Consumidores atentos à sustentabilidade buscam opções veganas e naturais

Na tentativa de encontrar produtos saudáveis e ecológicos é preciso ficar atento aos rótulos e evitar ciladas

Amanda Bernardo
Redação Beta
5 min readJun 21, 2023

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É vegano? A pergunta, que toma conta de restaurantes e comércios, tem se tornado cada vez mais presente em lojas de cosméticos e produtos de beleza e higiene. Consumidores conectados a questões socioambientais vêm optando por marcas que se posicionam como naturais e livres de crueldade animal.

A produção de cosméticos veganos abrange itens de uso diário, opções de tratamento para pele e produtos capilares. (Foto: Lucas Alves/Beta Redação)

Para a estudante de Fisioterapia, Juliana Silva, 22 anos, o processo não foi diferente. Dois anos atrás, em seu aniversário de 20 anos, ela ganhou cosméticos de presente e foi conferir os rótulos por curiosidade. O choque com a lista de ingredientes foi grande e a levou a fazer alguns questionamentos. “Passei a me perguntar: ‘o que tem no meu xampu? E nos meus cremes?’ Isso me levou a trocar de produtos e marcas”, comenta. Hoje, usa apenas cosméticos veganos e tem feito ajustes também na alimentação.

Camila Alves, 26 anos, estudante de Biologia, passou por transformações parecidas. Com o conhecimento adquirido na graduação e em um curso de saboaria — focado na confecção de sabonetes artesanais — , resolveu pôr os aprendizados em prática e criar produtos para uso próprio. A experiência profissional anterior como empreendedora a impulsionou a fazer alguns testes e distribuir para amigos.

Há cerca de três anos, Camila comanda a A Sabida, empresa focada na produção de cosméticos veganos para pele oleosa confeccionados de forma artesanal. O início do projeto aconteceu em paralelo a outra atividade profissional, mas logo ela pôde focar todos os esforços na consolidação da marca. A atuação iniciou em feiras e, hoje, conta com espaço físico no Centro de São Leopoldo (RS).

As mudanças nos hábitos de consumo de Camila se assemelham à trajetória dos clientes da empresa. Ela estima que, aproximadamente, 30% do público que consome os produtos da sua marca seja vegano. Em geral, quem procura a loja está na fase de transição para opções mais saudáveis e benéficas a si e ao ambiente.

Na etapa de transição, as buscas começam, via de regra, por produtos de uso cotidiano. Desodorante, xampu, condicionador e pasta de dente são alguns dos mais procurados, explica Camila. Quem compra permanece fiel à marca e recomenda, pois a maioria das vendas acontece através de recompra ou de indicação.

Previsão de crescimento

Com o aumento da procura por produtos nas prateleiras, a tendência de aumento de vendas estimula o setor a produzir novas opções. A consultoria Grand View Research (GVR) traçou estimativas para o mercado mundial de cosmetologia vegana e apontou que, em 2025, a previsão é de que os produtos vendidos alcancem a cifra de 20,8 bilhões de dólares. Em solo nacional, a estimativa para o quinquênio de 2020 a 2024 é de um aumento de 5% a 10% nas vendas.

Em 2021, somente o mercado de orgânicos foi avaliado em 19,3 bilhões de dólares no mundo inteiro, segundo a GVR. O continente asiático domina o consumo, mas a crescente é esperada também em outras partes do mundo.

A Sabida tem produção exclusiva, desde o início, de produtos veganos e cruelty-free. (Foto: Lucas Alves/Beta Redação)

Afinal, o que significa ser vegano, orgânico ou natural?

Para quem busca mudar, as opções podem ser confusas. Ler o rótulo é fundamental. Da mesma forma, é importante entender o significado de selos e nomenclaturas específicas.

Confira os principais tipos de produtos:

Orgânico: para ser considerado orgânico, um cosmético deve conter, no mínimo, 95% de matéria-prima orgânica certificada. Para os outros 5%, as indústrias podem adicionar água ou matéria-prima orgânica ou natural não certificada. Todo produto orgânico é, também, natural.

Natural: os cosméticos naturais devem conter, no mínimo, 5% de matéria-prima orgânica e 95% de matéria-prima natural com ou sem certificação. O processo de produção da matéria, que inclui minerais e vegetais, é convencional. Por isso, nem sempre um produto natural é, também, orgânico.

Vegano: para ser considerado vegano, o produto não pode conter ingredientes de origem animal nem ser produzido a partir de testes em animais.

O crescimento dos produtos veganos movimentam cada vez mais o mercado de cosméticos. (Imagem: Lucas Alves/Beta Redação)

“Greenwashing”: falta de regularização impede transparência

O número de produtos nas prateleiras que assumem a estética clean nas embalagens, com símbolos que remetem a elementos naturais e utilizam a paleta de cores verde aumenta todos os dias. “A gente compra pela parte da frente”, resume Camila, ao avaliar a questão.

Na intenção de buscar alternativas mais sustentáveis para a pele, consumidores escolhem produtos que se identificam como naturais sem oferecer a devida atenção a, por exemplo, ingredientes e métodos utilizados pela marca.

Sem a regulamentação oficial, o greenwashing se torna um problema devido ao fato de produtos tentarem mascarar os efeitos à saúde e ao meio ambiente. É o que Marcos Lovato, mestre em Direito com pesquisas na área do direito ambiental, define como “manobra publicitária que usa a preservação ambiental apenas como forma de apelo ao consumidor”.

Mas então, quem certifica?

Hoje, o Brasil não regulamenta de maneira específica a composição de produtos que se intitulam veganos, orgânicos ou naturais. No entanto, as empresas buscam os selos disponibilizados por instituições para comprovar os processos:

Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB): com programa de certificação criado em 2013, a organização fornece o selo vegano a alimentos, cosméticos e itens de higiene. Para garantir o selo, é necessário não ter produtos de origem animal na composição e não realizar testes em animais — a normativa se aplica, inclusive, às empresas fornecedoras.

People for the Ethical Treatment of Animals (PETA): a organização fornece dois selos, o Cruelty-free e o Approved Vegan. O primeiro certifica quanto aos testes em animais na cadeia de produção — um produto pode não ser testado em animais, mas conter ingredientes oriundos, como o mel. Enquanto isso, o segundo selo garante a certificação quanto às matérias-primas utilizadas — com isso, o produto é, então, considerado vegano.

Internacionalmente, outras organizações como o Cosmetic Organic Standard (Cosmos), a Natrue e o Instituto Biodinâmico (IBD) também fornecem certificações. Portanto, ao pesquisar um produto, é necessário conferir o selo impresso na embalagem e observar quais são as diretrizes que esse produto segue.

Foram usados nas pesquisas de termos e conceitos os seguintes estudos:

Cosmetologia: origem, evolução e tendências”, de Natália Cristina Sousa Silva, Amanda Luzia Soares De Moraes, Denize Aparecida Martins, Lettícia Moronari Andrade e Ragila Sabrina Fernandes Pereira;

Cosméticos veganos, naturais e orgânicos”, de Ana Laura Martins Caiado;

Cosméticos Naturais, Orgânicos e Veganos”, de Juliana Flor, Mariana Ruiz Mazin, Lara Arruda Ferreira.

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