do jogador.

Extracampo é tudo aquilo que o atleta faz fora das quatro linhas. São analisados pontos como desempenho escolar, comportamento e condições familiar. Para se tornar um atleta de alto rendimento, não basta técnica, também é necessário ter disciplina.

Lucas Moura chegou ao Zequinha através do EFIPAN (Arquivo pessoal/Lucas Moura)

O centroavante do São José, Lucas Moura, de 16 anos, chegou ao clube através da competição Encontro de Futebol Infantil Pan-americano (EFIPAN). Como vive na cidade de Osório, Lucas precisou mudar o turno dos estudos para a noite. “Nossos treinos são às 14h e, como eu venho da cidade de Osório, jogava logo após o almoço e isso me fazia mal. Quando fui para a noite isso melhorou muito”, declarou. O atleta ainda não conta com um agente.

Já o goleiro José Henrique, de 17 anos, diz que chegou ao Zequinha através de um convite. “Eu estava em um jogo de salão e a mãe de um amigo que já jogava no São José perguntou se eu queria fazer um teste. Fiquei em dúvida, pois nunca tinha jogado em um clube de futebol, apenas salão. Fomos para o treino, treinei muito bem, e gostei do clube e do time. Foi assim que cheguei no São José, onde estou há 8 anos”, lembrou.

José Henrique se desloca de São Leopoldo para os treinos (Arquivo pessoal/José Henrique)

A rotina entre a escola e os treinos é muito puxada, considerando que José mora em São Leopoldo e estuda até as 12h30 e não tem tempo de ir para casa, sendo assim obrigado a almoçar enquanto realiza o deslocamento até a capital de trem. “Eu vou para a escola de bicicleta e, depois quando saio da escola, vou de bicicleta até o trem, onde a deixo na casa de um amigo, em Porto Alegre. De lá tenho carona para ir e voltar do treino”, destacou. José também ainda não tem um agente.

Thomás Severo está na equipe desde 2017 (Arquivo pessoal/Thomás Severo)

O atacante Thomás Severo, de 16 anos, chegou ao São José através de uma avaliação da equipe, em 2017. O atleta mora em Porto Alegre e estuda em uma escola próxima de sua casa, facilitando o deslocamento até os treinos. Thomas já conta com um agente, mas volta e meia surgem especulações. “Desde meus 11 anos de idade tenho um agente, durante esse tempo surgiu algumas especulações de outros interessados”, disse.

--

--