Copinho a favor da liberdade

Paola Guimarães
Redação Beta
Published in
5 min readOct 12, 2018

Usuárias dos coletores menstruais são unânimes sobre os benefícios pessoais e ecológicos com o uso da alternativa

Assunto que ainda é tabu entre as mulheres e para uma sociedade em geral, o fluxo menstrual vem ganhando força nas discussões nas redes sociais, como os grupos do Facebook e canais do YouTube. Além das questões ligadas ao desconforto físico e emocional, há também uma preocupação com o aspecto ambiental a partir do uso de coletores e calcinhas menstruais.

Os coletores menstruais surgiram no final da década de 1930, tiveram sua fabricação pausada por falta de matéria prima em meados da décadas de 1960, voltando a serem produzidos com toda a força no fim dos anos 80 e permanecem no mercado nacional e internacional até hoje, com cada vez mais adeptas.

Satisfação com o coletor

(Foto: Pinterest)

Júlia Sant’Anna, estudante de 20 anos, utiliza o coletor há meio ano. Ela conta que a maior motivação para o uso foi a questão ambiental e os diversos elogios e recomendações que ouviu de amigas que fizeram a troca do absorvente convencional pelo produto.

Conforme a sua experiência, Júlia cita a adequação ao produto, já que o uso é interno e totalmente diferente da colocação e adaptação do tampax. “A minha adaptação durou cerca de dois meses. Tive dificuldade nas primeiras vezes que usei. Cada mulher se adapta com uma dobra diferente. Eu quase desisti até encontrar a melhor dobra e a melhor posição de colocar. Quando colocado de maneira errada, ele ficava desconfortável e tinha vazamentos”.

Hoje, depois de seis meses de uso, Júlia se diz “100% satisfeita” com o coletor e que de maneira alguma voltaria a usar os absorventes normais. “É fácil explicar a satisfação com o coletor: é muito prático. Consigo ficar de 10 a 12 horas com ele. Para mim, é muito higiênico, pois não cria aquele odor desconfortável da menstruação que acontecia com o uso do absorvente. Era uma coisa que me incomodava muito”, destaca Júlia. “E ele acaba se tornando econômico, pois não compro mais absorventes todo o mês”, conclui.

A mesma satisfação se vê na experiência de Nicole Pinheiro, estudante de 29 anos, que usa o coletor há mais de um ano. Para ela, um fator positivo é que o método evita os resíduos da menstruação. “A minha maior motivação para fazer essa transição foi, sem dúvida, a questão ecológica que vem sendo vendida. Eu sou uma pessoa extremamente preocupada com isso”, conta.

Nicole lembra, também, das facilidades que se abriram para ela depois de começar a usar o coletor: “Eu faço academia e artes marciais. Quando eu estava nos dias da menstruação, dificilmente fazia essas atividades, por medo de vazamentos. Agora, eu uso o coletor e faço tudo sem medo de ser feliz”.

(Fonte: Blogspot: https://goo.gl/Ergx9V)

Como no relato da Júlia, conseguir se adaptar ao modo de colocar o coletor, nos primeiros dias, não foi fácil para Nicole. Ela conta que, às vezes, precisa tirá-lo e recolocá-lo umas três ou quatro vezes até acertar o jeito com que o coletor se molde ao canal vaginal. Porém, esses detalhes não diminuem seu apreço à alternativa e são, segundo ela, “um grão de areia no deserto” se comparado com os fatores positivos do uso.

Hoje no mercado brasileiro, existe a opção do coletor em látex e também, uma novidade mais recente, são as calcinhas coletoras de menstruação, que mesmo sendo mais novas, já estão fazendo sucesso entre as mulheres.

Calcinhas menstruais

A Herself é uma marca de calcinhas localizada em Porto Alegre e tem como empreendedoras as quatro amigas Raíssa Kist, Camila Kist, Francieli Bittencourt e Nicole Zagonel, ambas estudantes dos cursos de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

“Acreditamos que a proposta de revolucionar os ciclos das mulheres, trazendo um produto confortável e seguro só faz realmente sentido se incorporamos os conceitos de um desenvolvimento sustentável em todos os elos da cadeia da Herself”, afirma Camila, citando que as calcinhas representam redução de mais de 500 absorventes descartados na natureza.

Camila conta que elas procuraram parcerias daqui para ajudar a economia local e diminuir ao máximo o impacto ambiental gerado por toda a cadeia logística de produção. “Então, temos aí um princípio irrevogável da Herself: as calcinhas e biquínis são 100% brasileiros, com tecnologia, desenvolvimento, tecidos e todas as matérias-primas e produção, nacionais e pertinhos da nossa localização”, destaca.

A marca Pantys é outra fabricante brasileira de calcinhas, mas com matriz em São Paulo. A assessora de imprensa da marca, Nahuara Paola de Moraes Alves, afirma que o sucesso das calcinhas absorventes nos Estados Unidos foi motivo para considerar que o produto poderia ser uma “ótima opção para revolucionar o mercado brasileiro e se tornar a primeira marca de calcinhas absorventes no Brasil”, afirma Nahuara.

“Nosso objetivo é fazer com que as mulheres possam tratar a menstruação de forma mais leve. Recebemos muitas mensagens com depoimentos de nossas clientes dizendo que “esquecem que estão menstruadas quando usam a Pantys”. De acordo com ela, acompanhar essa mudança da mulher em relação ao próprio corpo durante a menstruação é algo muito gratificante.

O impacto ambiental dos métodos laváveis e reutilizáveis é outro ponto destacado por Nahuara. “Ao utilizar a Pantys, você também estará ajudando o planeta, já que ela tem uma durabilidade de aproximadamente dois anos, diminuindo o impacto ambiental ao poupar cerca de 500 absorventes descartáveis no lixo por ano”, conclui.

O contraponto do especialista

A engenheira ambiental Amanda Gonçalves Kieling explicou que mesmo tendo todo um apelo ecológico correto, precisamos no ater a má distribuição dessa “sujeira”, pois o esgoto brasileiro não tem tratamento adequado para esse tipo de resíduo.

“O lado positivo de usar as calcinhas ou coletores é que a geração de resíduos é reduzida. No entanto, a calcinha e coletores exige um processo de lavagem adequado, isso quer dizer que a água suja deve ser descartada em um lugar próprio. Isto acaba gerando efluente que, na maioria das vezes, não é tratado” explica.

Amanda destaca, também, a possível liberação de partículas do material de fabricação das calcinhas e coletores. Afirma também que para saber realmente qual uso seria melhor, deveria ser feito um estudo mais especializado, quantificado e qualificado de caso a caso, assim teríamos números reais para expor e defender um determinado uso.

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