CRÍTICA: Elvis e a conturbada vida do Rei do Rock

Felippe Jobim
Redação Beta
Published in
4 min readSep 9, 2022

Extravagância dita a peculiar história do cantor em cinebiografia contada a partir do ponto de vista de seu polêmico empresário

Austin Butler interpreta Elvis Presley. (Foto: Reprodução/IMDB)

Depois dos sucessos de The Dirt, sobre o grupo de metal Mötley Crüe, Bohemian Rhapsody, sobre Freddie Mercury, e Rocketman, sobre o britânico Elton John, chega aos cinemas e ao streaming o filme Elvis, que narra a trajetória do Rei do Rock. A história é contada através do ponto de vista de Tom Parker, empresário do astro. Elvis Presley é um ícone que marcou gerações e que até hoje tem seu nome envolto em lendas urbanas — como a famosa frase “Elvis não morreu” — e por polêmicas, já que seu estilo musical veio diretamente da cultura negra americana.

A semelhança entre Elvis e Bohemian Rhapsody é notada já no início do longa-metragem, tanto pelo estilo da narrativa quanto pela escolha de ângulos de câmera e efeitos visuais, como transições de cena e filtros de imagem. Porém, mesmo com essas semelhanças, Elvis consegue que sua história seja contada de maneira mais coerente do que o longa-metragem sobre Freddie Mercury.

O filme reforça o patamar épico de Elvis Presley. Austin Butler é a principal estrela aqui, não apenas por interpretar o protagonista, mas por incorporar o cantor nos seus mínimos trejeitos. Nas cenas em cima do palco, onde tudo acontece de forma “fácil”, é como se o personagem tivesse nascido para a fama, quase como uma figura mitológica.

A obra propõe desde o início que a vida profissional de Elvis seja contada pelo antagonista Tom Parker (Tom Hanks), o que faz total sentido no contexto narrativo, já que o empresário tenta convencer o público de que é inocente das acusações de ter contribuído na morte do cantor. Porém, não se engane. Apesar da história ser conduzida por Parker, o filme se permite ter uma narrativa que, em determinados momentos, pode até desmentir os relatos do empresário. Esse artifício dá ao filme uma identidade e personalidade únicas.

Tom Hanks vive o controverso empresário Tom Parker. (Foto: Reprodução/IMDB)

Apesar dos méritos da narrativa, o filme peca na falta de humanidade atribuída à Elvis Presley. O roteiro busca isenta-lo de responsabilidade. Sejamos sinceros, todos cometemos erros na vida, e o longa parece dar a impressão de que as escolhas erradas ou precipitadas do artista ocorreram por culpa de seu empresário e, em algumas passagens, por uma suposta ingenuidade de Elvis.

O filme exagera, de forma positiva, na edição. As transições de tela remetem a filmes antigos e a fotografia passa a sensação de estarmos assistindo a uma película produzida nos anos 60 ou 70. Além disso, os letreiros e fontes inserem o espectador diretamente nesta época. Todas essas escolhas de montagem encaixam perfeitamente na persona extravagante do Rei do Rock.

Em alguns momentos, o diretor Baz Luhrmann utiliza a letra de músicas do cantor para ilustrar o conflito que está acontecendo em determinada cena. Entre elas estão Trouble, quando Elvis enfrenta a pressão da mídia sobre sua forma de se apresentar nos palcos, e Suspicious Minds, no instante em que seu empresário está assinando o contrato com o International Hotel, em Las Vegas.

“Elvis” tem uma identidade visual bem definida. (Foto: Reprodução/IMDB)

Polêmicas

Uma das principais discussões em torno de Elvis é o contexto racial em que ele estava inserido. Desde o início da história, é deixado claro que a base musical do cantor veio de artistas negros, devido ao fato de ter crescido em uma comunidade afro-americana. Apesar de não diminuir ou negar o talento do artista, o longa não esconde que sua música só fez sucesso inicialmente por ele ser uma pessoa branca. Inclusive o próprio Elvis Presley afirmava que o verdadeiro “Rei do Rock” não era ele, mas sim Fats Domino, um artista negro e pioneiro do rock que serviu de inspiração não só para Elvis, mas também para os Beatles — declaração essa que está registrada no filme.

A obra não trata Elvis como um herói. Ao contrário, reconhece e reafirma em diversos momentos que sua música vem diretamente da cultura negra, mas não o coloca como um salvador do movimento ou algo do tipo. Inclusive em alguns momentos fica explícito que as punições que o astro recebeu foram muito mais brandas do que deveriam ser, justamente por ser branco.

Da identidade visual e montagem marcantes até as excelentes atuações de Austin Butler e Tom Hanks, Elvis é um grande filme para os fãs do cantor. Não tenta preencher em duas horas e meia toda a vida do artista, mas adapta os acontecimentos e trabalha apenas no que é necessário. E apesar de ser narrado pelo empresário, não esconde que o protagonista do filme é Elvis Presley, respeitando sua história e legado, e apresentando o Rei do Rock de forma memorável nas telas de cinema.

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