CRÍTICA: Ódio sem barreiras

Como “Rede de Ódio” representa o cenário selvagem e inconsequente de uma sociedade desinformada

Fabrício Santos
Redação Beta
3 min readAug 28, 2020

--

Os olhos vidrados de Maciej encaram tudo ao seu redor e refletem o que não queremos ver. (Foto: Netflix/Divulgação)

Temas que estão cada vez mais presentes em nossas vidas: fake news, discurso de ódio e intolerância política. Esses assuntos são os guias do longa-metragem polonês Rede de Ódio, dirigido por Jan Komasa, que está presente na plataforma de streaming Netflix. O filme é de ficção, porém, trata de uma realidade que muitas pessoas sofrem: o uso da internet para propagar mentiras e ofensas.

O protagonista é o estudante de Direito Tomasz Giemza (Maciej Musiałowski), que apresenta um comportamento estranho. Logo de cara, comete um de seus primeiros crimes, que gera a expulsão dele da universidade. Em momento algum é gerada uma empatia entre público e o protagonista.

A fotografia da obra se caracteriza pela escolha de cores mais escuras. As cenas criam uma atmosfera mais “sombria”. Claro que existem cenas mais expostas, mas chamam a atenção os enquadramentos fechados. Mais do que um passeio no clima polonês, os tons frios medem a temperatura das relações interpessoais das personagens.

Rede de Ódio se vale de diversas formas de comunicação. Existem momentos que são utilizados recursos de jogos no computador, onde Tomasz encontra seu aliado para cometer suas barbáries. Nesses momentos o filme coloca o espectador dentro do jogo.

Em uma virtualização cada vez mais realista, o que se faz no digital se transforma em real. (Foto: Netflix/Divulgação)

A virtualização da narrativa representa um típico comportamento nas redes, onde a tendência de simular uma conduta que é considerada ser melhor aceita acaba impulsionando consequências mais graves na vida real. Assim, Tomasz Giemza age manipulando as redes sociais, espalhando mentiras e acabando com a credibilidade de pessoas.

Os perfis falsos que o protagonista montou para liderar movimentos e passeatas acirrando o discurso de ódio e intolerância, no período eleitoral, podem ser vistos em nossa realidade. As eleições norte-americanas de 2016 foram marcadas por uso da internet para disseminar o ódio e a desinformação. Na eleição brasileira em 2018 não foi diferente. As fake news tiveram um papel de destaque no pleito.

O enredo é excitante para quem gosta de suspense, prende o espectador principalmente por trazer aspectos diferentes e que instigam a pensar no contexto psicológico do protagonista. Aliás, Tomasz evolui durante a trama, principalmente por conseguir driblar tanta coisa e atuar para dois lados diferentes da trama.

Longe de todos os olhares, Tomasz cria suas próprias janelas para ver tudo sobre os outros. (Foto: Netflix/Divulgação)

Porém, em alguns momentos o filme fica confuso, deixando para trás algumas coisas que poderiam ter sido esclarecidas, além de ter um final extremamente recompensador ao protagonista da rede de ódio. Apesar de ser uma ficção, pode passar uma mensagem errada de que certas atitudes são recompensadas.

--

--