Mulheres fazem a gestão dos recursos da casa, mas a autonomia financeira diminuiu

Taxa de empregabilidade de mulheres, durante o período pandêmico é a menor desde os anos 90

Carolina Santos
Redação Beta
3 min readSep 15, 2021

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Pesquisa do Instituto Axxus, revela que para 46% dos entrevistados a principal responsável pela administração das finanças familiares, durante a pandemia, é uma mulher. (Foto: Avel Chuklanov/Unsplash)

As finanças pessoais ou familiares são quaisquer ações, pensamentos e tomadas de decisões que envolvem gastos, seja os do dia a dia, como o cafezinho e compras do supermercado, como as maiores, como a aquisição de um carro, de uma casa ou de um apartamento. Elas envolvem, portanto, o gerenciamento de recursos e investimentos.

Uma pesquisa realizada entre junho e agosto pelo Instituto Axxus, uma startup de tecnologia da Unicamp, revelou que 46% dos entrevistados afirmaram que a principal responsável pela administração das finanças familiares, durante a pandemia, foi uma mulher, enquanto 43% disseram que que foi o homem.

A vice-presidenta da UGEIRM — Sindicato dos Agentes da Polícia Civil do RS, Neiva Carla, de 50 anos, tem três filhos e é uma dessas mulheres. Mesmo antes da pandemia ela já era a fonte central de renda da casa e da administração das contas. Ela explica que não é muito organizada com as finanças. “Antes da pandemia, eu ia anotando o que precisava pagar e o que recebia, em um caderno. Durante a pandemia, eu consegui elaborar uma planilha de Excel”, ela lembra. Além disso, Neiva completa que nem sempre consegue anotar todos os dados e, por vezes, perde-se nas informações financeiras, precisando retomar toda a organização.

Segundo a Coordenadora do Curso de Administração da Escola de Gestão e Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Emanuelle Nava, é preciso ter cautela ao olhar os dados sobre mulheres tomando à frente nas finanças pessoais durante o período pandêmico. “Será que as mulheres tomaram essa posição porque estão empoderadas ou porque várias acabaram perdendo ou deixando de lado seu emprego para, em um momento de necessidade, ficar com os filhos em casa, por exemplo”, indaga ela.

De acordo com uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as mulheres seguiram em desvantagem em relação aos homens, durante a pandemia. No segundo trimestre de 2019, a taxa de ocupação delas era de 46,2%, inferior a do sexo masculino 64,8%. No mesmo período de 2020, houve redução para 39,7% no caso das mulheres, e 58,1% para os homens. Mesmo antes da pandemia, as mulheres já possuíam uma chance maior de mudar da situação de ocupada para desempregada, no entanto, a crise intensificou ainda mais essa condição. A mesma pesquisa aponta ainda que esse foi o nível mais baixo de ocupação feminina desde 1990, quando a taxa ficou em 44,2%.

Gráfico demonstra como as mulheres seguem em desvantagem em relação aos homens quando a questão é ocupação de vagas no mercado de trabalho. (Foto: Pesquisa Ipea/Reprodução Beta Redação)

A professora Emanuelle Nava comenta o que parece ser um paradoxo: “muitas vezes quando acontece esse movimento das mulheres ficarem em casa, elas acabam tomando esse lugar de chefe das famílias, de pessoa que organiza as finanças, que vai no mercado”. Para ela, se isso acontece, há um retrocesso frente a todas as evoluções femininas no mercado de trabalho e no mercado financeiro.

Nava explica que, o tabu já enraizado na sociedade é uma barreira difícil de ser quebrada para muitos homens. “Quando a mulher e seu parceiro conseguem conversar mais e há uma desconstrução acontecendo em casa, fica muito mais fácil de ter o que seria o mais saudável: organização financeira e decisão financeira para investimento compartilhado”, comenta a professora.

A policial Neiva, comenta que esse tabu é uma constate desconstrução em sua casa. “Até hoje não conseguimos resolver esta questão de maneira aberta e clara. Temos um acordo tácito e não falamos sobre isto, o que já gerou algumas saias justas”.

A especialista em finanças pessoais, Emanuelle Nava, diz que não há um único jeito de se fazer o controle dos gastos, o importante é fazer. “Você precisa aprender qual é o teu estilo. Talvez o teu estilo seja pegar um caderno todo dia e anotar o que você gasta, fazendo mais sentido, pode ser, inclusive, um bloquinho”, ensina a professora.

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