CRÍTICA: Minissérie debate racismo e injustiças sociais
“Olhos que condenam” conta caso real de cinco jovens americanos acusados injustamente de estupro e assassinato
Olhos que condenam é uma produção original Netflix, roteirizada e dirigida por Ava DuVernay, capaz de despertar revolta em apenas quatro episódios. A história começa em 1989, quando quatro adolescentes negros e um latino, do bairro do Harlem, em Nova Iorque, são presos e condenados sob a falsa acusação de estupro de uma mulher no Central Park.
Na noite de 19 de abril, quatro dos cinco adolescentes foram ao Central Park para uma “farra” costumeira entre eles. Coincidentemente, Patricia Meili, 28 anos, foi estuprada e brutalmente morta no mesmo local, na mesma noite. A partir disso, a polícia da cidade começou uma varredura no parque para encontrar o culpado. Foi então que Antron, Raymond, Yuseff, Kevin e Korey Wise, que tinham entre 14 e 16 anos, foram encontrados no parque e levados à delegacia como supostos culpados.
Para tranquilizar a população, a polícia de Nova Iorque força que os jovens confessem o crime. Também é nesse ponto em que o sentimento de impotência contra a injustiça invade os telespectadores. A promotora de justiça Linda McCray, mesmo sem indícios e provas, passa a afirmar que os adolescentes, chamados por ela de “animais”, são os culpados.
Raiva, dor e revolta são os sentimentos presentes durante o interrogatório. Na ocasião, os jovens são coagidos e submetidos a abusos físicos e morais sem a presença dos pais ou de advogados. Obrigados a atuarem como culpados e darem detalhes do crime, chegando a gravar e assinar confissões, os adolescentes recebiam promessas de que seriam liberados.
O caso acaba se tornando um show midiático, que só se preocupava em mostrar um lado da história. Entre cenas produzidas pela empresa de streaming e cenas reais, podemos ver inclusive, imagens de Donald Trump, que gastou milhares de dólares com anúncios pedindo a volta da pena de morte.
É aí que o nome original When They See Us, em tradução livre Quando eles nos veem, começa a fazer mais sentido, e entendemos como o racismo estrutural é a motivação durante todo o processo de investigação e condenação. Quando o período do julgamento acaba, a narrativa muda para o período em que quatro dos cinco adolescentes estiveram presos, estendo-se até o momento em que deixam a prisão e recomeçam a vida.
Korey Wise ganha um capítulo solo, que talvez seja o mais forte de toda a produção. O jovem, que foi apenas acompanhar o amigo Yuseff até a delegacia, era o único que possuía 16 anos, maioridade penal nos Estados Unidos, e que cumpriu toda a pena em uma cadeia regular. Neste episódio, vemos também o desdobramento do caso até a reabertura, em 2002, quando o verdadeiro culpado, Matias Reyes, confessou o crime.
A história é forte, e a diretora não precisa recorrer à utilização de recursos apelativos. Somente uma ótima fotografia e trilha sonora são necessárias para compor a trama. É uma produção dura, mas extremamente importante para entender o sistema carcerário e perceber que, infelizmente, a cor da pele é um indicativo mais importante do que provas concretas.
Assista ao trailer:
A Netflix realizou um especial apresentado por Oprah Winfrey, que recebeu “os cinco do Central Park” originais, o elenco que os interpreta e a produção da minissérie para uma emocionante entrevista: