Conheça o Centro de Valorização da Vida e saiba como ser um voluntário

Rede de atendimento oferece apoio emocional para pessoas de todo o país através do número 188

Laura Rolim
Redação Beta
4 min readMay 23, 2023

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Centro de Valorização da Vida foi fundado em São Paulo, em 1962. (Imagem: Lucas Alves/Beta Redação)

Estar disposto a ouvir, não julgar e acolher quem estiver precisando de ajuda são os requisitos para quem deseja ser voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV). A associação civil presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato.

No mês de março, mais de 22 mil ligações foram realizadas somente no Rio Grande do Sul para o Centro de Valorização da Vida (CVV), através do número 188. A instituição foi fundada em São Paulo, em 1962, e atende 24 estados mais o Distrito Federal. Anualmente, o CVV recebe mais de 3 milhões de atendimentos, mobilizando aproximadamente 4 mil voluntários.

Um levantamento produzido pelo Ministério da Saúde, divulgado em 2022, indicou que 17,5% dos adultos de Porto Alegre receberam um diagnóstico médico de depressão. A pesquisa aponta que a capital gaúcha tem o maior índice da doença dentre todas as capitais brasileiras — o que indica a importância de iniciativas como a do CVV, que busca prevenir e amparar pessoas que atravessam alguma dificuldade emocional.

Como é o processo de voluntariado

Oferecer uma escuta atenta, sensível e distante de qualquer opinião pessoal é uma tarefa difícil. Para isso, os voluntários que pretendem fazer parte do CVV precisam passar por uma longa preparação antes de iniciarem os trabalhos. O curso para formação de voluntários dura de 12 a 14 encontros de quatro horas cada um, em que os candidatos são avaliados em uma série de situações.

Morador de Novo Hamburgo, Anildo Pereira é voluntário no CVV desde 2002, ao lado da esposa. “Nós aprendemos a ouvir e a escutar. Porque quem fala é a outra pessoa. Nós somente interagimos em alguns pontos trazendo um parafrasear sobre o que a outra pessoa está nos dizendo. Não damos conselhos, pois não somos profissionais de saúde. Somos amigos temporários”, explica.

Os encontros de formação dos voluntários acontecem de forma online aos sábados de manhã. Pereira esclarece que o curso é dividido entre teoria e prática. Nos primeiros encontros, são estudadas as características da sociedade, quem é a pessoa que procura o CVV, o que ela quer e o que ela não quer. Num segundo momento, a formação aborda o papel do voluntário, destacando a importância de não projetar os pensamentos pessoais sobre o outro, de ouvir atentamente e de aceitar a outra pessoa para, a partir disso, trabalhar as formas de conversar com quem entra em contato com o serviço.

Nesse período, chamado de estágio, os voluntários são treinados desde situações mais simples até contextos mais complexos. Depois da teoria, os candidatos partem para a prática. Os facilitadores simulam uma ligação para exercitar e desenvolver a escuta atenta e a importância de saber ouvir.

Para se candidatar, os voluntários devem ser maiores de 18 anos e participar do curso de formação. Caso sejam selecionados, precisam ter disponibilidade de tempo para trabalhar em plantões de 4h30 semanais.

De acordo com Pereira, os cursos começam com turmas entre 50 e 60 pessoas, mas geralmente terminam com apenas 20. É normal que os candidatos desistam no meio do processo, já que o trabalho costuma ser bastante intenso.

“Alguns simplesmente não voltam mais, pois não estão preparados. Quando as pessoas demonstram interesse em ser voluntário, muitas vezes não imaginam o que vão encontrar do outro lado. Ao longo do curso, elas mesmas percebem que não têm estrutura emocional e acabam desistindo”, explica.

É importante destacar que os voluntários podem ser pessoas de todas as áreas de atuação. Basta querer ajudar alguém que esteja precisando de uma palavra amiga. Esse é o caso de Margarete da Silva, que trabalha como professora de Educação Física no ensino fundamental e decidiu dedicar algumas horas da semana para o CVV. Em 2021, ela iniciou o processo de seleção de voluntários e começou a fazer parte do posto de serviço 188, em Novo Hamburgo, através das ligações telefônicas.

Margarete conta que, inicialmente, a percepção que ela tinha sobre o trabalho era de oferecer o seu tempo para ouvir quem não tinha com quem conversar. “Justamente por ter esse desejo de trabalhar com voluntariado, percebo o significado do CVV. O mais importante é ser esse canal de escuta. Muitas vezes, nas nossas relações, não conseguimos conversar com alguém. Tantas pessoas procuram ajuda, procuram ser escutadas”, expõe.

CVV atende gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, por telefone, e-mail e chat. (Imagem: Lucas Alves/Beta Redação)

Além dos atendimentos, o CVV desenvolve, em todo o Brasil, outras atividades relacionadas a apoio emocional, com ações abertas à comunidade que estimulam o autoconhecimento, a melhor convivência em grupo e consigo mesmo.

O Grupo de Apoio a Sobreviventes de Suicídio (GASS) é uma dessas iniciativas, que nasceu em Novo Hamburgo e, no mês de junho de 2023, completa 10 anos. Diferentemente do 188, que funciona como uma prevenção, o GASS atende sobreviventes de si, pessoas que tentaram o suicídio e não foram a óbito, além daqueles que perderam um familiar ou amigo para o suicídio. “Essas pessoas vêm conversar conosco. Desabafam, contam suas histórias, choram, trazem as suas dores”, conta Pereira.

Os encontros acontecem presencialmente nas primeiras e terceiras terças-feiras de cada mês.

Onde

Endereço: Rua 3 de Outubro, 667, 2° andar, Estação Rodoviária Normélio Stabel, Bairro Ideal — Novo Hamburgo

Dia: primeiras e terceiras 3ª feiras do mês

Horário: 19h30 às 21h

Contato: comunidade.novohamburgo@cvv.org.br

Seja voluntário

Para se cadastrar e participar do curso de preparação para voluntários, acesse o site do CVV: https://www.cvv.org.br/voluntario/

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