CRÍTICA: Baile de luz ancestral

Novo álbum do rapper paulistano Rincon Sapiência mistura batidão e atabaque

Henrique Bergmann
Redação Beta
2 min readNov 30, 2019

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Capa do disco, disponível nas principais plataformas digitais de música. (foto: Mgoma/divulgação)

Figura conhecida no mundo do rap e chegando aos 20 anos de carreira, Rincon Sapiência busca manter a essência do rap clássico sem deixar de lado as novidades e as experimentações. Passando por elementos do funk e da música eletrônica com referências de ritmos e da história africana, seu terceiro disco, intitulado Mundo Manicongo: Dramas, Danças e Afroreps, consegue levar para os ouvintes reflexão e modernidade com suas batidas e letras.

O título do álbum presta um a”homenagem” que já deixa claro o caminho que as ideias tomam: Manicongo era como se chamavam os reis do Reino do Congo, antigo império africano do século XV, local que hoje corresponde a Angola, República Democrática do Congo e Gabão.

As rimas do MC também evidenciam a mistura dessas referências oriundas da África e do Brasil. Um exemplo disso pode ser visto na segunda faixa do disco, Meu Ritmo. Nela, o rapper descreve o ambiente de um baile funk ao mesmo tempo que faz reverência à sua origem africana.

“É o fluxo onde as caixa treme

É o reflexo, é o bumbum que mexe

Da quebrada nóis tá saindo

Olha como nóis tá pesadão, né?

Pegada funk, tipo Guimê

Mas o meu tambor vem da Guiné.

No baile é rabo de saia

Na luta é rabo de arraia

Capoeira minha laia

Meu ritmo.”

A mescla de referências também é percebida pela escolha dos artistas que participam do trabalho de Rincon. Além de grandes nomes do cenário do rap nacional, como Mano Brown e Rael, Mundo Manicongo apresenta artistas de funk e axé, como Gaab e ATOOXXÁ.

Rincon Sapiência já é considerado um dos grandes nomes do Rap nacional. (foto: Mgoma/divulgação)

Esse tipo de mistura já virou uma marca registrada nos trabalhos de Rincón. A fusão entre diversos ritmos já podia ser escutada em seus dois primeiros álbuns, SP Gueto BR (2014) e Galanga Livre (2017), com participações de Sidney Magal e Alice Caymmi. Porém, em Mundo Manicongo, a mistura se tornou mais clara para o público, já que, além de ser produzido por seu próprio selo independente, o MGoma, o disco foi a estreia do MC como produtor musical.

O álbum expõe o tipo de artista que Rincon Sapiência é: um músico que consegue juntar a festividade e a alegria dos ritmos africanos e do funk com a essência do rap, levando reflexão social por meio de letras diretas e contestadoras. Ele, no entanto, não abre mão da malemolência.

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