CRÍTICA: Um comediante incompreendido e um palhaço caótico
“Coringa” narra a história do anti-herói mais icônico das HQs e traz fortes críticas sobre justiça e desigualdade social
Não é a primeira vez que o arqui-inimigo de Batman sai dos quadrinhos e parte para o cinema. Esta é a quinta versão do supervilão nas telas, personagem criado pela DC Comics, editora norte-americana, na década de 40. Apesar de suas características já conhecidas e performances cinematográficas, Coringa (2019) chegou às bilheterias na última quinta-feira, 3, mostrando que é possível apreciá-lo sem cair em comparações.
O filme é produzido pela Warner Bros., produtora estadunidense, e conta com o texto do roteirista e diretor de cinema norte-americano Todd Phillips, vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia com a trilogia Se beber, não case (2010). Desta vez, Phillips encara o desafio de trabalhar com um texto mais dramático, mas nem por isso deixa para trás o senso de humor. Até mesmo nas cenas mais sensíveis o longa consegue arrancar risos do público.
A trama narra a história de Arthur Fleck — o Coringa, que foi interpretado pelo renomado ator e produtor Joaquin Phoenix. Fleck é morador de Gotham City, trabalha como palhaço para uma agência de talentos e sonha ser comediante. Nas primeiras cenas do longa, é possível vislumbrar a cidade injusta e perigosa em que ele vive. Em poucos minutos de filme, podemos ver o protagonista ser roubado, espancado e humilhado por adolescentes da vizinhança.
“Vim para trazer alegria e riso para esse mundo sombrio e frio”
Na trama, Arthur Fleck, o “Feliz", como é chamado pela mãe, Penny (Frances Conroy), sofre de problemas mentais e, por isso, precisa de acompanhamento psicológico. Em uma das primeiras conversas que vemos entre ele e uma agente social, Fleck faz uma indagação que demonstra o seu descontentamento com a vida que leva: “É impressão minha ou o mundo está ficando mais doido?”.
Além disso, Arthur possui uma espécie de “tique” que o faz rir descontroladamente em situações de nervosismo. A risada, que é um dos pontos mais característicos do vilão, foi incorporada de maneira brilhante e sombria pelo ator Phoenix.
Esses e outros trejeitos são incompreendidos pelas pessoas que o conhecem, assim como o humor melancólico e as piadas contadas em sua primeira apresentação em um bar de stand-up comedy da cidade. Após ser demitido do trabalho como palhaço e encorajado pela mãe, Fleck vai em busca de um sonho antigo e tenta se inserir no ramo da comédia. Mas, sem sucesso. A apresentação dele é transmitida em rede nacional durante o seu programa favorito. No entanto, o que era para ser a realização de um sonho virou um pesadelo: o palhaço é zombado por seu grande ídolo, o apresentador Murray Franklin, vivido por Robert De Niro.
Aos poucos, o filme mostra Arthur sofrendo humilhações e sendo rejeitado por quem ele mais ama e admira. Quando se dá conta de que o seu legado — e o seu trabalho — já não é mais trazer alegria às pessoas, Fleck assume um caráter perturbador e intimidador, espalhando o caos por onde passa. E é aí que percebemos a soma dos motivos que o levaram à grande reviravolta: a transformação no perigoso e caótico vilão de Gotham City.
Não há como contrariar que o Coringa de 2019 é diferente dos outros, e em várias perspectivas. A atuação impecável de Phoenix não se assemelha à interpretação de nenhum dos anti-heróis anteriores. A insanidade do personagem é transmitida no olhar, no riso, no comportamento e, até mesmo, nas danças performadas pelo vilão.
O longa já tem quebrado recordes de bilheteria. Somente na pré-exibição, o drama arrecadou mais de US$ 13 milhões. Quem for aos cinemas para assistir Coringa vai encontrar uma narrativa instigante e uma interpretação muito além do que se espera ver em filmes de histórias em quadrinhos e super-heróis.
Assista ao trailer legendado:
