Copa do Mundo altera calendário de times brasileiros

Grandes clubes terão mais tempo de preparação para a temporada 2023

Arthur Mombach Schneider
Redação Beta
5 min readNov 14, 2022

--

Equipe do Aimoré treina no Estádio João Corrêa da Silveira, em São Leopoldo. (Foto: Leonardo Oberherr/CE Aimoré)

No ano de 2022, a Copa do Mundo de Futebol será realizada no Qatar. Para evitar as altas temperaturas do verão árabe, os jogos, que geralmente ocorrem nos meses de junho e julho, iniciarão no final de novembro. Essa mudança provocou alterações no cronograma de muitos times. Ao invés do calendário de campeonatos acabar em dezembro, como de costume, ele terminará em novembro, com as últimas rodadas do Brasileirão Série A já concluídas.

Como consequência da Copa do Mundo, os campeonatos foram antecipados, o que afetou o planejamento dos grandes clubes, que ganharam mais tempo de preparação para a temporada 2023. Diferentemente dos grandes, os times de menor expressão acabaram não sendo tão afetados. O Clube Esportivo Aimoré, de São Leopoldo, e o Monsoon Futebol Clube, de Porto Alegre, são alguns exemplos no Rio Grande do Sul.

O Monsoon venceu a segunda divisão gaúcha e subiu para a Divisão de Acesso. Segundo o supervisor das categorias de base do clube, Romeu Vieira, não houve mudanças no calendário devido à Copa do Mundo. “Particularmente, não afetou. No profissional, a gente tem o calendário completo e vai treinar até o final do ano, mesmo sem competição. As categorias de base estão disputando uma competição, que vai ocorrer junto à Copa do Mundo”, afirmou.

A competição referida pelo supervisor é a Sulicampe. Em novembro, o time viajará para a Argentina para a disputa. Em relação à próxima temporada, Romeu comenta que, por causa da Copa do Mundo, o clube terá mais tempo para se preparar para as competições.

Já em relação ao Aimoré, o dirigente das categorias de base do clube, Daniel Lemmertz, afirma que o calendário não sofreu mudanças. Segundo ele, a base continua com as atividades regulares — só acontecerão alterações de datas nos dias em que a seleção brasileira estiver em campo na Copa. O elenco profissional também não foi afetado, visto que a última competição disputada na temporada é a Copa da Confederação Gaúcha de Futebol (FGF), que termina em novembro.

Jogador do Aimoré aguarda a substituição. (Foto: Leonardo Oberherr/CE Aimoré)

“Para os ‘clubes pequenos’, a Copa, nesse período, me parece até melhor do que em julho, onde teríamos a suspensão dos torneios por 30 dias. Mas os salários continuariam sendo pagos. Agora, muitos contratos já se encerraram, porque os jogadores tinham contratos com prazo determinado”, comenta Daniel.

De acordo com o dirigente das categorias de base do Aimoré, a próxima temporada não será afetada, pois o time já está em fase de negociações com os jogadores que passarão a integrar o elenco que disputará o Campeonato Gaúcho de 2023. A reapresentação do grupo de jogadores está marcada para a segunda quinzena de novembro.

Para o comentarista e apresentador da Rádio Índio Capilé, Natan Dalprá, as mudanças afetaram o Aimoré. “O calendário ficou mais apertado do que o normal, basta ver um campeonato de poucas datas, como o Gauchão”, comenta. O profissional, inclusive, explica que o time precisou de mudanças para se adequar com o início da Copa.

Ele também explica que devido à necessidade de apressar os jogos para terminar a temporada cedo, o Aimoré precisou disputar partidas em um curto espaço de tempo na disputa da Copa da Federação Gaúcha de Futebol (FGF). Para ele, isso foi um dos motivos da eliminação do clube da competição. Em relação à próxima temporada, Natan acredita que haverá uma pré-temporada maior, permitindo ao clube pelo menos 40 dias de preparação.

“O calendário do ano que vem deve se ajeitar, porque as coisas já vão voltar a um ritmo convencional. Não é um calendário ideal, sobretudo para os times pequenos como o Aimoré que têm poucos jogos durante o ano, mas vai ter um intervalo de tempo maior entre as partidas. Isso sempre é benéfico para a recuperação de atletas, pela logística e para o andamento das coisas num todo”, destaca Natan.

As muitas partidas na temporada brasileira

O calendário de jogos de futebol no mundo varia entre os países. No caso do Brasil, as competições normalmente começam no início de cada ano. Porém, esse é um modelo que poucos países utilizam.

Na Europa e nas Américas do Norte e Central, outro formato de calendário é utilizado. Nesses locais, os campeonatos iniciam no meio do ano e terminam no primeiro semestre do ano seguinte. Isso acontece em função das estações serem diferentes nos hemisférios.

Alguns países da América do Sul, como Argentina, Uruguai e Paraguai também utilizam esse formato. No entanto, nesses locais, os campeonatos são divididos em dois — Apertura e Clausura —, ao invés de ter apenas um campeonato. Os dois vencedores definem o grande campeão nacional do ano.

No Brasil, o calendário sempre gera debates entre jogadores e treinadores pelo fato de que há pouco tempo entre os jogos. Um clube da Aérie A do Campeonato Brasileiro costuma disputar até quatro campeonatos em um ano. Se estiver classificado para disputar um torneio continental, um mesmo time pode entrar em campo em até 70 partidas por temporada.

Técnicos como Abel Ferreira, do Palmeiras, costumam reclamar desse curto espaço de tempo para o descanso dos atletas. Em entrevista para a ESPN, ele critica a Confederação de Futebol Brasileira (CBF). “São cinco séries seguidas: jogo, recuperação, recuperação, jogo. Jogo, recuperação, recuperação, jogo. Eu não acredito, eu não sei se já vivenciei uma série de cinco jogos seguidos com intervalo de dois dias na minha vida”.

Ele explica que, dessa forma, os jogadores vão chegar em seu limite físico e mental e que, devido a isso, nem sempre será possível que o Palmeiras mostre um grande futebol.

Outros técnicos, como Renato Gaúcho, do Grêmio Footbal Porto-Alegrense, Luiz Felipe Scolari, do Club Athletico Paranaense, e Mano Menezes, do Sport Club Internacional, também são grandes combatentes ao formato do calendário brasileiro.

Um estudo realizado pela empresa Pluri Consultoria, em 2020, apontou que o calendário do futebol brasileiro é incompatível com o futebol profissional e que prejudica os clubes, sejam eles de pequena ou grande expressão. Segundo a pesquisa, os clubes brasileiros ocupam apenas 30% do calendário útil, sendo apontada a necessidade urgente de uma reestruturação.

Colunista da Gaúcha Zero Hora e comentarista da Rádio Gaúcha, Leonardo Oliveira acredita que nos próximos anos haverá um novo calendário para o futebol devido à criação de uma nova liga de futebol brasileiro, a Libra. Isso porque os clubes teriam um valor mais justo como pagamento no início da competição, dispensando as partidas dos estaduais. Atualmente, esses jogos têm um único objetivo, que é o de gerar caixa para o início do ano dos grandes clubes do futebol.

--

--