CRÍTICA: Garden Music Festival, o paraíso que não é bem um conto de fadas

Apesar da organização defasada, line-up trouxe grandes nomes e salvou reputação do evento

Jordana Fioravanti
Redação Beta
4 min readMar 19, 2022

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Edição de 2022 do festival foi a primeira desde o início da pandemia. (Foto: Divulgação/um37mediahouse).
Edição de 2022 do festival foi a primeira desde o início da pandemia. (Foto: Divulgação/um37mediahouse).

Pode ser que a saudade da festa, que há dois anos não ocorria em função da pandemia de Covid-19, tenha ofuscado alguns aspectos da organização para grande parte do público. No entanto, não foi preciso muita atenção para enxergar algumas falhas e perceber que o slogan “de volta ao paraíso” não traduz exatamente um conto de fadas.

Internacionais e nacionais, figuras carimbadas dos festivais de música eletrônica brasileiros preencheram o line-up de muita qualidade (ainda que pouca inovação), da última edição do Garden Music Festival, que ocorreu nos dias 12 e 13 de março, em Alvorada (RS). Cerca de 27 horas de música salvaram a reputação do evento, que pecou na organização. Para atender às expectativas, no palco principal (mainstage) não poderia faltar Hi Profile, Blastoyz, Astrix, Ranji, Querox, o hypado Blazy e o famoso responsável pela cerimônia oficial: Vegas.

Queima de fogos mais extensa da noite marcou a cerimônia “Garden de volta ao paraíso”, às 5h30min da manhã. (Foto: Divulgação/um37mediahouse).

Para os fãs do ritmo progressive trance, as atrações principais estavam no segundo palco com as festas temáticas Trampstation, Vila dos Sonhos e Back to the Future, que trouxeram nomes como Frogg, Azzura, Trampsta, Camacho, Menumas, Gonzi e Memento Mori. Ao todo, o festival apresentou 34 artistas, dentre eles, apenas uma mulher. Tudo bem se os DJs mais requisitados e famosos são homens, mas, enquanto um line-up de mais de 30 shows de um evento que se baliza na igualdade não garantir espaço para projetos femininos, esse cenário se repetirá.

O segundo palco teve cenografia inédita com projeção mapeada 3D pelo VJ Picles Victor. (Foto: Divulgação/um37mediahouse).

Sobre a estrutura, temos a grande diferença desta para as edições passadas: um novo espaço físico, ainda maior, no Green Park em Alvorada. Havia um escape stage, com cabanas e almofadas, para quem quisesse dar um tempo do agito e música alta. Contudo, a amplitude seria uma vantagem ainda maior se a estrutura acompanhasse proporcionalmente. As tendas, maiores da história do Garden, como dito nas redes sociais oficiais, foram pensadas para um fim de semana de sol e não de chuva, como foi. Quem não tinha capa, se molhou, sem opção. Poucos sanitários e falta de manutenção da limpeza tornaram a utilização nada convidativa. Assim, quem transitava pelas extremidades do parque, poderia facilmente ser surpreendido com a desagradável visão de pessoas urinando ao ar livre. Fica a dica para o próximo: por favor, espalhem banheiros por todo canto!

No Instagram oficial do Garden, público fez comentários sobre a pouca quantidade de sanitários e de banheiros com chuveiro na área vip. (Foto: Divulgação/um37mediahouse).

Só o parágrafo anterior já dá uma ideia de que segurança sanitária não era o forte, né? Entramos em um momento no qual diversas cidades já flexibilizaram o uso das máscaras. Entretanto, nos protocolos de recomendação do evento havia a exigência de máscara de proteção, pedido de distanciamento entre pessoas e apresentação do comprovante de esquema vacinal com pelo menos duas doses. Somente o comprovante foi realmente exigido. Máscara, nem para a passagem nos primeiros portões de entrada. Convenhamos… todo mundo já imaginava que seria assim e que ninguém ficaria pedindo licença para medir distanciamento com o coleguinha do lado, no front (frente do palco). Ainda assim, não deixa de ser hipocrisia em relação ao documento regulamentador da festa.

E não para por aí! Um dos tópicos também era a proibição de qualquer tipo de produto ilícito. Correto. Se a revista era prudente? Não. Abrem mochilas, olham todos os compartimentos. Pirulitos? 10 unidades por pessoa, mas se disser que está com a galera que entrou na frente “pode só tirar da embalagem e deixar solto”. Pochetes, bags, bolsas a tiracolo, nada revistado. Já dentro do espaço, a sensação era de que tudo estava liberado. Curiosamente (ou não), passadas algumas horas de festa, ao menos três ambulâncias já estavam de prontidão.

Eventos como o Garden tem um modus operandi não protocolado que já é conhecido pelos frequentadores. Mas a questão é: até que ponto muito do que acontece lá dentro, além de responsabilidade do próprio cidadão, também poderia ser enquadrado como negligência dos organizadores?

Claro que tudo isso são detalhes que, se corrigidos, poderiam engrandecer o evento, mas não comprometeram o festival, que ainda trouxe referências das edições passadas para construir um ar de nostalgia. Nem a chuva, nem o frio impediram que, como um todo, a festa ocorresse de forma redonda: sem imprevistos e com uma resposta positiva do público e dos artistas que, posteriormente, se manifestaram com agradecimentos nas redes sociais.

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