CRÍTICA: “Chorão: Marginal Alado” relembra a história de um astro que deixou saudades

Documentário dirigido por Felipe Novaes foi o mais assistido no Brasil em seu final de semana de estreia nas plataformas digitais

Letícia Costa
Redação Beta
4 min readApr 24, 2021

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Intenso, sensível e por vezes vulnerável. Quem conheceu Alexandre Magno Abrão, o Chorão, sabe bem o legado que o artista deixou. Essa foi a marca deixada em Chorão: Marginal Alado, longa de produção independente dirigido por Felipe Novaes, que estreou nas plataformas digitais em abril e chegou a ser o documentário mais assistido no Brasil em seu final de semana de estreia, mantendo-se em primeiro lugar nas plataformas digitais de aluguel ou compra.

A possibilidade de rever lembranças de Chorão ou até mesmo conhecer o outro lado da história de um ídolo que marcou uma geração e embalou muitas histórias agradou e muito.

Capa do documentário “Chorão: Marginal Alado” (Foto: Bravura Cinematográfica/Divulgação)

Chorão: Marginal Alado destaca o amor de Chorão pelo skate e pelo rock n’ roll e o seu forte espírito de liderança que contribuiu para a formação da banda Charlie Brown Jr. (Cbjr). Ao mesmo tempo, o longa também recorda as polêmicas que envolveram o músico, seja com colegas de banda ou com demais artistas da cena, como Marcelo Camelo, da banda Los Hermanos, e João Gordo, dos Ratos de Porão, além do vício em cocaína sustentado por Chorão, que acabou vindo à tona com a overdose que o vitimou em 2013.

A imagem que fica do longa sobre o artista é que, mais do que sensível, Chorão era um homem que se cobrava muito para entregar um trabalho sem erros e que pudesse realmente tocar seus fãs. Qualquer deslize poderia afetar o interior do artista. Ele não aguentou a pressão de uma sociedade que tanto criticava.

O documentário traz, em uma espécie de arquivo confidencial, depoimentos de pessoas que estiveram ao lado de Chorão desde o ápice de sua carreira até os seus últimos dias, com relatos do produtor musical, seguranças, motorista, a esposa Graziela Gonçalves e demais artistas presentes na trajetória do cantor.

A pouca presença de Graziela, que inspirou tantas canções e fez parte da vida de Chorão por mais de 10 anos, deixa a sensação de que faltou algo a mais sobre a história protagonizada pelo casal. História essa que motivou o livro Se Não Eu, Quem Vai Fazer Você Feliz? (2018), escrito por ela, para contar a trajetória de amor dos dois. Grazi poderia ter contribuído ainda mais com narrativas que destacariam a sensibilidade do músico, expondo um lado que Chorão não costumava mostrar nos palcos.

Graziela e Chorão viveram uma história de amor que inspirou até um livro. (Foto: Graziela Gonçalves/Acervo Pessoal)

Imagens de shows antigos reunidas no longa, principalmente de festivais em que Charlie Brown Jr. se apresentou, recordam as frases que o cantor gostava de trazer para as apresentações da banda, que muitas vezes soavam como um desabafo aos fãs. Em momentos assim, Chorão acabava expondo, mesmo que indiretamente, problemas bem pontuais da banda que acabaram indo longe demais, como a separação de artistas da formação original da banda em 2005.

O que nenhuma outra produção vai ter de tão precioso

Elemento importante para a banda e protagonista de uma amizade um tanto conturbada com Chorão, o baixista Champignon (Luiz Carlos Leão Duarte Junior) aparece com alguns depoimentos no documentário. Ele relata episódios marcantes e jamais esquecidos pelos músicos e pelos fãs.

A participação do baixista pode ser considerada o ponto alto do longa, já que provavelmente foi a última aparição dele em produções sobre a banda ou sobre Chorão. Champignon se suicidou dias depois de gravar os depoimentos, em setembro, seis meses depois de Chorão, naquele trágico 2013, que ficará marcado para os fãs dos artistas.

Chorão e Champignon tiveram uma amizade marcada por polêmicas. (Foto: Charlie Brown Jr./Reprodução Facebook)

Chorão: Marginal Alado mostra que as frases proferidas pelo cantor nas apresentações tinham significados capazes de ajudar pessoas, motivando-as com lições preciosas que o artista costumava usar. Um momento muito importante do documentário é uma conversa de Chorão com uma fã, que relata as dificuldades para acompanhar o ídolo e até mesmo comprar CDs da banda.

Há quem diga que o documentário nada mais é do que uma união de memórias de Chorão resgatadas da internet, da mídia e do acervo pessoal da banda, que muita gente já teria tido acesso nesses oito anos de saudade do artista. Mesmo que seja isso, a obra vem como um presente para os fãs que idolatram Alexandre Magno Abrão e que se identificam com a mensagem passada pelo artista em sua carreira.

Com momentos mais positivos do que negativos, o documentário destaca a grandeza de Chorão. Por meio de tantas histórias recordadas por quem esteve ao lado do cantor, o longa de Felipe Novaes traz do início ao fim o que há de mais humano, sensível e vulnerável em um artista “casca grossa” que, com todos os seus vícios e virtudes foi até onde conseguiu suportar, mas que acabou lidando com a pressão de uma forma trágica.

Chorão: Marginal Alado foi eleito o melhor documentário nacional na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2019. O documentário está disponível para compra ou aluguel no Youtube, na Apple TV, Google Play, Vivo Play, Now e Looke.

Trailer oficial de “Chorão: Marginal Alado” (Vídeo: Youtube)

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